Menina de cachos
*
Por Núbia Araújo Nonato do Amaral
Ela seguia pelo mesmo caminho
todos os dias. Os cabelos penteados impecavelmente caiam em cachos
pelas suas costas, o vestido era novo e um pirulito na boca. Não
fazia o trajeto sozinha, seu irmão e fiel escudeiro a acompanhava
religiosamente.
Um moço, de rosto pálido e
olhos pequenos, acompanhava seus passos, dia a dia, criteriosamente.
Espiava-a pelas frestas do muro. Mas, ainda não era o momento,
contentava-se em se masturbar pensando nela. Toda vez que a via tinha
sempre o mesmo pesadelo, mas só conseguia se lembrar de seus olhos
arregalados e da pedra grande.
Outros dias se passaram. Hoje
ela está diferente, os cachos estão escondidos embaixo do capuz,
mas seu rosto de anjo brilha na chuva. O irmão se exalta numa
discussão no celular, pede que ela o espere enquanto termina o
assunto no telefone.
Ele não teria outra
oportunidade, aproveitando-se da sua distração, puxa-a para dentro
do terreno e com a mão em sua boca, implora para que não grite. Sem
ação, ela fica apática sem nada entender. O moço treme de emoção
antegozando seus momentos de prazer.
Com o coração na boca,
estimula seu sexo, e a deita no chão, abrindo-lhe as pernas. No afã
de sua luxúria doentia, nem percebeu que havia sido seguido por um
grupo de pessoas. Desesperado, viu o objeto do seu desejo ser levado
embora, enquanto suas mãos e pés eram amarrados. Do outro lado do
muro, no colo do irmão, a menina de cachos adormecia, nem ouviu o
baque surdo da pedra.
*
Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário
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