sábado, 29 de setembro de 2018

A lua e seu antigo habitante - Arturo Corcuera


A lua e seu antigo habitante



* Por Arturo Corcuera


A lua não é um astro,
a lua não é branca,
a lua não sai pela noite,
a lua não é redonda,
a lua não será habitada,
a lua nada tem a ver com marés
nem com cosmonautas,
a lua é uma flor amarela feita de vapor niquelado,
a lua é o vislumbre inquietante de Narciso desorbitado e louco,
à lua em sua mansidão só falta mesmo o cisne,
nos crepúsculos a lua funde seu metal
para moldar a cauda das sereias,
uma mulher desnuda submersa em um tanque
é a outra cara da lua,
pela cascata sabemos que a lua precipita suas represas,
as bestas engolem a lua nos cochos,
cativa do pânico a lua aceita que os lobos
ali sem a presa em suas escamas,
a lua é o olho do náufrago no tremor
supremo do sobressalto,
os barqueiros decapitam a lua com seus remos,
a lua é a sombra arroxeada do afogado
perseguindo sem sossego os navegantes,
a lua ronda os sonhos,
a lua é o atalho por onde escapam os namorados.


* Daniel Arturo Corcuera Osores foi um poeta peruano. Trabalhos notáveis ​​incluem Noé delirante, Primavera triunfante, As sirenes e as estações, Los Amantes e Puente de los Suspiros. Em 1972 ele representou o Peru na "Bienal de Poesia de Knokke" na Bélgica.





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