sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Sereia - Eduardo Oliveira Freire


Sereia

* Por Eduardo Oliveira Freire

Aí está ele, o mar, o mais ininteligível das existências não humanas. E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fez um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos. Ela e o mar".

Sempre desconfiei que minha mãe fosse uma sereia. Passava horas a olhar uma foto de mar e ler uma crônica de Clarice Lispector:  As águas do mar. Morávamos numa cidade que não tinha praia.

Quando chorava, ela lambia minhas lágrimas e dizia que tinha gosto do mar.

Um dia, viajamos para conhecê-lo. Ela desapareceu nas profundezas. 

Em sonhos, vejo-a a flutuar no fundo do oceano e seu olhar me diz que está bem.


* Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense. Pós-Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor.




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