Bem sucedido desafio
A redação de uma biografia, por mais que você conheça da vida do biografado, é sempre um desafio. Se for uma figura relativamente desconhecida, dificilmente irá interessar os leitores e é provável que nem mesmo consiga editora que se arrisque na sua publicação. Se, pelo contrário, for personagem pública de grande relevância e projeção, certamente terá concorrência de outros biógrafos. Neste caso, você, forçosamente, terá que apresentar um algo a mais para que seu livro não encalhe nas prateleiras.
Outro risco que se corre é o da divergência de dados. Talvez os que você apresentar não sejam os corretos. E, mesmo sendo, corre o risco do público e da crítica acreditarem nos apresentados por um ou mais dos seus concorrentes, mesmo que ostensivamente equivocados. E os riscos não são só estes, vão muito além e se multiplicam. Embora eu admire muitas figuras públicas, algumas das quais institua, até, como paradigmas de conduta, não me arriscaria a biografá-las. Não é um gênero que me atraia a escrever (embora aprecie bastante sua leitura).
Se biografar determinadas figuras com certa projeção já é um desafio dos mais indigestos, imaginem o que é relatar a vida de um “pai da pátria”! Você tem que ser muito bom para correr esse risco e dar-se bem. Pois foi exatamente isso o que o historiador, na verdade jornalista, de 55 anos de idade, Ron Chernow, fez.
Mas ele não escreveu uma biografia qualquer, longe disso. Tratou da vida e, principalmente da obra de uma personalidade reverenciada por gerações nos Estados Unidos, tanto que empresta nome à capital do país, a um Estado, além de denominar um sem número de ruas, avenidas, praças, universidades, ginásios, estádios etc. e ter a efígie estampada na moeda norte-americana, o dólar.
O leitor inteligente certamente matou a charada e adivinhou sobre quem me refiro. É isso mesmo, Chernow escreveu uma alentada biografia, um grosso volume de 904 páginas, publicado em 2010, em Londres, sobre ninguém menos do que “o pai” da única superpotência do Planeta, um dos responsáveis por sua independência e seu primeiro presidente. Claro que me refiro a George Washington.
“Ah, esse livro deve ter encalhado”, certamente terá previsto aquele sujeito pessimista e um tanto afoito em suas conclusões. Está enganado. A biografia de Ron Chernow é um dos best-sellers da temporada. Seu título é o mais simples e direto possível: “Washington: a life”. E essa alentada obra biográfica foi além da façanha de esgotar edições, o que já não é pouca coisa. Valeu, ao arrojado autor, o maior prêmio dos Estados Unidos e um dos maiores do mundo: o Pulitzer referente a 2011. Foi o grande premiado na categoria “Biografia”.
O curioso é que biografar personalidades políticas nem mesmo é sua especialidade. É certo que já biografou muita gente importante, mas todas do mundo da economia e das finanças. Ron Chernow é especialista em bancos, principalmente das grandes casas bancárias do início do século XX. Não é um escritor inédito no Brasil. Publicou, em nosso país, uma obra ousada já a partir do título: “A morte dos banqueiros”, lançada pela Editora Makron Books. Ousadia, portanto, é sua característica.
Pois é, essa peculiaridade, quando aliada à criatividade e, sobretudo, à competência, vez em quando resulta no que resultou: num Pulitzer e, portanto, na definitiva consagração do autor. Esta poderia vir até antes, porquanto esse jornalista econômico, mas formado em Literatura pela prestigiosa Universidade de Yale, já ostenta vasto currículo de êxitos editoriais.
Poderia ser premiado, por exemplo, pela biografia de “Alexander Hamilton”. Esse foi um livro que vendeu bastante e teve calorosa recepção da crítica. Ou o prêmio poderia ter vindo pela publicação de “A casa de Morgan”. Ou, então, pelo meticuloso “Titã: a vida de John D. Rockefeller Senior”. Afinal, essas obras citadas não tiveram a mesma concorrência que a biografia justamente da figura histórica mais reverenciada (e mais biografada) dos Estados Unidos: George Washington. É muita coragem. E mais: é muita competência.
Não tenho dúvidas que o livro premiado fará, no Brasil, em breve (se ou quando, for traduzido para o português e lançado por aqui), o mesmo sucesso que vem fazendo nos Estados Unidos. George Washington, filho de uma família de latifundiários da Virgínia, nasceu em 22 de fevereiro de 1732. Comandou as melhores e mais bem treinadas tropas norte-americanas numa guerra iniciada em 1775, que durou seis anos e terminou apenas cinco anos após a independência da ex-colônia da Inglaterra já ter sido proclamada.
Washington impulsionou a Convenção Constitucional da Filadélfia, de 1787, que resultou, dois anos após, na atual Constituição dos Estados Unidos. Tão logo ela foi ratificada, o Colégio Eleitoral reuniu-se e elegeu-o, por unanimidade, como o primeiro presidente do novo país. Exerceu dois mandatos e só não obteve um terceiro, porque não quis. Morreu em 14 de dezembro de 1799 em conseqüência de uma infecção na garganta. É evidente que o livro Ron Chernow foi além, muitíssimo além destes fatos básicos, em suas 904 páginas de texto. Haja fôlego! Por isso, tudo indica (e é a convicção que me fica), que o Pulitzer de Biografia de 2011 ficou em mãos apropriadas e... competentíssimas.
Boa leitura.
O Editor.
A redação de uma biografia, por mais que você conheça da vida do biografado, é sempre um desafio. Se for uma figura relativamente desconhecida, dificilmente irá interessar os leitores e é provável que nem mesmo consiga editora que se arrisque na sua publicação. Se, pelo contrário, for personagem pública de grande relevância e projeção, certamente terá concorrência de outros biógrafos. Neste caso, você, forçosamente, terá que apresentar um algo a mais para que seu livro não encalhe nas prateleiras.
Outro risco que se corre é o da divergência de dados. Talvez os que você apresentar não sejam os corretos. E, mesmo sendo, corre o risco do público e da crítica acreditarem nos apresentados por um ou mais dos seus concorrentes, mesmo que ostensivamente equivocados. E os riscos não são só estes, vão muito além e se multiplicam. Embora eu admire muitas figuras públicas, algumas das quais institua, até, como paradigmas de conduta, não me arriscaria a biografá-las. Não é um gênero que me atraia a escrever (embora aprecie bastante sua leitura).
Se biografar determinadas figuras com certa projeção já é um desafio dos mais indigestos, imaginem o que é relatar a vida de um “pai da pátria”! Você tem que ser muito bom para correr esse risco e dar-se bem. Pois foi exatamente isso o que o historiador, na verdade jornalista, de 55 anos de idade, Ron Chernow, fez.
Mas ele não escreveu uma biografia qualquer, longe disso. Tratou da vida e, principalmente da obra de uma personalidade reverenciada por gerações nos Estados Unidos, tanto que empresta nome à capital do país, a um Estado, além de denominar um sem número de ruas, avenidas, praças, universidades, ginásios, estádios etc. e ter a efígie estampada na moeda norte-americana, o dólar.
O leitor inteligente certamente matou a charada e adivinhou sobre quem me refiro. É isso mesmo, Chernow escreveu uma alentada biografia, um grosso volume de 904 páginas, publicado em 2010, em Londres, sobre ninguém menos do que “o pai” da única superpotência do Planeta, um dos responsáveis por sua independência e seu primeiro presidente. Claro que me refiro a George Washington.
“Ah, esse livro deve ter encalhado”, certamente terá previsto aquele sujeito pessimista e um tanto afoito em suas conclusões. Está enganado. A biografia de Ron Chernow é um dos best-sellers da temporada. Seu título é o mais simples e direto possível: “Washington: a life”. E essa alentada obra biográfica foi além da façanha de esgotar edições, o que já não é pouca coisa. Valeu, ao arrojado autor, o maior prêmio dos Estados Unidos e um dos maiores do mundo: o Pulitzer referente a 2011. Foi o grande premiado na categoria “Biografia”.
O curioso é que biografar personalidades políticas nem mesmo é sua especialidade. É certo que já biografou muita gente importante, mas todas do mundo da economia e das finanças. Ron Chernow é especialista em bancos, principalmente das grandes casas bancárias do início do século XX. Não é um escritor inédito no Brasil. Publicou, em nosso país, uma obra ousada já a partir do título: “A morte dos banqueiros”, lançada pela Editora Makron Books. Ousadia, portanto, é sua característica.
Pois é, essa peculiaridade, quando aliada à criatividade e, sobretudo, à competência, vez em quando resulta no que resultou: num Pulitzer e, portanto, na definitiva consagração do autor. Esta poderia vir até antes, porquanto esse jornalista econômico, mas formado em Literatura pela prestigiosa Universidade de Yale, já ostenta vasto currículo de êxitos editoriais.
Poderia ser premiado, por exemplo, pela biografia de “Alexander Hamilton”. Esse foi um livro que vendeu bastante e teve calorosa recepção da crítica. Ou o prêmio poderia ter vindo pela publicação de “A casa de Morgan”. Ou, então, pelo meticuloso “Titã: a vida de John D. Rockefeller Senior”. Afinal, essas obras citadas não tiveram a mesma concorrência que a biografia justamente da figura histórica mais reverenciada (e mais biografada) dos Estados Unidos: George Washington. É muita coragem. E mais: é muita competência.
Não tenho dúvidas que o livro premiado fará, no Brasil, em breve (se ou quando, for traduzido para o português e lançado por aqui), o mesmo sucesso que vem fazendo nos Estados Unidos. George Washington, filho de uma família de latifundiários da Virgínia, nasceu em 22 de fevereiro de 1732. Comandou as melhores e mais bem treinadas tropas norte-americanas numa guerra iniciada em 1775, que durou seis anos e terminou apenas cinco anos após a independência da ex-colônia da Inglaterra já ter sido proclamada.
Washington impulsionou a Convenção Constitucional da Filadélfia, de 1787, que resultou, dois anos após, na atual Constituição dos Estados Unidos. Tão logo ela foi ratificada, o Colégio Eleitoral reuniu-se e elegeu-o, por unanimidade, como o primeiro presidente do novo país. Exerceu dois mandatos e só não obteve um terceiro, porque não quis. Morreu em 14 de dezembro de 1799 em conseqüência de uma infecção na garganta. É evidente que o livro Ron Chernow foi além, muitíssimo além destes fatos básicos, em suas 904 páginas de texto. Haja fôlego! Por isso, tudo indica (e é a convicção que me fica), que o Pulitzer de Biografia de 2011 ficou em mãos apropriadas e... competentíssimas.
Boa leitura.
O Editor.
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Parece-me difícil, mais do que tudo, acrescentar algo novo em uma biografia tantas vezes explorada. Fico a imaginar sobre novas fontes documentais para tal feito. E de pensar que Joaquim José da Silva Xavier, o nosso Tiradentes, contemporâneo do biografado, inspirado na Independência dos Estados Unidos e possível admirador de George Washington, não tem imagem confirmada até hoje. Mesmo usando de todo registro que há, seria difícil escrever 900 páginas sobre ele. Só por isso devemos aplaudir o vencedor do Pulitzer.
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