Inesquecível experiência de
um spa
* Por Aliene Coutinho
Isabel
arrumou as malas. Pouca coisa. Era só uma semana num spa. Roupas
para malhar, biquíni, pijama, agasalho. Rosa e Ana iam pegá-la em
casa. Ela nem precisava emagrecer, mas estava animada por ficar
alguns dias com as amigas e longe de tudo. Foi, cheia de gás. No
carro, as três antecipavam o que estava por vir. No mínimo ia ser
divertido.
De
cara, gostaram do lugar. Cheio de árvores, instalações luxuosas,
quartos bem mobiliados para duas pessoas, no sorteio, acabou sozinha.
Tudo bem estavam lado a lado e por que não ficar sozinha? Tudo
parecia seguro, tranqüilo. Chegaram no fim da tarde, fizeram o
check-in e logo em seguida foram chamadas para um chá de recepção.
Tudo light. As regras foram ditas, entre elas, horário de acordar e
das atividades, e nada de comida escondida nas malas. De casa, só
roupas e no máximo cigarros. Beleza!
Às
sete da manhã bateram em sua porta, uma mensagem de estímulo jogada
embaixo da porta e a ordem para estar no refeitório em meia hora.
Hora do café! Na mesa, as três entreolharam-se: nada de pão,
queijo branco, frutas, só um copo pequeno com suco puro de limão.
Todo mundo tomou sem reclamar. Depois, outra ordem: trocar de roupa
para uma caminhada de quatro quilômetros. Deve ser assim, mesmo, faz
parte do regime. Imaginaram.
Na
volta, podres de cansadas e de sede, viram na porta do refeitório
uma mesa repleta de sucos das mais diferentes frutas. Agora sim, deve
ser o café da manhã. E mais uma vez ficaram na vontade. Era só
isso mesmo. E só podia repetir o suco de melancia. Cada uma tomou
seu copo e quando pensavam que iam ter uma pequena trégua, lá
vieram os monitores chamarem para hidroginástica com direito a tomar
banho de lama medicinal depois. Chiquérrimo!
Hora
do almoço. Suco, desta vez com uma opção: água de coco. Só isso.
Duas horas de repouso até a sessão de massagem, em seguida sauna, e
para fechar o dia mais uma caminhada. No jantar, tão esperado, mais
suco. E na ceia: leite desnatado. Elas tentavam agüentar firme,
assim como todas as mulheres que estavam ali. Gordas, outras nem
tanto, de todas as idades e algumas há quase 15 dias nesse regime de
fome. Tudo em nome da beleza, ou da desintoxicação do dia-a-dia.
No
terceiro dia, no meio de um jogo de buraco no quarto das amigas,
Isabel surtou. Jogou as cartas para cima e começou a gritar que
queria uma picanha com queijo e fritas. Ficou histérica. As amigas
chamaram as enfermeiras. Socorrida, recebeu para controlar a pressão
um prato de tomate com sal. Grande Isabel! A partir daí foi uma
farra. A cada troca de plantão da enfermagem, elas “passavam mal”
para poder mastigar aquela “apetitosa” refeição que servia,
além de tudo, para tapar o oco da barriga que insistia em roncar
cada vez mais assustadoramente.
E
assim, elas chegaram ao fim do tratamento. Magras, esbeltas, com
camisetas e calças frouxas e a certeza: que iam parar no primeiro
restaurante e pedir tudo que houvesse, inclusive sobremesa. Nunca
sentiram tanta falta de uma folha de alface e de um franguinho
grelhado. Na saída, olharam para trás e se despediram para sempre
daquele lugar que foi fechado pela saúde pública meses depois.
*
Jornalista, professora de Telejornalismo do Instituto de Ensino
Superior de Brasília – IESB.
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