Barba,
pra que (não) te quero
*
Por Marcelo Sguassábia
O
Paulo Coelho sem cavanhaque, o Roberto Carlos de barba, o Sigmund
Freud imberbe e com rosto de bumbum de neném. De adorno facultativo,
a barba (ou a sua falta) não tem nada: ela compõe a personalidade
de maneira marcante.
Mas
dá trabalho. E difícil é saber o que é mais cansativo – manter
o rosto liso ou a barba no esquadro e na altura desejada. Felizmente,
soluções redentoras estão chegando ao mercado.
Uma
delas é um preparado que entope os folículos pilosos, impedindo o
crescimento de pelos. O processo é irreversível. Nunca mais o
sujeito que fizer essa laqueadura capilar verá nascer uma penugem
que seja no seu rosto. Tudo muito prático, rápido e definitivo,
poupando preciosos minutos diários aos não-lenhadores.
Já
o tônico batizado de “Parejá” no nordeste, e exportado como
“StopNow” para 19 países, promete efeito ainda mais
revolucionário. Uma vez aparada a barba na altura e com os contornos
bem definidos, o camarada besunta a fórmula no rosto como se fosse
uma loção. Pronto. O que está ali assim ficará até o final dos
tempos, sem branquear nem exigir tosa futura. Foram décadas de
pesquisas com caucasianos, afrodescendentes e asiáticos, de barbas
espessas e ralas, em tons brancos, grisalhos, castanhos ou amarelados
pela velhice. O resultado foi o mesmo – independente de etnia,
dieta alimentar, dosagem hormonal ou herança genética.
Comprovadamente, a barba ficava para sempre ao gosto do freguês.
Como
não poderia deixar de ser, os dois tônicos milagrosos foram
comprados e patenteados por poderoso grupo multinacional. O fato
inusitado, nessa história toda, é que parte dos acionistas da
empresa estuda com carinho a possibilidade de retirar do mercado as
duas minas de ouro. Isso porque há uma proposta trilionária,
oferecida pela Gillete, que literalmente irá cortar pela raíz o
sucesso crescente dos produtos, dando sumiço nas duas fórmulas.
*
Marcelo
Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Barba, pra que te quero?
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