Construtores anônimos
* Por Pedro J. Bondaczuk
Os verdadeiros construtores das grandes obras, muitas das quais permanecem intactas milênios após serem construídas, desafiando o tempo e o desgaste natural que este provoca, sempre foram, via de regra, anônimos. A maioria foi mão-de-obra escrava. Fez o que fez por não ter liberdade de não fazer. Isso, no aspecto material.
No moral, na criação de valores, que deram ordem e sentido às comunidades, não importa se aos clãs primitivos, ou às aldeias, cidades e metrópoles, isso também se verificou, embora um ou outro desses eminentes pensadores tenham marcado seus nomes na história e saibamos de quem se tratava.
Costumo perguntar, amiúde, em tom desafio aos leitores: quem foi o primeiro homem que descobriu como gerar o fogo? Ninguém sabe. Todavia, tratou-se de descoberta fundamental, absolutamente revolucionária nos primórdios da humanidade. E quem inventou a roda? É desnecessário destacar o que essa invenção proporcionou em termos de facilidades e, portanto de progresso. Todavia, ninguém sabe quem foi o autor da façanha.
No que diz respeito às grandes obras materiais, a história registra quem foi que decidiu que fossem erigidas. De uma ou outra (raríssimas), conhecem-se os autores dos projetos. Mas dos operários que as construíram... Nada... A história não traz a menor referência sobre quem foram, como eram, de que forma viviam, do que gostavam etc. Contudo, sem a força dos seus músculos, nenhuma delas sairia sequer do plano da idealização, quando não da mera fantasia.
Veja-se, por exemplo, o caso da Muralha da China. Diz-se que é a única obra humana que pode ser vista do espaço, da Lua. Não posso garantir que seja verdade, pois o máximo de altura que já atingi foi a obtida por um Boeing (creio que 10 mil metros, ou em torno disso). Admitamos, porém, que seja verdade (também não tenho motivos concretos para duvidar).
Essa obra monumental, que causa assombro em qualquer um, inclusive nos dias atuais, quando a moderna tecnologia opera verdadeiros milagres, levou cerca de dois milênios para ser concluída e ter o aspecto grandioso que hoje tem. Seu idealizador, ou pelo menos o sujeito que ordenou a sua construção, foi o primeiro imperador chinês, Qin Shihuang, por volta de 220 AC. Mas até a memória desse personagem mítico sofreu e devida erosão do tempo. Tanto que o seu nome é registrado de diversas formas diferentes, como: Qin Shi Huangdi, Chin Che Huang Ti, Shin Huang-Ti, Shi Huangdi, Shin Huang Ti, Shi Huangdi ou Tchi Huang-Ti. Afinal de contas, qual era, mesmo, o seu nome? Ninguém sabe.
A ciclópica obra atingiu, somente, todo o seu esplendor atual cerca de dois mil anos após iniciada, no século XV da nossa era. E desconhece-se quem foi que comandou sua conclusão. Sabe-se, apenas, que foi um imperador da Dinastia Ming. Quanto aos operários que a construíram... Não se conhece um único nome, dos estimados um milhão de trabalhadores que participaram dessa extraordinária empreitada. A história registra que cerca de 250 mil trabalhadores morreram nesse magnífico esforço. Os corpos da maioria foram utilizados como “material de construção” e ficaram sepultados sob toneladas de terra, madeira e pedras. Mas quem foram eles? Como eram? Por que foram escravizados? Ninguém sabe e jamais irá saber.
Para erguer a Muralha da China, foram empregados cerca de trezentos milhões de metros cúbicos de materiais (entre os quais se incluem os restos mortais de cerca de 250 mil trabalhadores). Esse volume, para que o leitor tenha uma idéia, seria suficiente para erguer 120 pirâmides de Quéops. Ou um muro, de dois metros de altura, em torno da linha do equador terrestre. A Muralha da China tem extensão superior a sete mil quilômetros. Todavia, ninguém sabe o nome de sequer um único dos operários que se empenharam na sua construção.
O mesmo acontece com tantas e tantas e tantas obras monumentais. Como as pirâmides do Egito, por exemplo, ou as da América Central. São conhecidos os faraós aos quais serviram de túmulos (ou os reis maias, aztecas ou sejam lá quais povos pré-colombianos que as erigiram no México, Guatemala etc.). Mas a história não registra o nome de um, um único e solitário trabalhador que tornou essas fantasias possíveis.
Essa constatação desfaz, na prática, a crença expressa pelo economista norte-americano (ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Atômica dos EUA e, antes, da Tennesse Valley Authority, a TVA), David E. Lilienthal (não sei se sincera ou meramente retórica), que por algum tempo também foi a minha, mas cuja convicção se vê enfraquecida e começa a se diluir diante da realidade: “Acreditamos no homem não apenas como unidade de produção, mas também como um filho de Deus. Acreditamos que o fim de nossa sociedade não é assegurar primordialmente a 'segurança do Estado', mas salvaguardar a dignidade humana e a liberdade do indivíduo”.
Isso é o que deveria ser? Mas, de fato, é? Não, não e não!!!! É assim que o Estado age? É essa a crença dos que comandam nossos destinos? É dessa forma que os políticos e chefes militares nos encaram? Ou não passamos, para eles, de mera mão-de-obra descartável, de votos para que se elejam, de potente força muscular à disposição das suas fantasias, anônima, sem fisionomia e sem voz? O que você acha (e como, de fato, se sente) meu paciente e fiel leitor?
*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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* Por Pedro J. Bondaczuk
Os verdadeiros construtores das grandes obras, muitas das quais permanecem intactas milênios após serem construídas, desafiando o tempo e o desgaste natural que este provoca, sempre foram, via de regra, anônimos. A maioria foi mão-de-obra escrava. Fez o que fez por não ter liberdade de não fazer. Isso, no aspecto material.
No moral, na criação de valores, que deram ordem e sentido às comunidades, não importa se aos clãs primitivos, ou às aldeias, cidades e metrópoles, isso também se verificou, embora um ou outro desses eminentes pensadores tenham marcado seus nomes na história e saibamos de quem se tratava.
Costumo perguntar, amiúde, em tom desafio aos leitores: quem foi o primeiro homem que descobriu como gerar o fogo? Ninguém sabe. Todavia, tratou-se de descoberta fundamental, absolutamente revolucionária nos primórdios da humanidade. E quem inventou a roda? É desnecessário destacar o que essa invenção proporcionou em termos de facilidades e, portanto de progresso. Todavia, ninguém sabe quem foi o autor da façanha.
No que diz respeito às grandes obras materiais, a história registra quem foi que decidiu que fossem erigidas. De uma ou outra (raríssimas), conhecem-se os autores dos projetos. Mas dos operários que as construíram... Nada... A história não traz a menor referência sobre quem foram, como eram, de que forma viviam, do que gostavam etc. Contudo, sem a força dos seus músculos, nenhuma delas sairia sequer do plano da idealização, quando não da mera fantasia.
Veja-se, por exemplo, o caso da Muralha da China. Diz-se que é a única obra humana que pode ser vista do espaço, da Lua. Não posso garantir que seja verdade, pois o máximo de altura que já atingi foi a obtida por um Boeing (creio que 10 mil metros, ou em torno disso). Admitamos, porém, que seja verdade (também não tenho motivos concretos para duvidar).
Essa obra monumental, que causa assombro em qualquer um, inclusive nos dias atuais, quando a moderna tecnologia opera verdadeiros milagres, levou cerca de dois milênios para ser concluída e ter o aspecto grandioso que hoje tem. Seu idealizador, ou pelo menos o sujeito que ordenou a sua construção, foi o primeiro imperador chinês, Qin Shihuang, por volta de 220 AC. Mas até a memória desse personagem mítico sofreu e devida erosão do tempo. Tanto que o seu nome é registrado de diversas formas diferentes, como: Qin Shi Huangdi, Chin Che Huang Ti, Shin Huang-Ti, Shi Huangdi, Shin Huang Ti, Shi Huangdi ou Tchi Huang-Ti. Afinal de contas, qual era, mesmo, o seu nome? Ninguém sabe.
A ciclópica obra atingiu, somente, todo o seu esplendor atual cerca de dois mil anos após iniciada, no século XV da nossa era. E desconhece-se quem foi que comandou sua conclusão. Sabe-se, apenas, que foi um imperador da Dinastia Ming. Quanto aos operários que a construíram... Não se conhece um único nome, dos estimados um milhão de trabalhadores que participaram dessa extraordinária empreitada. A história registra que cerca de 250 mil trabalhadores morreram nesse magnífico esforço. Os corpos da maioria foram utilizados como “material de construção” e ficaram sepultados sob toneladas de terra, madeira e pedras. Mas quem foram eles? Como eram? Por que foram escravizados? Ninguém sabe e jamais irá saber.
Para erguer a Muralha da China, foram empregados cerca de trezentos milhões de metros cúbicos de materiais (entre os quais se incluem os restos mortais de cerca de 250 mil trabalhadores). Esse volume, para que o leitor tenha uma idéia, seria suficiente para erguer 120 pirâmides de Quéops. Ou um muro, de dois metros de altura, em torno da linha do equador terrestre. A Muralha da China tem extensão superior a sete mil quilômetros. Todavia, ninguém sabe o nome de sequer um único dos operários que se empenharam na sua construção.
O mesmo acontece com tantas e tantas e tantas obras monumentais. Como as pirâmides do Egito, por exemplo, ou as da América Central. São conhecidos os faraós aos quais serviram de túmulos (ou os reis maias, aztecas ou sejam lá quais povos pré-colombianos que as erigiram no México, Guatemala etc.). Mas a história não registra o nome de um, um único e solitário trabalhador que tornou essas fantasias possíveis.
Essa constatação desfaz, na prática, a crença expressa pelo economista norte-americano (ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Atômica dos EUA e, antes, da Tennesse Valley Authority, a TVA), David E. Lilienthal (não sei se sincera ou meramente retórica), que por algum tempo também foi a minha, mas cuja convicção se vê enfraquecida e começa a se diluir diante da realidade: “Acreditamos no homem não apenas como unidade de produção, mas também como um filho de Deus. Acreditamos que o fim de nossa sociedade não é assegurar primordialmente a 'segurança do Estado', mas salvaguardar a dignidade humana e a liberdade do indivíduo”.
Isso é o que deveria ser? Mas, de fato, é? Não, não e não!!!! É assim que o Estado age? É essa a crença dos que comandam nossos destinos? É dessa forma que os políticos e chefes militares nos encaram? Ou não passamos, para eles, de mera mão-de-obra descartável, de votos para que se elejam, de potente força muscular à disposição das suas fantasias, anônima, sem fisionomia e sem voz? O que você acha (e como, de fato, se sente) meu paciente e fiel leitor?
*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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Presente de Natal
Dê às pessoas que ama e admira o melhor dos presentes neste Natal: presenteie com livros. Dessa forma, você será lembrado não apenas o ano todo, mas por toda a vida.
Com o que presentear:
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"Se nos picarem, não sangraremos?
ResponderExcluirSe nos fizerem cócegas, não rimos?
Se nos envenenarem, não morremos?
E, se nos ultrajarem, não nos vingaremos?
Esse trecho do Mercador de Veneza traduz muito do
que eu penso.
Infelizmente não vejo o Estado assegurando sequer
o direito de ir e vir do cidadão quanto mais a sua
integridade e dignidade.
A sociedade não tem contribuído muito pois está na sua zona de conforto e que na verdade é tão efêmera...sabemos que fronteiras podem ser ultrapassadas.
Quanto a mim, apesar de tudo o que falam quero crer
na mudança, quero meus direitos restabelecidos.
Beijão Pedro.
Eu não tenho força muscular. Apenas intelectual. Quando sou explorada, recebendo remuneração vil pelo meu trabalho, alguém lucra, entre eles os donos dos planos de saúde e o Governo. Sou um pequena peça da engrenagem. Terminar o texto com uma pergunta, Pedro, é uma estratégia para provocar o debate. Espero que os visitantes/leitores se sintam motivados e passem a responder a sua provocação.
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