Brasil
em transe e o desmonte
generalizado, duas constatações
*
Por
Bruno Lima Rocha
Às
vésperas do sete de setembro de 2018 houve um atentado contra Jair
Messias Bolsonaro, candidato do PSL, deputado federal no sétimo
mandato e aquele que encarna a “grande esperança branca” da Casa
Grande do país governado por um baronato rentista e seus aliados
dentro e fora de nossas fronteiras. Desde então abundam teorias
especulativas e uma evidência: tal fato tem relação total com o
contexto vivido pelo Brasil desde o início do terceiro turno de
2014.
Lado
a lado com a violência simbólica dos discursos de ódio,
galvanizados pelo atingido em Juiz de Fora (MG), temos a negação do
direito ao reconhecimento e, concomitantemente, a perda progressiva
dos direitos coletivos que vinham num crescendo desde 1932 e se
consolidaram como política pública permanente na Constituição de
1988. Trata-se de restauração burguesa e liquidação da soberania
popular e, por tabela, a soberania nacional.
O
fim da proteção ao mundo do trabalho é o velório
da Nova
República?
Vale
alguma reflexão. O STF autorizara a terceirização para atividades
fim em todas as empresas. Ou seja, entendo que eu na maioria das
Pessoas Jurídicas, a classe trabalhadora do Brasil está diante de
uma “Pejotização” galopante. Óbvio que a direita afirma que
isso é "da nova economia", ou que "a terceirização
já existe, logo é preciso autorizar ou regular". Me recorda o
debate sobre transgênicos, que acabou sendo liberada a circulação
de sementes assim no primeiro governo Lula utilizando um pouco da
política do fato consumado. "As sementes vêm de contrabando da
Argentina e assim fica impossível ilegalizar todo um setor e
blablabla e cumpra-se". Não custa lembrar. Sementes não são
animados com mobilidade própria, logo, foram trazidas e o
contrabando - a prática centenária de chibeiros - seria bastante
controlável nas barrancas do rio Uruguai. Enfim, tal como o fato
consumado das sementes, o mesmo se dá com a desagregação social
que avança no país.
Em
parte, essa é a dimensão substantiva do golpe em andamento e agora,
especificamente, rastejando pelas sarjetas da pior política
possível. Era esperado e os discursos literalmente se repetem em
toda América Latina. Durante o auge dos escândalos do governo
Priista de Enrique Peña Nieto, no México, "colonistas de
economia" repetiam a ladainha de que o salário mínimo (ou
seja, o salário social) é uma "ilusão econômica", pois
"primeiro é preciso fazer o bolo crescer para depois
dividi-lo". A ladainha perfeitamente falsificável era a mesma.
Não exagero, as analogias eram idênticas do guru da modernização
conservadora da ditadura, agora travestido de parlamentarista,
Antônio Delfim Netto.
Uma
observação vinda do nosso campo, pode afirmar que sempre houve
desagregação social no período republicano, "desde que o povo
bestializado assistiu a tal proclamação". Não há contestação
possível desta afirmação. A "tal da república" nunca
foi inclusiva e incorporou um governo nacional com reconhecimento
para os trabalhadores urbanos somente no varguismo, isso após
completarem o trabalho sujo de Arthur Bernardes e Washington Luís,
dizimando a liderança sindical de orientação anarquista no Brasil.
Em termos de maioria afro-brasileira, a repressão sempre se fez
presente, e se faz, na distribuição espacial da mesma, cortando na
ausência de direitos civis e sociais da maior parte de nossa
população.
Logo,
se nada disso é "novidade" (infelizmente), quais as
características prevalentes de nosso momento histórico? Ou, falando
em termos mais diretos, como liquidaram com a Nova República e quais
suas consequências?!
Que
tipo de crise é essa? Quando os setores não se
protegem do
entreguismo visceral
Sabemos
a dificuldade de qualquer tipo de tabelamento de preços ter algum
fôlego; o próprio Plano Cruzado e o congelamento de preços básicos
levou a um aumento da sonegação e do crime contra a economia
popular. Mas, isso é diferente de afirmar em termos de "modelo"
que as "regras da economia" - ou seja, da balela
neoclássica - vai ajeitar o excesso de oferta pelo crédito do BNDES
durante o período lulista diretamente implicado no consequente
aumento da frota de caminhões. Resumindo: ou o setor de transporte
de carga tem alguma forma de proteção para os caminhoneiros
autônomos, ou cerca de 500 mil caminhoneiros - e pelas contas, dois
milhões de pessoas - serão atingidos. As empresas de agroindústria
que têm crédito agrícola vão se defender do jeito que dá,
incluindo o protelamento da execução de suas dívidas e quem vive
no trecho vai engrossar o desemprego nas cidades.
Como
pano de fundo, o que a laia quer fazer crer ao povo brasileiro? Que
devemos quebrar o monopólio fático da Petrobrás, pois esta foi
quebrada em função da “artificialidade” dos preços praticados
anteriormente e também pelo modelo de partilha do Pré-Sal. Sobre a
perda de causa e o seguido acordo com a Justiça dos EUA na defesa
dos especuladores aglutinados como acionistas minoritários, óbvio
que os “consultores” não dizem. Logo, a “solução”
apresentada é liberar a importação de diesel, gasolina e demais
derivados por todas as transnacionais do setor de óleo e gás. E,
também para a obviedade, a cambada nunca diz que existem 16 traders
mundiais forçando os contratos futuros e incidindo diretamente na
cotação do barril Brent. Logo, desejam expor ainda mais a sociedade
brasileira às oscilações forçosas dos especuladores. Como se
chama isso em português? Em castelhano os países Hermanos denominam
“vende pátria”. Concordo com o conceito.
08
de setembro de 2018
*
Professor
de relações internacionais e de ciência política.
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