Tapa na cara II – Eu, heim?
* Por Urda Alice Klueger
(Em tempos de ofensiva da OTAN, é bom recordar.)
Eu, heim? Não tem dado muito tempo para acompanhar a Copa do Mundo na Alemanha, mas o pouco que ando vendo na televisão, somado ao que me conta minha amiga Sabine, moradora de Köln, me dá a idéia de que por lá está acontecendo uma espetacular festa de congraçamento das gentes de todo o mundo! Jogam times de todos os continentes, o Oriente com o Ocidente, os negros com os brancos, o Norte com o Sul, e as torcidas são enormes, coloridas, maravilhosas – as previdentes polícias européias conseguiram segurar seus hooligans em casa e decerto que há uma segurança muito grande, para garantir que não se repita o atentado acontecido na Olimpíada de Munique, em 1972, onde morreram 11 atletas. As televisões fazem reportagens especiais sobre as torcidas as mais diversas, mexicanos com seus sombreros, australianos com seus cangurus, japoneses com seus sorrisos simpáticos, brasileiros de verde-e-amarelo querendo morrer pela Seleção ... uma maravilha! Talvez alguém se pegue de pau num excesso de álcool ou alguma coisa assim que acontece em qualquer bar do mundo, mais cedo ou mais tarde, mas que está dentro da normalidade de uma humanidade que vive competindo, tanto quanto sei, desde Caim e Abel. O que se vê, no entanto, é a alegria, são torcidas rivais cantando juntas, confraternizando – se fossem muitas as alterações, elas teriam virado notícia.
Da nossa Seleção a gente tem notícias esmiuçadas, quase que o passo a passo de cada jogador, da comissão técnica – e eles devem ter seguranças, claro, como imagino que as outras seleções também tenham, pois grande parte dos jogadores valem verdadeiras fortunas e devem provocar a maior tentação em algum seqüestrador por lá perdido, por exemplo – mas nada que se compare ao verdadeiro EXÉRCITO de guarda-costas, guarda-frentes e guarda-ambos-os-lados que acompanha a seleção dos Estados Unidos. Ainda hoje vi num noticiário um treinozinho básico daquela seleção – meu, cara, tinha segurança como mosca, com certeza muitas centenas de guarda-tudo de sóbrios e caros ternos a formarem uma muralha humana em todos os ângulos possíveis que alguém pudesse talvez olhar para aqueles atletas, cerca viva em torno do campo, muito mais potente que qualquer alambrado, pois alambrados não usam armas de fogo, nem gás de pimenta, nem gás lacrimogêneo, nem armas que disparam raios que aquecem líquidos, por exemplo – li outro dia como os cientistas daquela terra estão desenvolvendo as tais armas que disparam raios que aquecem líquidos: viradas contra uma multidão, farão ferver literalmente o sangue das pessoas, que não suportarão estarem sendo fervidas por dentro,e debandarão de qualquer manifestação ou reinvindicação que possam vir a sonhar, qualquer dia.
Eu, heim? Viram no que dá a gente ser malvado? Pois então me digam por que é que a Seleção de Gana, ou a da Suécia, ou Irã, ou de Portugal, ou a do Japão, e mesmo a nossa super-quase-hexa-campeã Seleção Canarinho não precisam daquele aparato todo, e fazem seus treinos com as arquibancadas lotadas de simpatizantes, sempre que os técnicos permitem? Não custa muito a gente entender a diferença. Vamos tentar lembrar de uma meia dúzia ou quem sabe mais fatos que levam, hoje, aos rapazes da seleção estadunidense terem que viver como prisioneiros da sua simpática CIA: quem lembra das bombas de Hiroshima e de Nagasaki? E da Doutrina Monroe? E do bombardeio do palácio governamental do Chile, em 1973, e consecutivo golpe de estado que transformou aquele país num subalterno servo ajoelhado, mero exportador de matéria prima, capacho do Capitalismo Internacional? E das tantas ditaduras implantadas na América dita Latina sob a batuta do terror? E das tantas guerras para marcar presença e vender armas em torno de todo o mundo que estamos vendo desde que nascemos? E das maldades perpetradas contra os povos da América Central e de outros lugares? E o direito sagrado de invasão de outros territórios, depois que Bush II passou a receber ordens diretamente de Deus e invadiu o Afeganistão, o Iraque ... e está invadindo tantos outros lugares que não viram notícia, como o Chaco paraguaio, aqui quase no terreno do nosso vizinho? Eu, heim? A lista é muito maior, mas tem um outro item que não dá para esquecer: a Escola das Américas, que era no Panamá e agora mudou de endereço, onde os sabujos da Doutrina Monroe vão para aprenderem melhor como se pode torturar alguém? Ah! E tem Guantánamo...
A lista é grande, gente, é muito grande. Êta país para imaginar maldades e provocar os conseqüentes ódios em torno do mundo! Daí, quando a seleção deles vai para um grande torneio de festa e alegria, tem que estar lá como a vi hoje ao meio dia: em aparato de guerra, tão cercada de ódio que só se sendo besta para não se prestar atenção no exército que a cerca para tentar separá-la do ódio para que possa jogar. Eu, heim? Sou mais a nossa alegria canarinha, a alegria e a liberdade que muita gente está vivendo naquela festa lá na Alemanha! Coitados daqueles rapazes que são produto de duzentos anos de maldades! Se bem que pensando bem, poderia ser pior: ao invés de estarem jogando, aqueles rapazes poderiam estar no Iraque... Eu, heim?
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
* Por Urda Alice Klueger
(Em tempos de ofensiva da OTAN, é bom recordar.)
Eu, heim? Não tem dado muito tempo para acompanhar a Copa do Mundo na Alemanha, mas o pouco que ando vendo na televisão, somado ao que me conta minha amiga Sabine, moradora de Köln, me dá a idéia de que por lá está acontecendo uma espetacular festa de congraçamento das gentes de todo o mundo! Jogam times de todos os continentes, o Oriente com o Ocidente, os negros com os brancos, o Norte com o Sul, e as torcidas são enormes, coloridas, maravilhosas – as previdentes polícias européias conseguiram segurar seus hooligans em casa e decerto que há uma segurança muito grande, para garantir que não se repita o atentado acontecido na Olimpíada de Munique, em 1972, onde morreram 11 atletas. As televisões fazem reportagens especiais sobre as torcidas as mais diversas, mexicanos com seus sombreros, australianos com seus cangurus, japoneses com seus sorrisos simpáticos, brasileiros de verde-e-amarelo querendo morrer pela Seleção ... uma maravilha! Talvez alguém se pegue de pau num excesso de álcool ou alguma coisa assim que acontece em qualquer bar do mundo, mais cedo ou mais tarde, mas que está dentro da normalidade de uma humanidade que vive competindo, tanto quanto sei, desde Caim e Abel. O que se vê, no entanto, é a alegria, são torcidas rivais cantando juntas, confraternizando – se fossem muitas as alterações, elas teriam virado notícia.
Da nossa Seleção a gente tem notícias esmiuçadas, quase que o passo a passo de cada jogador, da comissão técnica – e eles devem ter seguranças, claro, como imagino que as outras seleções também tenham, pois grande parte dos jogadores valem verdadeiras fortunas e devem provocar a maior tentação em algum seqüestrador por lá perdido, por exemplo – mas nada que se compare ao verdadeiro EXÉRCITO de guarda-costas, guarda-frentes e guarda-ambos-os-lados que acompanha a seleção dos Estados Unidos. Ainda hoje vi num noticiário um treinozinho básico daquela seleção – meu, cara, tinha segurança como mosca, com certeza muitas centenas de guarda-tudo de sóbrios e caros ternos a formarem uma muralha humana em todos os ângulos possíveis que alguém pudesse talvez olhar para aqueles atletas, cerca viva em torno do campo, muito mais potente que qualquer alambrado, pois alambrados não usam armas de fogo, nem gás de pimenta, nem gás lacrimogêneo, nem armas que disparam raios que aquecem líquidos, por exemplo – li outro dia como os cientistas daquela terra estão desenvolvendo as tais armas que disparam raios que aquecem líquidos: viradas contra uma multidão, farão ferver literalmente o sangue das pessoas, que não suportarão estarem sendo fervidas por dentro,e debandarão de qualquer manifestação ou reinvindicação que possam vir a sonhar, qualquer dia.
Eu, heim? Viram no que dá a gente ser malvado? Pois então me digam por que é que a Seleção de Gana, ou a da Suécia, ou Irã, ou de Portugal, ou a do Japão, e mesmo a nossa super-quase-hexa-campeã Seleção Canarinho não precisam daquele aparato todo, e fazem seus treinos com as arquibancadas lotadas de simpatizantes, sempre que os técnicos permitem? Não custa muito a gente entender a diferença. Vamos tentar lembrar de uma meia dúzia ou quem sabe mais fatos que levam, hoje, aos rapazes da seleção estadunidense terem que viver como prisioneiros da sua simpática CIA: quem lembra das bombas de Hiroshima e de Nagasaki? E da Doutrina Monroe? E do bombardeio do palácio governamental do Chile, em 1973, e consecutivo golpe de estado que transformou aquele país num subalterno servo ajoelhado, mero exportador de matéria prima, capacho do Capitalismo Internacional? E das tantas ditaduras implantadas na América dita Latina sob a batuta do terror? E das tantas guerras para marcar presença e vender armas em torno de todo o mundo que estamos vendo desde que nascemos? E das maldades perpetradas contra os povos da América Central e de outros lugares? E o direito sagrado de invasão de outros territórios, depois que Bush II passou a receber ordens diretamente de Deus e invadiu o Afeganistão, o Iraque ... e está invadindo tantos outros lugares que não viram notícia, como o Chaco paraguaio, aqui quase no terreno do nosso vizinho? Eu, heim? A lista é muito maior, mas tem um outro item que não dá para esquecer: a Escola das Américas, que era no Panamá e agora mudou de endereço, onde os sabujos da Doutrina Monroe vão para aprenderem melhor como se pode torturar alguém? Ah! E tem Guantánamo...
A lista é grande, gente, é muito grande. Êta país para imaginar maldades e provocar os conseqüentes ódios em torno do mundo! Daí, quando a seleção deles vai para um grande torneio de festa e alegria, tem que estar lá como a vi hoje ao meio dia: em aparato de guerra, tão cercada de ódio que só se sendo besta para não se prestar atenção no exército que a cerca para tentar separá-la do ódio para que possa jogar. Eu, heim? Sou mais a nossa alegria canarinha, a alegria e a liberdade que muita gente está vivendo naquela festa lá na Alemanha! Coitados daqueles rapazes que são produto de duzentos anos de maldades! Se bem que pensando bem, poderia ser pior: ao invés de estarem jogando, aqueles rapazes poderiam estar no Iraque... Eu, heim?
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
Pois é Urda, e quando você escreveu esta crônica, Bin Laden estava vivo.
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