Bem
sucedido desafio
A
redação de uma biografia, por mais que você conheça da vida do
biografado, é sempre um desafio. Se for uma figura relativamente
desconhecida, dificilmente irá interessar os leitores e é provável
que nem mesmo consiga editora que se arrisque na sua publicação.
Se, pelo contrário, for personagem pública de grande relevância e
projeção, certamente terá concorrência de outros biógrafos.
Neste caso, você, forçosamente, terá que apresentar um algo a mais
para que seu livro não encalhe nas prateleiras.
Outro
risco que se corre é o da divergência de dados. Talvez os que você
apresentar não sejam os corretos. E, mesmo sendo, corre o risco do
público e da crítica acreditarem nos apresentados por um ou mais
dos seus concorrentes, mesmo que ostensivamente equivocados. E os
riscos não são só estes, vão muito além e se multiplicam. Embora
eu admire muitas figuras públicas, algumas das quais institua, até,
como paradigmas de conduta, não me arriscaria a biografá-las. Não
é um gênero que me atraia a escrever (embora aprecie bastante sua
leitura).
Se
biografar determinadas figuras com certa projeção já é um desafio
dos mais indigestos, imaginem o que é relatar a vida de um “pai da
pátria”! Você tem que ser muito bom para correr esse risco e
dar-se bem. Pois foi exatamente isso o que o historiador, na verdade
jornalista, de 62
anos de idade, Ron Chernow, fez.
Mas
ele não escreveu uma biografia qualquer, longe disso. Tratou da vida
e, principalmente da obra de uma personalidade reverenciada por
gerações nos Estados Unidos, tanto que empresta nome à capital do
país, a um Estado, além de denominar um sem número de ruas,
avenidas, praças, universidades, ginásios, estádios etc. e ter a
efígie estampada na moeda norte-americana, o dólar.
O
leitor inteligente certamente matou a charada e adivinhou sobre quem
me refiro. É isso mesmo, Chernow escreveu uma alentada biografia, um
grosso volume de 904 páginas, publicado em 2010, em Londres, sobre
ninguém menos do que “o pai” da única superpotência do
Planeta, um dos responsáveis por sua independência e seu primeiro
presidente. Claro que me refiro a George Washington.
“Ah,
esse livro deve ter encalhado”, certamente terá previsto aquele
sujeito pessimista e um tanto afoito em suas conclusões. Está
enganado. A biografia de Ron Chernow foi
um dos best-sellers da temporada. Seu título é o mais simples e
direto possível: “Washington: a life”. E essa alentada obra
biográfica foi além da façanha de esgotar edições, o que já não
é pouca coisa. Valeu, ao arrojado autor, o maior prêmio dos Estados
Unidos e um dos maiores do mundo: o Pulitzer referente a 2011. Foi o
grande premiado na categoria “Biografia”.
O
curioso é que biografar personalidades políticas nem mesmo é sua
especialidade. É certo que já biografou muita gente importante, mas
todas do mundo da economia e das finanças. Ron Chernow é
especialista em bancos, principalmente das grandes casas bancárias
do início do século XX. Não é um escritor inédito no Brasil.
Publicou, em nosso país, uma obra ousada já a partir do título: “A
morte dos banqueiros”, lançada pela Editora Makron Books. Ousadia,
portanto, é sua característica.
Pois
é, essa peculiaridade, quando aliada à criatividade e, sobretudo, à
competência, vez em quando resulta no que resultou: num Pulitzer e,
portanto, na definitiva consagração do autor. Esta poderia vir até
antes, porquanto esse jornalista econômico, mas formado em
Literatura pela prestigiosa Universidade de Yale, já ostenta vasto
currículo de êxitos editoriais.
Poderia
ser premiado, por exemplo, pela biografia de “Alexander Hamilton”.
Esse foi um livro que vendeu bastante e teve calorosa recepção da
crítica. Ou o prêmio poderia ter vindo pela publicação de “A
casa de Morgan”. Ou, então, pelo meticuloso “Titã: a vida de
John D. Rockefeller Senior”. Afinal, essas obras citadas não
tiveram a mesma concorrência que a biografia justamente da figura
histórica mais reverenciada (e mais biografada) dos Estados Unidos:
George Washington. É muita coragem. E mais: é muita competência.
Não
tenho dúvidas que o livro premiado fará, no Brasil, em breve (se ou
quando, for traduzido para o português e lançado por aqui), o mesmo
sucesso que vem fazendo nos Estados Unidos. George Washington, filho
de uma família de latifundiários da Virgínia, nasceu em 22 de
fevereiro de 1732. Comandou as melhores e mais bem treinadas tropas
norte-americanas numa guerra iniciada em 1775, que durou seis anos e
terminou apenas cinco anos após a independência da ex-colônia da
Inglaterra já ter sido proclamada.
Washington
impulsionou a Convenção Constitucional da Filadélfia, de 1787, que
resultou, dois anos após, na atual Constituição dos Estados
Unidos. Tão logo ela foi ratificada, o Colégio Eleitoral reuniu-se
e elegeu-o, por unanimidade, como o primeiro presidente do novo país.
Exerceu dois mandatos e só não obteve um terceiro, porque não
quis. Morreu em 14 de dezembro de 1799 em consequência
de uma infecção na garganta. É evidente que o livro de
Ron Chernow foi além,
muitíssimo além destes fatos básicos, em suas 904 páginas de
texto. Haja fôlego! Por isso, tudo indica (e é a convicção que me
fica), que o Pulitzer de Biografia de 2011 ficou em mãos apropriadas
e... competentíssimas.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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