domingo, 5 de dezembro de 2010


O fotógrafo e a modelo: amor entre olhares


* Por Alexandre Lana Lins

Estava desempregado há seis meses, sua esposa o compreendia, mas estava apreensiva com o pouco dinheiro que tinham. Apaixonados, comemoravam o quinto ano de uma união feliz. Venilson era um fotógrafo respeitado no meio jornalístico. Sempre cobriu grandes reportagens... A queda de Fernando Collor em 1992, o tetracampeonato da Seleção Brasileira. Viu de perto as torres gêmeas dos Estados Unidos caírem no chão. Sim, Venilson estava lá, no momento do ataque. Quantos prêmios ele recebera pelas fotos reveladoras e fortes. Mas, agora, estava desempregado.

Em uma tarde, deitado no sofá, já desiludido, recebeu um telefonema. Uma oportunidade de free-lancer. Três meses de contrato. Mas, um agravante: não era para testemunhar momentos históricos e sim acompanhar o dia a dia de uma modelo famosa. A doce Jucélia. Saiu da pobreza com a beleza da alma e o corpo escultural. Venilson relutou, mas a grana era boa. Conversou com a esposa, ela o convenceu. Seriam três meses de alívio.

Venilson começou o chato trabalho de acompanhar a modelo. Tudo era motivo de um clique! Estava no shopping, o flash iluminava o ambiente. Estava na praia, outro clique. Nas passarelas, outra foto. Jucélia era fotografada o dia todo para alimentar as revistas de fofoca... Até uma foto nua da modelo, Venilson registrou. Sentiu tesão, mas o profissionalismo e o amor à esposa falaram mais alto.

Um mês se passara Venilson e Jucélia já não eram mais estranhos. Mas nunca trocaram uma palavra, nunca conversaram. Ela apenas via uma máquina fotográfica testemunhando os seus passos e ele via a modelo como um trabalho rotineiro e chato. Mas, com o passar dos dias, o olhar dele já não ficava na câmera mais... Nas fotos sensuais, Venilson via o seu olhar se desviando e fixando no olhar da bela modelo. Ela, também, não via a máquina mais... Via olhar dele, a desejando. Quando chegava em casa, Venilson via a sua esposa aguardando-o com um sorriso no rosto e um aconchego. Ele correspondia, mas o seu pensamento estava na modelo.

Um dia, Venilson chegou mais cedo na casa de Jucélia e ela já estava pronta para mais uma rotina de fotos. Em silêncio, os dois permaneceram na sala, enquanto esperavam pelo motorista da modelo. Os olhares se entrelaçavam, um sorriso tímido aparecia no rosto de Jucélia... E Venilson correspondia. Silêncio. E esse silêncio gerou uma crise de riso na modelo. E Venilson também deixou a risada tomar conta do seu corpo. Ela, então, sentou ao seu lado. Venilson ficou apreensivo. Jucélia pegou na mão do fotógrafo e levou até o seu rosto. Venilson deixou... Ela, então, começou a chorar. Naquele dia estava fazendo um ano que perdera o seu grande amor. Um lindo amor que se iniciou na adolescência. Venilson a abraçou e ela correspondeu. Os lábios se aproximaram, mas não houve o beijo. Jucélia não entregaria o seu coração a ninguém e muito menos o seu corpo.

Jucélia se afastou, tirou da bolsa um cheque e fez o último pagamento ao fotógrafo. Não queria mais os serviços dele. Sabia que se continuasse com Venilson, ela trairia o seu grande e eterno amor. Venilson guardou o cheque e sorriu. Usaria aquele dinheiro para comprar um lindo presente para a sua esposa. Era aniversário de casamento...

• Jornalista

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