sábado, 21 de maio de 2011



Ofício

* Por Emanuel Medeiros Vieira

Mal rompe a aurora:
papel, lápis afiado, borracha.
Nada muda nada?
Continuas: sempre.
A palavra.
Não importa que (quase) ninguém queira mais saber.
Prevalência de imagens, aparelhos eletrônicos
Soberano reino do aparecer.
Chove lá fora: solitário ofício – desde menino.
Desaparecerá o sonho de ouvir e de contar histórias?

Rompeu a aurora e continuas:
o café ficou frio, o leite talhou, o pão é dormido.
(O que importa?)
Médium, antena.
Freud já sabia: os poetas chegaram antes de nós.
“Publicar é pôr o espírito humano em leilão”
(Emily Dickinson).
Dar a cara ao tapa:
este o ofício.
Agora, tudo é noite.
(E desmoronamos.)
Navegando, aportando,envelhecendo – a caminho da eternidade
(As Parcas sempre chegam – para todos: fúteis, soberbos, sonhadores.)

*Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros.

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