Vitória pela superação
O homem, desde o nascimento até a hora da morte, é confrontado, diariamente, por pequenos e grandes desafios. Não raro lamenta os obstáculos e dificuldades que tem que enfrentar durante a vida e lhes atribui eventuais fracassos, o que é um álibi cômodo e covarde e, sobretudo, sem nenhuma consistência. A atitude mais correta é a de considerar esses “acidentes de percurso” como privilégios, pois são desafios a vencer e que, superados, valorizam suas eventuais conquistas.
Mesmo que o sujeito não venha a se dar conta, tem forças físicas e/ou mentais para superar “quase” qualquer barreira. Para isso, foi dotado de inteligência. Obstáculos e dificuldades são testes aos nossos limites, que nunca sabemos, a priori, quais são. O antropólogo Gregory Bateson constatou: “Os limites do nosso corpo não são os limites da nossa mente”. E não são mesmo. Mas aí é que mora o perigo.
Muitas vezes, subestimamos os riscos e superestimamos nossa capacidade de superação. Achamos, por exemplo, que somos capazes de escalar o Pico do Everest, mesmo que não sejamos sequer alpinistas e jamais tenhamos subido nem mesmo uma pequena colina sem chegar ao topo à beira da exaustão e... óbvio, nos damos mal. O inverso, todavia, também é verdadeiro. Achamos que não estamos habilitados a determinadas tarefas que, se executadas, nos trariam inegáveis benefícios e, com isso, marcamos passo a vida inteira, frustrados e desanimados e com o amor próprio em baixa, próximo do zero.
A palavrinha mágica “superação” freqüenta, com muita assiduidade, o dicionário, por exemplo, das pessoas com algum tipo de deficiência física, não importa se congênita ou adquirida. Os que se esforçam ao limite de suas forças para superar suas fraquezas. Às vezes, elas se dão bem e levam vida normal, como qualquer um que não tenha o mesmo tipo de problema. E por que tive o cuidado de dizer “às vezes”, e não “sempre”? Porque, não raro, alguns não avaliam corretamente sua capacidade (ou incapacidade) e, por isso, findam por agravar suas deficiências. Acidentam-se e tornam-se, fisicamente, mais incapazes do que eram antes e, em casos extremos, podem até morrer.
Antes de tentar se superar, portanto, a pessoa tem que avaliar corretamente quais são, de fato, seus limites. E, sobretudo, pesar a questão do custo e benefício, do ônus e do bônus. Se o segundo não for maior do que o primeiro, manda a prudência que se evite riscos desnecessários. Há pessoas que, mesmo sem fazer esse tipo de avaliação, se arriscam e se dão bem. Por que? Porque seus limites não eram tão baixos como pensavam. Outras, todavia, atiram-se de cabeça na empreitada e são vítimas de tragédia. Sua tentativa de superação equivale ao suicídio.
Quem convive boa parte do tempo com a idéia de superar limites, no caso físicos, são os chamados atletas de alto rendimento. Desde que se dispõem a esse tipo de atividade, convivem, o tempo todo, com a dor. Treinam exaustivamente e se superam vezes sem conta, mesmo que em meros décimos de segundos ou irrisórios centímetros, conforme a modalidade que pratiquem. Raramente se dão por satisfeitos com seu desempenho e esfalfam-se em treinos e mais treinos, em busca dos sonhados recordes.
Alguns (raros) conseguem e marcam seus nomes na história do esporte. Há os que, para conseguir, pagam preços exorbitantes, absurdos e proibitivos, chegando a ficar inutilizados fisicamente. Há, até, os que morrem nas pistas, quadras e piscinas em suas tentativas de superar outros atletas não raro mais aptos. Há, todavia, os que sabem parar na hora certa, que entendem que superação não é sinônimo de tentativa de suicídio. Estes findam por colher os frutos do seu sacrifício, embora sempre restem seqüelas, por mínimas quer sejam, do esforço sobre-humano que fizeram.
E no plano intelectual, há possibilidades de superação? Respondo que sim. Aliás, os artistas – não importa de que artes –, estão sempre se superando ou tentando fazê-lo. Suas obras, por mais perfeitas que pareçam aos outros, nunca os satisfazem. Querem sempre mais, e mais, e mais, em busca do sonho da perfeição. Com os escritores ocorre a mesma coisa. Esfalfam-se em estudos, esmeram-se na leitura, pesquisam à exaustão e treinam, e treinam e treinam com disciplina e afinco seus textos. Essa história de que apenas talento e inspiração bastam para se produzir uma obra-prima é idéia (falsa) de quem nem é do ramo.
Fernando Pessoa, por exemplo, escreveu que "a sinceridade é o grande obstáculo que o artista tem que vencer. Só uma longa disciplina, uma aprendizagem de não sentir senão literariamente as coisas, podem levar o espírito a esta culminância". Está aí um tipo de superação e dos mais árduos, a nos desafiar.
Além do que, não podemos adiar para o ano seguinte, o mês seguinte, o dia seguinte, a hora seguinte, o minuto seguinte esse exercício, essa autodisciplina, essa empreitada. Nosso tempo, em relação àquele universal, é restritíssimo. A morte não manda recado e nem avisa quando vai chegar. Daí a necessidade de utilizarmos cada instante da nossa vida da maneira mais racional e proveitosa em termos de exercício da nossa humanidade.
Outro risco, sempre presente, é o do fracasso. É possível que tudo o que fizermos fique perdido, acabe não valendo nada e que sejamos absolutamente esquecidos passados um, dois, dez, vinte, cinqüenta ou cem anos após nossa extinção. Pode ser que o sonho da nossa vida se transforme em pesadelo. Esses são riscos que sempre teremos que correr. Mas compete-nos tentar. Tentar sem desânimo ou trégua.
Ademais, devemos ser sempre ousados na busca do conhecimento e jamais nos contentar em ficar só na superfície das coisas, sem chegar ao âmago das grandes questões. Há momentos e situações em que nos julgamos frágeis e néscios, incapazes de levar a cabo determinadas empreitadas. Nessas ocasiões, nos vemos tentados e desistir e deixar a tarefa para quem julgamos mais habilitado. Tememos cometer erros, esquecidos de que errar é humano.
Trata-se, porém, de atitude comodista. É justamente aí que se requer a máxima dose de superação. Se alguma coisa for factível a alguém, também será para nós. Basta querer, de verdade, e se empenhar ao máximo, indiferentes à nossa fragilidade e/ou incapacidade. Edmund Burke escreveu a respeito: “Quem vai além da superfície das coisas, não obstante possa cometer equívocos, ainda assim ilumina o caminho para os outros e pode, eventualmente, até mesmo tornar seus erros úteis à causa da verdade”.. Não fujamos, pois, dos desafios que a vida nos impõe, desde que tenhamos a capacidade de superá-los. Sejamos atentos e prudentes. Saibamos a hora, a forma, a intensidade e a possibilidade de sucesso e, se nossa intuição nos cochichar que somos capazes, não hesitemos em multiplicar atos e mais atos de superação.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
O homem, desde o nascimento até a hora da morte, é confrontado, diariamente, por pequenos e grandes desafios. Não raro lamenta os obstáculos e dificuldades que tem que enfrentar durante a vida e lhes atribui eventuais fracassos, o que é um álibi cômodo e covarde e, sobretudo, sem nenhuma consistência. A atitude mais correta é a de considerar esses “acidentes de percurso” como privilégios, pois são desafios a vencer e que, superados, valorizam suas eventuais conquistas.
Mesmo que o sujeito não venha a se dar conta, tem forças físicas e/ou mentais para superar “quase” qualquer barreira. Para isso, foi dotado de inteligência. Obstáculos e dificuldades são testes aos nossos limites, que nunca sabemos, a priori, quais são. O antropólogo Gregory Bateson constatou: “Os limites do nosso corpo não são os limites da nossa mente”. E não são mesmo. Mas aí é que mora o perigo.
Muitas vezes, subestimamos os riscos e superestimamos nossa capacidade de superação. Achamos, por exemplo, que somos capazes de escalar o Pico do Everest, mesmo que não sejamos sequer alpinistas e jamais tenhamos subido nem mesmo uma pequena colina sem chegar ao topo à beira da exaustão e... óbvio, nos damos mal. O inverso, todavia, também é verdadeiro. Achamos que não estamos habilitados a determinadas tarefas que, se executadas, nos trariam inegáveis benefícios e, com isso, marcamos passo a vida inteira, frustrados e desanimados e com o amor próprio em baixa, próximo do zero.
A palavrinha mágica “superação” freqüenta, com muita assiduidade, o dicionário, por exemplo, das pessoas com algum tipo de deficiência física, não importa se congênita ou adquirida. Os que se esforçam ao limite de suas forças para superar suas fraquezas. Às vezes, elas se dão bem e levam vida normal, como qualquer um que não tenha o mesmo tipo de problema. E por que tive o cuidado de dizer “às vezes”, e não “sempre”? Porque, não raro, alguns não avaliam corretamente sua capacidade (ou incapacidade) e, por isso, findam por agravar suas deficiências. Acidentam-se e tornam-se, fisicamente, mais incapazes do que eram antes e, em casos extremos, podem até morrer.
Antes de tentar se superar, portanto, a pessoa tem que avaliar corretamente quais são, de fato, seus limites. E, sobretudo, pesar a questão do custo e benefício, do ônus e do bônus. Se o segundo não for maior do que o primeiro, manda a prudência que se evite riscos desnecessários. Há pessoas que, mesmo sem fazer esse tipo de avaliação, se arriscam e se dão bem. Por que? Porque seus limites não eram tão baixos como pensavam. Outras, todavia, atiram-se de cabeça na empreitada e são vítimas de tragédia. Sua tentativa de superação equivale ao suicídio.
Quem convive boa parte do tempo com a idéia de superar limites, no caso físicos, são os chamados atletas de alto rendimento. Desde que se dispõem a esse tipo de atividade, convivem, o tempo todo, com a dor. Treinam exaustivamente e se superam vezes sem conta, mesmo que em meros décimos de segundos ou irrisórios centímetros, conforme a modalidade que pratiquem. Raramente se dão por satisfeitos com seu desempenho e esfalfam-se em treinos e mais treinos, em busca dos sonhados recordes.
Alguns (raros) conseguem e marcam seus nomes na história do esporte. Há os que, para conseguir, pagam preços exorbitantes, absurdos e proibitivos, chegando a ficar inutilizados fisicamente. Há, até, os que morrem nas pistas, quadras e piscinas em suas tentativas de superar outros atletas não raro mais aptos. Há, todavia, os que sabem parar na hora certa, que entendem que superação não é sinônimo de tentativa de suicídio. Estes findam por colher os frutos do seu sacrifício, embora sempre restem seqüelas, por mínimas quer sejam, do esforço sobre-humano que fizeram.
E no plano intelectual, há possibilidades de superação? Respondo que sim. Aliás, os artistas – não importa de que artes –, estão sempre se superando ou tentando fazê-lo. Suas obras, por mais perfeitas que pareçam aos outros, nunca os satisfazem. Querem sempre mais, e mais, e mais, em busca do sonho da perfeição. Com os escritores ocorre a mesma coisa. Esfalfam-se em estudos, esmeram-se na leitura, pesquisam à exaustão e treinam, e treinam e treinam com disciplina e afinco seus textos. Essa história de que apenas talento e inspiração bastam para se produzir uma obra-prima é idéia (falsa) de quem nem é do ramo.
Fernando Pessoa, por exemplo, escreveu que "a sinceridade é o grande obstáculo que o artista tem que vencer. Só uma longa disciplina, uma aprendizagem de não sentir senão literariamente as coisas, podem levar o espírito a esta culminância". Está aí um tipo de superação e dos mais árduos, a nos desafiar.
Além do que, não podemos adiar para o ano seguinte, o mês seguinte, o dia seguinte, a hora seguinte, o minuto seguinte esse exercício, essa autodisciplina, essa empreitada. Nosso tempo, em relação àquele universal, é restritíssimo. A morte não manda recado e nem avisa quando vai chegar. Daí a necessidade de utilizarmos cada instante da nossa vida da maneira mais racional e proveitosa em termos de exercício da nossa humanidade.
Outro risco, sempre presente, é o do fracasso. É possível que tudo o que fizermos fique perdido, acabe não valendo nada e que sejamos absolutamente esquecidos passados um, dois, dez, vinte, cinqüenta ou cem anos após nossa extinção. Pode ser que o sonho da nossa vida se transforme em pesadelo. Esses são riscos que sempre teremos que correr. Mas compete-nos tentar. Tentar sem desânimo ou trégua.
Ademais, devemos ser sempre ousados na busca do conhecimento e jamais nos contentar em ficar só na superfície das coisas, sem chegar ao âmago das grandes questões. Há momentos e situações em que nos julgamos frágeis e néscios, incapazes de levar a cabo determinadas empreitadas. Nessas ocasiões, nos vemos tentados e desistir e deixar a tarefa para quem julgamos mais habilitado. Tememos cometer erros, esquecidos de que errar é humano.
Trata-se, porém, de atitude comodista. É justamente aí que se requer a máxima dose de superação. Se alguma coisa for factível a alguém, também será para nós. Basta querer, de verdade, e se empenhar ao máximo, indiferentes à nossa fragilidade e/ou incapacidade. Edmund Burke escreveu a respeito: “Quem vai além da superfície das coisas, não obstante possa cometer equívocos, ainda assim ilumina o caminho para os outros e pode, eventualmente, até mesmo tornar seus erros úteis à causa da verdade”.. Não fujamos, pois, dos desafios que a vida nos impõe, desde que tenhamos a capacidade de superá-los. Sejamos atentos e prudentes. Saibamos a hora, a forma, a intensidade e a possibilidade de sucesso e, se nossa intuição nos cochichar que somos capazes, não hesitemos em multiplicar atos e mais atos de superação.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Inúmeras vezes me sinto incapaz intelectualmente. Mesmo com insistência sinto-me completamente obstruida para aprender. E tanto que já li e me esforcei. Difícil admitir falta de inteligência. Uma tia avó dizia que Deus soube distribuir bem a inteligência, em vista de que todos estão satisfeitos com a que têm. Sou exceção, pois estou insatisfeita com a minha, embora seja impaciente com a burrice alheia.
ResponderExcluir