Artistas reconstroem ato político de três décadas
* Por Jair Alves
Na terça-feira, dia 10 de maio, na Assembléia Legislativa de São Paulo a Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, esteve frente a frente com artistas e representantes de entidades culturais, ladeada por maioria da bancada petista no Estado. Eu me encontrava entre àqueles que, nos dias que antecederam o evento estavam preocupados no que este poderia resultar. Se levarmos em consideração os ataques, sem censura, desferidos contra Ana de Hollanda principalmente no que aconteceu em um outro embate ocorrido nas dependências da FUNARTE-SP, em meados de abril, tudo poderia acontecer (inclusive agressão física). Temos antecedentes, tais como as cenas de pastelão onde a vítima (José Genoino), foi agredido com um pedaço de bolo de aniversário, por uma “Ativista” (da Paz é que não poderia ser), num dos Fóruns Social Mundial, em Porto Alegre; ou outras formas de constrangimento a que personagens de destaque foram vítimas.
No que diz respeito à Ana de Hollanda é inegável que o tom havia subido, nos últimos meses, a ponto de circular um “manifesto” que colheu assinaturas, virtualmente, com cópia original entregue à Presidenta da República exigindo a sua destituição. É evidente que o ambiente já estava preparado para grandes constrangimentos; o dedo em riste colocado na cara da equipe do MINC, em encontro na FUNARTE foi a avant-première do que poderia ocorrer nesse dia 10 (vide O Assassinato de Mário de Andrade). Mas, quem seriam os atores dessa façanha, e por que isso não aconteceu? Os candidatos a provocadores eram assim conhecidos, “Ativistas Virtuais” e dias antes do encontro na Assembléia o Partido dos Trabalhadores, incomodado com continuo desgaste que a Ministra poderia provocar no governo Dilma, tratou de blindar a ela com a sua presença e começa ai verdadeiramente a narrativa do que lá foi visto.
O Auditório Paulo Kobayashi, lotado, e com a presença de grande parte da imprensa recebeu pontualmente Ana de Hollanda, às 15 horas. Em sua fala inicial ela lembrou, não de seu pai (o segundo signatário da ata de fundação do PT, em 1980), mas sim a figura olímpica da atriz, Lélia Abramo (também fundadora), como uma de suas inspirações na vida profissional. O simbolismo desse encontro tem início ali. Embora a Ministra não tenha citado o que se segue, foi justamente numa tarde de maio de 1979 e também num dos auditórios da Assembléia Legislativa, debaixo de grande ovação, que o então líder dos operários no ABC foi trazido pelas mãos de Lélia Abramo até àquele local, para assumir o controle de um Movimento que resultou nas transformações sociais e econômicas em que vivemos atualmente. Lula havia acabado de ser destituído da Presidência do Sindicato dos Metalúrgicos pelos militares e sem saber muito o que fazer recolheu-se na casa de amigos, deixando o Movimento grevista acéfalo e o movimento contra o regime militar que se fortaleceu com os acontecimentos do ABC à mercê de oportunistas. Lélia (com sua suprema sabedoria) percebeu que era naquele momento ou nunca, que ele deveria assumir o seu papel na história do Brasil; e foi o que aconteceu. Os contemporâneos do período poderão confirmar isso, e até ampliar o significado dessas datas (ontem e hoje). Comparando as duas, (Oxalá) o 10 de maio de 2011 será lembrado como o dia em que as Artes e a Cultura assumiram o seu verdadeiro papel institucional na nossa história.
A interpretação apressada dos meios de comunicação, incapazes de refletir sobre o que anda acontecendo no Brasil e forçando uma pauta já sem sentido, têm sido alimentados por veículos alternativos que se apresentam como “adversários confessos” da atual política do MINC. Tudo o que foi escrito sobre o evento é previsível, e não corresponde à verdade integralmente; questões sobre Artes e Cultura não se resumem a problemas de comprovação de trabalhos realizados por grupos teatrais, mesmo os mais relevantes para a cultura brasileira, e muito menos ao intricado e complexo mundo dos Direitos Autorais. Elas vão além das miseráveis interpretações tendenciosas, publicadas em menos de duas horas após o término do evento em blog’s, sites e portais, comprometidos até à medula com privilégios cristalizados em casos esporádicos nas de gestões anteriores.
Se por um lado, a presença da bancada petista inibiu o mesmo grupo a levar Ana de Hollanda a passar por constrangimentos, impediu também o proselitismo sacal dos arquitetos da “nova cultura” (na maioria, professores acadêmicos que fazem questão de carregar a chancela de onde recebem seus salários como a USP, Universidades Federais, etc.), não conseguiu evitar cenas de narcisismo, explícito e repetitivo, de José Celso Martinez Corrêa (por exemplo), tampouco a indigência intelectual dos Enfant Terribles e de notoriedade efêmera ao lerem o maçante manifesto (um mal disfarçado “folhetim”) e levado até Dilma Rousseff, também postado na Internet através de uma cópia pirata do site do Ministério da Cultura. As doze perguntas dirigidas e respondidas pela Ministra e (se as respostas agradaram ou não os detratores, isso é uma outra história), seis delas ao menos demonstraram a crise na produção, distribuição e consumo das artes e cultura no país Esta, sim, uma boa pauta e da qual devemos nos deter.
Brilhante o depoimento de Ney Piacentini, falando em nome da Cooperativa Paulista de Teatro, que se colocou à disposição para lutar ao lado da ministra e tirar as Artes e a cultura da indigência, partindo para vôos mais ousados como disputar uma parcela dos resultados econômicos e financeiros do Pré-Sal. Emocionante, também, a intervenção de um dramaturgo do Movimento 27 de Março, ao colocar a nu as nossas mazelas e concluindo com uma indagação sobre o que representa o propalado Plano de Desenvolvimento da Economia Criativa, possibilitando à Ana de Hollanda dizer a que veio. Ainda, um outro interlocutor propondo a criação de Memorial a Mário Pedrosa, como referência, revela a quase nenhuma ação em torno da memória no MINC. Mesmo o caso do IPHAN, apesar do “perguntador” estar meio desorientado demonstrou que temos problemas gigantescos na área do Patrimônio Histórico que não entram na pauta. A participação da cineasta, Tata Amaral, revelando as dificuldades por que passa sua categoria profissional e, por fim, a brilhante intervenção da deputada estadual, Telma Souza, foi um delírio (no bom sentido). Ela é dos poucos políticos que aceitam provocação, mas dão a cara pra bater. Infelizmente, tanto a imprensa quanto os blog’s “alternativos” não registraram esses componentes porque tal universo não faz parte do seu dia a dia; para eles a história e a civilização, “elas que se danem, ou não” (como diria o velho Gil).
Seria bom comparar os dois filmes, um produzido ontem, com artistas, operários e populares, na Assembléia Legislativa, construindo o futuro em que vivemos na atualidade, com o outro hoje na apropriação indébita do trabalho artístico e intelectual por meia dúzia de aventureiros. Isso havia sido previsto por um compositor popular, de nome Hollanda, em mais uma de suas metáforas: “antes que um aventureiro lance mão”. Lélia disse mais ou menos o mesmo para Lula, naqueles dias de Maio de 79 - “Vá lá, e cumpra o seu papel”. Nós dissemos o mesmo, como síntese - “artistas, o seu papel está no enredo que foi construído, apesar da truculência e das intrigas”; é questão de assumir.
• Dramaturgo
* Por Jair Alves
Na terça-feira, dia 10 de maio, na Assembléia Legislativa de São Paulo a Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, esteve frente a frente com artistas e representantes de entidades culturais, ladeada por maioria da bancada petista no Estado. Eu me encontrava entre àqueles que, nos dias que antecederam o evento estavam preocupados no que este poderia resultar. Se levarmos em consideração os ataques, sem censura, desferidos contra Ana de Hollanda principalmente no que aconteceu em um outro embate ocorrido nas dependências da FUNARTE-SP, em meados de abril, tudo poderia acontecer (inclusive agressão física). Temos antecedentes, tais como as cenas de pastelão onde a vítima (José Genoino), foi agredido com um pedaço de bolo de aniversário, por uma “Ativista” (da Paz é que não poderia ser), num dos Fóruns Social Mundial, em Porto Alegre; ou outras formas de constrangimento a que personagens de destaque foram vítimas.
No que diz respeito à Ana de Hollanda é inegável que o tom havia subido, nos últimos meses, a ponto de circular um “manifesto” que colheu assinaturas, virtualmente, com cópia original entregue à Presidenta da República exigindo a sua destituição. É evidente que o ambiente já estava preparado para grandes constrangimentos; o dedo em riste colocado na cara da equipe do MINC, em encontro na FUNARTE foi a avant-première do que poderia ocorrer nesse dia 10 (vide O Assassinato de Mário de Andrade). Mas, quem seriam os atores dessa façanha, e por que isso não aconteceu? Os candidatos a provocadores eram assim conhecidos, “Ativistas Virtuais” e dias antes do encontro na Assembléia o Partido dos Trabalhadores, incomodado com continuo desgaste que a Ministra poderia provocar no governo Dilma, tratou de blindar a ela com a sua presença e começa ai verdadeiramente a narrativa do que lá foi visto.
O Auditório Paulo Kobayashi, lotado, e com a presença de grande parte da imprensa recebeu pontualmente Ana de Hollanda, às 15 horas. Em sua fala inicial ela lembrou, não de seu pai (o segundo signatário da ata de fundação do PT, em 1980), mas sim a figura olímpica da atriz, Lélia Abramo (também fundadora), como uma de suas inspirações na vida profissional. O simbolismo desse encontro tem início ali. Embora a Ministra não tenha citado o que se segue, foi justamente numa tarde de maio de 1979 e também num dos auditórios da Assembléia Legislativa, debaixo de grande ovação, que o então líder dos operários no ABC foi trazido pelas mãos de Lélia Abramo até àquele local, para assumir o controle de um Movimento que resultou nas transformações sociais e econômicas em que vivemos atualmente. Lula havia acabado de ser destituído da Presidência do Sindicato dos Metalúrgicos pelos militares e sem saber muito o que fazer recolheu-se na casa de amigos, deixando o Movimento grevista acéfalo e o movimento contra o regime militar que se fortaleceu com os acontecimentos do ABC à mercê de oportunistas. Lélia (com sua suprema sabedoria) percebeu que era naquele momento ou nunca, que ele deveria assumir o seu papel na história do Brasil; e foi o que aconteceu. Os contemporâneos do período poderão confirmar isso, e até ampliar o significado dessas datas (ontem e hoje). Comparando as duas, (Oxalá) o 10 de maio de 2011 será lembrado como o dia em que as Artes e a Cultura assumiram o seu verdadeiro papel institucional na nossa história.
A interpretação apressada dos meios de comunicação, incapazes de refletir sobre o que anda acontecendo no Brasil e forçando uma pauta já sem sentido, têm sido alimentados por veículos alternativos que se apresentam como “adversários confessos” da atual política do MINC. Tudo o que foi escrito sobre o evento é previsível, e não corresponde à verdade integralmente; questões sobre Artes e Cultura não se resumem a problemas de comprovação de trabalhos realizados por grupos teatrais, mesmo os mais relevantes para a cultura brasileira, e muito menos ao intricado e complexo mundo dos Direitos Autorais. Elas vão além das miseráveis interpretações tendenciosas, publicadas em menos de duas horas após o término do evento em blog’s, sites e portais, comprometidos até à medula com privilégios cristalizados em casos esporádicos nas de gestões anteriores.
Se por um lado, a presença da bancada petista inibiu o mesmo grupo a levar Ana de Hollanda a passar por constrangimentos, impediu também o proselitismo sacal dos arquitetos da “nova cultura” (na maioria, professores acadêmicos que fazem questão de carregar a chancela de onde recebem seus salários como a USP, Universidades Federais, etc.), não conseguiu evitar cenas de narcisismo, explícito e repetitivo, de José Celso Martinez Corrêa (por exemplo), tampouco a indigência intelectual dos Enfant Terribles e de notoriedade efêmera ao lerem o maçante manifesto (um mal disfarçado “folhetim”) e levado até Dilma Rousseff, também postado na Internet através de uma cópia pirata do site do Ministério da Cultura. As doze perguntas dirigidas e respondidas pela Ministra e (se as respostas agradaram ou não os detratores, isso é uma outra história), seis delas ao menos demonstraram a crise na produção, distribuição e consumo das artes e cultura no país Esta, sim, uma boa pauta e da qual devemos nos deter.
Brilhante o depoimento de Ney Piacentini, falando em nome da Cooperativa Paulista de Teatro, que se colocou à disposição para lutar ao lado da ministra e tirar as Artes e a cultura da indigência, partindo para vôos mais ousados como disputar uma parcela dos resultados econômicos e financeiros do Pré-Sal. Emocionante, também, a intervenção de um dramaturgo do Movimento 27 de Março, ao colocar a nu as nossas mazelas e concluindo com uma indagação sobre o que representa o propalado Plano de Desenvolvimento da Economia Criativa, possibilitando à Ana de Hollanda dizer a que veio. Ainda, um outro interlocutor propondo a criação de Memorial a Mário Pedrosa, como referência, revela a quase nenhuma ação em torno da memória no MINC. Mesmo o caso do IPHAN, apesar do “perguntador” estar meio desorientado demonstrou que temos problemas gigantescos na área do Patrimônio Histórico que não entram na pauta. A participação da cineasta, Tata Amaral, revelando as dificuldades por que passa sua categoria profissional e, por fim, a brilhante intervenção da deputada estadual, Telma Souza, foi um delírio (no bom sentido). Ela é dos poucos políticos que aceitam provocação, mas dão a cara pra bater. Infelizmente, tanto a imprensa quanto os blog’s “alternativos” não registraram esses componentes porque tal universo não faz parte do seu dia a dia; para eles a história e a civilização, “elas que se danem, ou não” (como diria o velho Gil).
Seria bom comparar os dois filmes, um produzido ontem, com artistas, operários e populares, na Assembléia Legislativa, construindo o futuro em que vivemos na atualidade, com o outro hoje na apropriação indébita do trabalho artístico e intelectual por meia dúzia de aventureiros. Isso havia sido previsto por um compositor popular, de nome Hollanda, em mais uma de suas metáforas: “antes que um aventureiro lance mão”. Lélia disse mais ou menos o mesmo para Lula, naqueles dias de Maio de 79 - “Vá lá, e cumpra o seu papel”. Nós dissemos o mesmo, como síntese - “artistas, o seu papel está no enredo que foi construído, apesar da truculência e das intrigas”; é questão de assumir.
• Dramaturgo
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