A Novembrada e a
Abrilada conservadora
* Por Marco Albertim
De conteúdo anti-lusitano, a novembrada também foi uma revolta de militares. Os protestos se davam até contra casamentos entre portugueses e brasileiras. Uma trova famosa, à época, dava conta da queixa contra os consórcios:
Marinheiro pé-de-chumbo
Calcanhar de frigideira
Quem te deu a ousadia
De casar com brasileira
O foco dos protestos eram os altos postos ocupados por portugueses na administração provincial, bem como o monopólio do comércio pelos marinheiros. O movimento estourou em 15 de novembro de 1831. Populares e militares, liderados pelo capitão Antônio Afonso Vieira e pelo segundo-tenente João Machado Magalhães, ocuparam a Fortaleza das Cinco Pontas. As tropas do governo, reduzidas devido às prisões da Setembrada, cercaram os rebeldes. O governador, Francisco Pais de Andrade, dera a ordem e se refugiara na Fortaleza do Brum.
As reivindicações eram: expulsão de funcionários civis e militares que defendiam o absolutismo (restauradores) e dos portugueses solteiros; fim das sociedades estrangeiras; proibição do desembarque de portugueses; desarmamento dos lusitanos; demissão e expulsão do coronel Bento José Lins e do tenente-coronel Lourenço Torres Galindo, capitão-mor do Recife. A Sociedade Federal, encabeçada pelo brigadeiro Francisco de Paula e Vasconcelos, tentou contemporizar com os revoltos; não surtiu efeito. A própria Sociedade era objeto do ódio dos pernambucanos sediciosos. Mesmo acenando com o atendimento de algumas reivindicações, o governo retoma a situação tirando proveito da falta de ofensiva dos rebeldes. O coronel comandante das armas, Francisco Jacinto Pereira, chefiou a reação. A Novembrada durou quatro dias.
A reação mais conservadora estava por vir. A Abrilada deu-se no ano seguinte. Tão restauradores que era formada pelos chamados Colunas – Sociedade Coluna do Trono e do Altar. Exigia a volta do imperador. Seu epicentro foi o Recife e ramificou-se por Vitória de Santo Antão, Bonito, Bezerros e Caruaru. Em meados de abril, à frente o coronel Francisco José Martins e o sargento-mor José Gabriel de Moraes Meyer, foi ocupada a Fortaleza do Brum. Quinze metros de pranchas da ponte entre os bairros do Recife e Santo Antônio foram arrancados, para garantir o isolamento dos restauradores. O povo reagiu de pronto, lembrando-se dos saques e das mortes nas revoltas anteriores.
Pais de Andrade contou com o apoio dos alunos do Curso Jurídico de Olinda, de voluntários e da guarnição da escuna Rio da Prata. Em que pese ser o governador um conservador a seu modo, os pernambucanos foram movidos pela experiência que lhes dera o instinto tático.
Coube ao coronel José Joaquim Coelho chefiar o combate. A Abrilada resistiu por quarenta horas, com pouca iniciativa de luta. Muitos tentaram escapar da prisão atirando-se no rio Capibaribe, buscando abrigo nas embarcações diversas, outros correram na direção do convento da Madre de Deus, mas mortos no caminho.
Torres Galindo, o mesmo que combatera a Novembrada, agia em Vitória de Santo Antão, Bonito, Una e Barra Grande, defendendo a restauração de Pedro I ao trono. Foi cercado e preso pelo regencial Lourenço Bezerra Cavalcanti; e encarcerado por ordem de Pais de Andrade.
* Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
* Por Marco Albertim
De conteúdo anti-lusitano, a novembrada também foi uma revolta de militares. Os protestos se davam até contra casamentos entre portugueses e brasileiras. Uma trova famosa, à época, dava conta da queixa contra os consórcios:
Marinheiro pé-de-chumbo
Calcanhar de frigideira
Quem te deu a ousadia
De casar com brasileira
O foco dos protestos eram os altos postos ocupados por portugueses na administração provincial, bem como o monopólio do comércio pelos marinheiros. O movimento estourou em 15 de novembro de 1831. Populares e militares, liderados pelo capitão Antônio Afonso Vieira e pelo segundo-tenente João Machado Magalhães, ocuparam a Fortaleza das Cinco Pontas. As tropas do governo, reduzidas devido às prisões da Setembrada, cercaram os rebeldes. O governador, Francisco Pais de Andrade, dera a ordem e se refugiara na Fortaleza do Brum.
As reivindicações eram: expulsão de funcionários civis e militares que defendiam o absolutismo (restauradores) e dos portugueses solteiros; fim das sociedades estrangeiras; proibição do desembarque de portugueses; desarmamento dos lusitanos; demissão e expulsão do coronel Bento José Lins e do tenente-coronel Lourenço Torres Galindo, capitão-mor do Recife. A Sociedade Federal, encabeçada pelo brigadeiro Francisco de Paula e Vasconcelos, tentou contemporizar com os revoltos; não surtiu efeito. A própria Sociedade era objeto do ódio dos pernambucanos sediciosos. Mesmo acenando com o atendimento de algumas reivindicações, o governo retoma a situação tirando proveito da falta de ofensiva dos rebeldes. O coronel comandante das armas, Francisco Jacinto Pereira, chefiou a reação. A Novembrada durou quatro dias.
A reação mais conservadora estava por vir. A Abrilada deu-se no ano seguinte. Tão restauradores que era formada pelos chamados Colunas – Sociedade Coluna do Trono e do Altar. Exigia a volta do imperador. Seu epicentro foi o Recife e ramificou-se por Vitória de Santo Antão, Bonito, Bezerros e Caruaru. Em meados de abril, à frente o coronel Francisco José Martins e o sargento-mor José Gabriel de Moraes Meyer, foi ocupada a Fortaleza do Brum. Quinze metros de pranchas da ponte entre os bairros do Recife e Santo Antônio foram arrancados, para garantir o isolamento dos restauradores. O povo reagiu de pronto, lembrando-se dos saques e das mortes nas revoltas anteriores.
Pais de Andrade contou com o apoio dos alunos do Curso Jurídico de Olinda, de voluntários e da guarnição da escuna Rio da Prata. Em que pese ser o governador um conservador a seu modo, os pernambucanos foram movidos pela experiência que lhes dera o instinto tático.
Coube ao coronel José Joaquim Coelho chefiar o combate. A Abrilada resistiu por quarenta horas, com pouca iniciativa de luta. Muitos tentaram escapar da prisão atirando-se no rio Capibaribe, buscando abrigo nas embarcações diversas, outros correram na direção do convento da Madre de Deus, mas mortos no caminho.
Torres Galindo, o mesmo que combatera a Novembrada, agia em Vitória de Santo Antão, Bonito, Una e Barra Grande, defendendo a restauração de Pedro I ao trono. Foi cercado e preso pelo regencial Lourenço Bezerra Cavalcanti; e encarcerado por ordem de Pais de Andrade.
* Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
Marco volta e meia me vejo relendo
ResponderExcluiresses relatos históricos.
Ainda contigo.
Abraços
Olá, Nubia. Grato. Receba meu abraço.
ResponderExcluirMarco Albertim