sexta-feira, 6 de maio de 2011







Na hora do jogo

* Por Rodrigo Ramazzini

Domingo. O relógio marcava 15 horas e 58 minutos. Na sala de estar de casa, Paulão estava com o “circo” montado para assistir seu time do coração jogar a primeira partida válida pela etapa semifinal do campeonato estadual de futebol contra o principal rival. Sentado confortavelmente no sofá vestindo a camisa do clube, ele já havia sintonizada a televisão no canal correto, feito um estoque de cerveja ao lado com projeção de duração para todo o primeiro tempo de jogo, ligado o velho radinho da sorte na rádio preferida. Tudo pronto para mais uma “jornada esportiva”. Foi quando...

- Amor!
- Hã?
- Olha pra mim, por favor?
- Fala que estou escutando...
- Tira os olhos da televisão um minuto e me olha...
- Hã?
- Estou precisando de carinho...
- Depois... Agora vou olhar o jogo...
- De atenção...
- Depois...
- De uns beijinhos...
- Depois... Oh! Começou o jogo... Posso assistir?
- Eu quero agora!
- Depois da partida eu te dou toda a atenção do mundo. Só me deixa assistir o jogo... São duas horinhas... É importante... Depois, tá?
- Não! Que quero agora!
- Justo na hora do jogo?
- Sim!
- Não complica, Jaqueline!Jogo semifinal... Valendo vaga para a final...
- Tu estás me trocando por um jogo de futebol. É isso? Entendi bem, Paulo Rogério?
- Não é isso, meu amor! Não te troco por nada desse mundo. Eu só quero assistir o jogo do meu time em paz... É difícil de entender?
- Muito! Como tu podes me trocar por vinte e tanto homens... Sei lá quantos são...
- Aí meu Deus!
- Na nossa relação, sempre foi assim... Eu sempre no segundo plano...

Quinze minutos depois, a discussão continua...

- Por que tem que ser na hora do jogo, Jaqueline?
- Estou carente agora...
- Tem o restante do dia para eu te dar atenção...
- Sempre tem que ser na hora que tu queres as coisas... Não na hora que eu quero...

Termina o primeiro tempo do jogo...

- Que moral tu tens de cobrar sobre o meu passado, Paulo Rogério? Me diz? Me diz?
- Não estou falando do teu passado, Jaqueline! Estou falando do nosso passado. Que tu não respeitas...
- Eu não respeito?

- Não! Toda a vez eu tenho que evocar que antes de te conhecer eu era até de torcida organizada e não perdia uma partida no estádio...
- Viu como eu te fiz virar gente, Paulo Rogério?
- Não me provoca!

Vinte e dois minutos do segundo tempo de partida...

- Não coloca a minha mãe no meio, Paulo Rogério!
- Ela fica colocando coisa na tua cabeça, Jaqueline! É isso...
- As opções são tuas, não dela...

Trinta e cinco minutos da segunda etapa...

- Eu não agüento mais tu olhando jogo toda a quarta e todo o domingo...
- Mas, Jaqueline! O resto do tempo eu fico contigo... São duas horinhas e nada mais... O pior se eu estivesse na rua correndo atrás de mulher...
- Aí tu não estavas aqui para contar a história...
- Então! Estou aqui, sentadinho no sofá de casa, olhando o jogo sob tua vigilância...
- Não tem desculpa, Paulo Rogério. Escolhe: eu o teu time?

Final de partida. O placar do jogo foi zero a zero...

- Olha aí, ó! Terminou o jogo e eu nem consegui assistir um lance direito...
- Não perdeu nada! Foi zero a zero... Por isso que digo que é perda de tempo olhar futebol...
- Que droga! Bom se já perdi o jogo não vou perder a mulher... Eu aceno com a bandeira branca... Vem aqui vem... Vou te dar atenção... Carinho... Beijinhos... Como tu querias...

Jaqueline respirou e respondeu:

- Agora não quero mais!

E deixou a sala de estar...


• Jornalista

4 comentários:

  1. Se me disponho a sentar para assistir a
    uma final do meu time, não me levanto
    nem que o Papa apareça.
    Mulherzinha chata e insensível.
    Fazer uma "dr"(discutir relação)em final
    de campeonato não rola.
    Texto divertido Rodrigo.
    Abração e bom fim de semana

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  2. Núbia: a "Rainha" dos comentários do Literário!

    Como sempre, muito carinhosa nas suas observações.

    Obrigado, minha amiga!

    Aquele abraço!

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  3. Rodrigo, eu que sou uma pessoa pacífica, anti-violência em todos os temas, fiquei furiosa com essa Jaqueline, com vontade de dar uns tapas. Pode ter certeza que isso se deveu a eficácia do seu diálogo. Chata, para sua personagem, é apelido. E carinhoso.

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  4. Ri muito do seu comentário, Mara! Fiquei te imaginando furiosa em frente ao computador.

    Mais uma vez, muito obrigado pelo comentário e o carinho.

    Tenha um ótimo final de semana!

    Aquele abraço!

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