Berilo Wanderley
* Por Talis Andrade
* Por Talis Andrade
(trechos)
2
Neste mundo de mortos-
carregando-o-vivo
Berilo amava os irmãos bichos
criados soltos no quintal
sem marca de ferro e laço
Ossos e gesso
sangue e verniz
os bichos velam
a santa lapinha
resguardando o sono
do Menino Jesus
3
Na sala de visitas
do sobrado das tias
do maravilhado Berilo
os vizinhos vêm espiar
O Menino Jesus
dorme tranqüilo
Na manjedoura
o Menino deitado
nas secas palhinhas
Os sonhos cantados
pelas pastorinhas
Nas ricas mansões
estouram champanhes
Nos mocambos amontoados
nas encostas dos morros
as crianças choram
de frio e fome
Crianças transportadas
do chão de terra batida
de suas casas
para a areia fofa
e o cal
das covas rasas
7
Um carneiro gigante
exibia na testa
a reluzente estrela
da tentação e da sorte
Um carneiro mágico
do longe Piauí
tudo prometia
Uma chuva de ouro
uma chuva de prata
O terso esplendor
de tantos tesouros
não possuía
nenhum valor
Para Berilo
a riqueza consistia
em sua coleção de discos
de música antiga
os livros de versos
uma garrafa de vinho
para uma conversa amiga
8
A fortuna vem da poesia
a ventura das coisas simples
os meninos cercando o palhaço
por uma entrada no circo
o gáudio de um filme de Carlitos
os namorados de mãos dadas
ao som da retreta na praça
a terna amizade da cachorra Baleia
lambendo o rosto de Berilo
o eterno rosto de menino
violentado pela visão do mundo
In poema Os Três Reis Magos
* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
2
Neste mundo de mortos-
carregando-o-vivo
Berilo amava os irmãos bichos
criados soltos no quintal
sem marca de ferro e laço
Ossos e gesso
sangue e verniz
os bichos velam
a santa lapinha
resguardando o sono
do Menino Jesus
3
Na sala de visitas
do sobrado das tias
do maravilhado Berilo
os vizinhos vêm espiar
O Menino Jesus
dorme tranqüilo
Na manjedoura
o Menino deitado
nas secas palhinhas
Os sonhos cantados
pelas pastorinhas
Nas ricas mansões
estouram champanhes
Nos mocambos amontoados
nas encostas dos morros
as crianças choram
de frio e fome
Crianças transportadas
do chão de terra batida
de suas casas
para a areia fofa
e o cal
das covas rasas
7
Um carneiro gigante
exibia na testa
a reluzente estrela
da tentação e da sorte
Um carneiro mágico
do longe Piauí
tudo prometia
Uma chuva de ouro
uma chuva de prata
O terso esplendor
de tantos tesouros
não possuía
nenhum valor
Para Berilo
a riqueza consistia
em sua coleção de discos
de música antiga
os livros de versos
uma garrafa de vinho
para uma conversa amiga
8
A fortuna vem da poesia
a ventura das coisas simples
os meninos cercando o palhaço
por uma entrada no circo
o gáudio de um filme de Carlitos
os namorados de mãos dadas
ao som da retreta na praça
a terna amizade da cachorra Baleia
lambendo o rosto de Berilo
o eterno rosto de menino
violentado pela visão do mundo
In poema Os Três Reis Magos
* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
Fez-me lembrar de uma poesia de Pessoa
ResponderExcluirem que o menino Jesus se rebela e desce
à Terra se misturando a pessoas comuns
que comem, bebem, labutam e secam o suor
em pequenos trapos.
Abraços