A
lua e seu antigo habitante
*
Por Arturo Corcuera
A lua não é um astro,
a
lua não é branca,
a
lua não sai pela noite,
a
lua não é redonda,
a
lua não será habitada,
a
lua nada tem a ver com marés
nem
com cosmonautas,
a
lua é uma flor amarela feita de vapor niquelado,
a
lua é o vislumbre inquietante de Narciso desorbitado e louco,
à
lua em sua mansidão só falta mesmo o cisne,
nos
crepúsculos a lua funde seu metal
para
moldar a cauda das sereias,
uma
mulher desnuda submersa em um tanque
é
a outra cara da lua,
pela
cascata sabemos que a lua precipita suas represas,
as
bestas engolem a lua nos cochos,
cativa
do pânico a lua aceita que os lobos
ali
sem
a presa em suas escamas,
a
lua é o olho do náufrago no tremor
supremo
do sobressalto,
os
barqueiros decapitam a lua com seus remos,
a
lua é a sombra arroxeada do afogado
perseguindo
sem sossego os navegantes,
a
lua ronda os sonhos,
a
lua é o atalho por onde escapam os namorados.
*
Daniel
Arturo Corcuera Osores foi um poeta peruano. Trabalhos notáveis
incluem Noé delirante, Primavera triunfante, As sirenes e as
estações, Los Amantes e Puente de los Suspiros. Em 1972 ele
representou o Peru na "Bienal de Poesia de Knokke" na
Bélgica.
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