Íntimos e estranhos
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Por Eduardo Oliveira freire
"Como
são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem”. - Millor Fernandes.
Coisa
estranha isso, né? Não conhecer as pessoas. Pior que, às vezes,
nem eu sei quem sou. Como já ouvi dizer, todos nós somos atores e
escolhemos o melhor de nós para mostrar.
Eu
não tenho nada de excepcional. Saí da casa dos meus pais com
quarenta anos. Fui motivo de piada por ter saído tarde. Porém,
morar com eles era tão cômodo...
Perguntaram-me
uma vez o que me levou a sair da casa deles. Embromava, porque não
queria pensar muito nisso. Era um assunto estranho e desejava
empurrar para as profundezas de mim.
Tudo
começou com uma lembrança antiga, de quando tinha uns três anos.
Estava com meus pais numa praia deserta. Minha mãe me distraía,
enquanto meu pai carregava algo pesado. Recordo-me que, mesmo
brincando com minha mãe, eu sentia um desconforto. Para onde o papai
ia com aquele peso e por que pegou uma pá depois? Minha mãe ria
nervosa para mim e me chamava atenção para o castelo de areia que
fazia. Eu estava feliz, entretanto, algo não fazia sentido.
A
maré subiu e o castelo se desmanchou. Chorei, meu pai me pegou no
colo e fomos embora. O silêncio entre eles era sufocante. Depois, os
dias correram e me entretive com outras coisas. Até então, tive uma
vida muito boa, mas algo aconteceu dali pra diante.
Ao
chegar a minha casa, meus pais estavam absortos pela televisão.
Olhei
e exibia uma reportagem sobre um corpo encontrado numa praia havia
muitos anos. Eles perceberam minha presença e me olharam friamente.
Fui dormir e, intuitivamente, tranquei a porta do quarto. Semanas
depois, já morava em outro lugar.
Meus
pais resolveram fazer uma viagem e disseram que ficariam fora por
muito tempo. Não sei onde estão. A única conclusão a que chego é
que nunca conheci meus pais, realmente. Só me mostravam o que lhes
convinha”.
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Formado
em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense.
Pós-Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é
aspirante
a escritor.
Suspense total.
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