sábado, 28 de maio de 2011



Diálogos de paz e tolerância

* Por Luiz Carlos Monteiro

A condensação dos dezesseis textos de Diálogos no mundo contemporâneo – por uma cultura de paz, recém-lançado pelo escritor e advogado Antônio Campos em edição bilíngue, estabelece uma nova série de ideias, sugestões e propostas sobre grandes questões do nosso tempo. Elege a bandeira branca da paz como polo central para onde são atraídas e ramificadas outras modalidades assemelhadas e convergentes do humanismo. Tolerância, diversidade e interculturalidade são palavras recorrentes e propositivas que trazem no seu bojo a força de uma ideia e a possibilidade de uma práxis. Além disso, a problemática da pacificação mundial enfatizada é, senão conhecida em profundidade, pelo menos intuída em superfície por muita gente. Há, contudo, os que fazem questão de ignorá-la solenemente, pela omissão ou pela indiferença. Ou, o que é mais grave ainda, de trabalhar contra ela. Pode-se pensar que daí se origina, em boa medida, os grandes conflitos sociais, os confrontos bélicos que vêm se tornando corriqueiros e o descaso como atitude generalizada acerca da preservação vital e ambiental do planeta.
O livro antecipa algo das discussões que esquentarão a próxima Fliporto (Feira Literária Internacional de Pernambuco) em novembro, em Olinda, tendo como temática “Uma viagem ao Oriente”. O homenageado deste ano, Gilberto Freyre, é analisado por Antônio Campos em vários textos, a partir de certo viés antropológico que caracteriza a obra freyriana. Afirma Campos: “Na perspectiva de Gilberto Freyre, as conexões entre o Brasil, no período de sua formação, e o Oriente árabe ou asiático iam muito além de aspectos arquitetônicos, tendo sido determinantes na conformação da sensibilidade brasileira, em sua visão do mundo e seus valores culturais marcantes”. Conexões, influências e interações vastas e derivadas de um forte caldeamento de povos imigrantes e nativos, trazem à luz manifestações culturais que envolvem aspectos amplos e diversificados da vida social e política, da arte e do lazer, da economia e do trabalho, do comportamento público e privado. Na esteira de tudo isso, o alerta sobre os embates alucinados e seus efeitos irreversíveis que anulam, nas suas bases mais simples, ou nos seus surtos de maior complexidade, uma cultura de paz: “Somente diálogos construtivos de paz, uma melhor compreensão e convivência com o outro, com o diferente, vencerão o terror e a tensão entre religiões e etnias, que é o grande desafio do contemporâneo”.
Era preciso que alguém levantasse essas questões de um modo didático, dialético e compreensível. E Antônio Campos o fez com pertinência e autenticidade.


Folha de Pernambuco, 20 de maio de 2011

* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com

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