Polêmico, contraditório, mas genial
Os poetas, por sua posição nada convencional diante do mundo, são, muitas vezes, vistos como pessoas excêntricas e distanciadas da realidade. Alguns, incompreendidos pelos poderosos, acabaram seus dias perseguidos, injuriados e encarcerados em prisões. O exemplo mais característico, neste caso, é o de François Villon, que se tornou um dos bandoleiros mais temidos e odiados da França, no século XV, um dos principais membros da Coquenville (Cavalheiros do Punhal), malta demoníaca de gatunos, trapaceiros, arrombadores, batedores de carteiras, salteadores de estradas, assassinos e rufiões, que fizeram daquele período uma época de terror. Dele se disse que “poucos homens foram culpados de crimes mais torpes. Contudo, poucos homens expressaram pensamentos mais puros”.
Outros poetas, no entanto, assumiram papéis de “bobos da corte”, de bufões, de bajuladores, em determinados regimes, para ter salvo-conduto para suas opiniões e, assim, poderem dizer o que pensavam, sem os riscos potenciais inerentes à “sinceridade”. Não eram levados a sério e, por isso, ficavam imunes às perseguições.
Houve, até, os que terminaram a vida de forma ainda mais melancólica, internados em hospícios, considerados lunáticos, malucos, insanos mentalmente e, portanto, perigosos para o convívio em sociedade. E isso muitos anos antes dos soviéticos consolidarem essa prática, a de mandar para manicômios seus intelectuais dissidentes.
Nosso personagem de hoje, cujo centenário de nascimento transcorreu em 1985, sem festas, comemorações e com raríssimos registros na mídia, foi uma dessas personalidades obcecadas pela verdade, pela justiça e, sobretudo, pela beleza. E, principalmente, pelo irrestrito respeito aos direitos individuais. Essa obsessão, todavia, fez com que perdesse o senso de objetividade, em seus julgamentos e ações políticas. Deixou-se levar pela paixão, em detrimento da razão. E foi essa cegueira que o levou a cometer imensos equívocos, que lhe trouxeram conseqüências sumamente danosas.
Na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, apoiou, convictamente, as potências do Eixo, contra seu próprio país, os Estados Unidos. Por essa razão, foi considerado, pela justiça norte-americana, como traidor da pátria. Escapou de um humilhante e desonroso julgamento público, mas foi considerado “insano” mentalmente. Se escapou da prisão, no entanto, foi punido com uma pena tão ou mais severa: acabou confinado, por doze intermináveis anos, em um hospital psiquiátrico de Washington, desacreditado por completo como artista e intelectual. Seu confinamento foi, sem dúvida, a “morte social” desse nosso personagem.
Essas contingências políticas influenciaram, também, e decisivamente, no julgamento de toda a sua densa e original obra poética – revolucionária, posto que nihilista – por parte dos críticos literários, tanto os do seu país, quanto os de outras partes do mundo. Muito intelectual, ainda hoje, torce o nariz, contrariado, à simples menção do seu nome. Seus noventa e tantos livros foram ignorados e simplesmente banidos das livrarias e bibliotecas e seu nome tornou-se sinônimo de anátema. Outros tantos não o conhecem nem de ouvir dizer, já que os meios de comunicação o ignoraram por completo, como se sequer houvesse existido, e os editores não ousaram publicar nenhuma das suas obras.
O personagem, sobre o qual peço licença para traçar ligeiras considerações, é o poeta norte-americano Ezra Pound, “maldito entre os malditos” na maioria dos círculos literários (que não agem com a desejável isenção para desvincular o pensamento e a criação desse polêmico, mas genial, poeta e intelectual, das convicções ideológicas que nutriu). O crítico Alan Tate, por exemplo, não o absolve do que considera seu “maior pecado”, que foi o de apoiar, ativa e incondicionalmente, o nazi-fascismo.
Todavia, ainda assim, reconhece seu talento (e nem poderia deixar de reconhecer), ao declarar: “Ao votar para que os Cantos de Pound recebessem o Prêmio Bollingen (em 1949), eu reconhecia por um lado que ele tinha feito mais do que qualquer ser humano para regenerar a linguagem, senão a fantasia criativa, do verso inglês. Mas por outro, tinha que reconhecer o fato desagradável de que ele conseguiria isso em passagens versificadas que refletiam opiniões capazes de cobrir toda a gama que vai do pueril ao detestável. Não aceito a defesa da irresponsabilidade (política) de Pound, que não chegou a contaminar a sua poesia. As opiniões desagradáveis (anti-semitas, fascistas) estão bem no cerne de sua poesia. E temos que reconhecê-las como sendo o que realmente são: pontos de vista de uma pessoa cuja filosofia de vida é imatura e incoerente”.
Como foi esse Ezra Pound, mais detestado do que admirado ou sequer conhecido? O que fez de tão grave, a ponto de despertar tamanha ira de tantos, de ser desterrado, literariamente, até por muitos que lhe deveram tanto, face aos inúmeros favores que prestou e ser tido como mentalmente insano? E, principalmente, o que o levou a agir como agiu?
Ezra Pound Loomis nasceu na cidadezinha de Hailey, no Estado de Idaho, nos Estados Unidos, em 30 de outubro de 1885, originário de família tida e havida como “excêntrica” pelos moradores locais. Há muitas histórias divertidas, no mínimo curiosas, envolvendo vários membros desse clã. Conta-se, por exemplo, que seu avô materno mantinha correspondência sui generis com o presidente do banco local. As cartas, de parte a parte, eram escritas, todas, em versos.
A avó e os irmãos não ficavam muito atrás no quesito excentricidade. Trocavam mensagens entre si, igualmente em versos, contudo com métricas pré-estabelecidas. Numa semana as cartas eram escritas, por exemplo, em hexâmetros, em outra, em decassílabos, e assim por diante. Mas sempre adotando metrificações não-convencionais, muitas delas em desuso.
A família de Ezra, por causa desse costume e de outras tantas demonstrações de refinada cultura, entrou para o folclore de Hailey, lugarejo dos mais inexpressivos e atrasados dos Estados Unidos, de algumas poucas dezenas de residências e casas de comércio. E o poeta não degenerou aos seus.
Aos quinze anos, por exemplo, dominava o latim, com tal maestria, que lia e falava essa língua morta com fluência, com maior naturalidade, até, que o inglês. Foi aceito, em tão tenra idade, na Universidade da Pennsylvania, em virtude do brilhante currículo escolar que tinha no Hamilton College. Isso entre 1901 e 1905.
Já nessa época, Ezra demonstrava uma preocupação que o iria acompanhar pelo resto da vida. Ou seja, com os graves desníveis econômicos e, por conseqüência, sociais dos Estados Unidos. Trinta e quatro anos depois, em 1939, quando já residia na Itália, receberia uma das raras homenagens prestadas por seus compatriotas. Foi agraciado, numa das raras visitas que fez aos Estados Unidos, o título de Doutor Honoris Causa do Hamilton College. Se, então, tivesse a capacidade de prever o futuro, veria que, apenas um ano depois de receber essa honraria, se tornaria “persona non grata” na própria pátria.
Para entender a opção de Ezra Pound pelo fascismo, é preciso conhecer alguns antecedentes. E, principalmente analisar certas convicções que nutria desde menino, influenciado pelos pais. Ainda adolescente, o poeta visitou, certa ocasião, a Casa da Moeda. Esse local deixou-lhe uma só, e forte impressão. A de homens desnudos até a cintura, lançando quantidades enormes de moedas de prata em uma fornalha, que estavam sendo derretidas para evitar que houvesse excesso de dinheiro em circulação, o que provocaria inflação no país. Pelo menos foi esta a explicação que lhe deram na ocasião.
Isso chocou profundamente o garoto. Ainda mais quando via inúmeras pessoas, morrendo à míngua, ao seu redor, sem recursos para comprar sequer o essencial, ou seja, alimentos para prover sua subsistência. Recorde-se que Ezra ainda era menino, não entendia nada de economia, mas entendia muito de humanidade, mais do que se poderia esperar para sua idade.
Espírito sensível, sentia-se agredido pela miséria de dezenas de famílias na comunidade que vivia. Revoltava-se com tanta pobreza de alguns, que moravam em casas precárias, sem condições de habitabilidade, autênticas pocilgas, vitimadas por doenças decorrentes de carências materiais, da ignorância e da falta de higiene.
Foi nessa remota visita à Casa da Moeda que nasceu o rancor patológico, o ódio profundo de Ezra Pound pelo capitalismo. A partir de então, passou a denunciar, sempre que podia, a usura, que classificava como “instituição anti-natural e anti-Deus”. O mundo financeiro seria visto pelo poeta, desde então, como fonte de todos os males da humanidade. E, por conseqüência, o sistema capitalista passaria a ser considerado por ele como a “castração do homem, massificação do gado humano e o sufocamento da cultura”.
O equívoco do escritor foi, evidentemente, o de vislumbrar no fascismo de Benito Mussolini a solução para esses males sociais. Apenas no final da vida Ezra reconheceu que esteve enganado o tempo todo a esse respeito. Mas, em 1940, ficou empolgadíssimo com a marcha promovida pelo ditador italiano sobre Roma.
Deixou-se levar, ingenuamente, pela pregação do “Ducce”, que prometia a “restauração da cultura de Dante Aligheri e de um povo de santos, navegadores e poetas”. Acreditou que Mussolini preservaria, e até ampliaria, os direitos fundamentais dos cidadãos. Apoiou, sobretudo, com entusiasmo, a alegada intenção do líder fascista de “abater o capitalismo anacrônico”.
Falando dos seus motivos para a adesão ao discurso do ditador italiano, Ezra Pound explicou, anos mais tarde: “Eu estava certo de defender os direitos do indivíduo. Se, quando o Poder Executivo ou qualquer outro ramo do governo se excede em seus legítimos poderes, e ninguém protesta, todos perdem, gradualmente, suas liberdades. Contra a propaganda do terror e a propaganda do luxo, quem tem pronta uma bela e simples resposta?”.
Boa leitura.
O Editor.
Os poetas, por sua posição nada convencional diante do mundo, são, muitas vezes, vistos como pessoas excêntricas e distanciadas da realidade. Alguns, incompreendidos pelos poderosos, acabaram seus dias perseguidos, injuriados e encarcerados em prisões. O exemplo mais característico, neste caso, é o de François Villon, que se tornou um dos bandoleiros mais temidos e odiados da França, no século XV, um dos principais membros da Coquenville (Cavalheiros do Punhal), malta demoníaca de gatunos, trapaceiros, arrombadores, batedores de carteiras, salteadores de estradas, assassinos e rufiões, que fizeram daquele período uma época de terror. Dele se disse que “poucos homens foram culpados de crimes mais torpes. Contudo, poucos homens expressaram pensamentos mais puros”.
Outros poetas, no entanto, assumiram papéis de “bobos da corte”, de bufões, de bajuladores, em determinados regimes, para ter salvo-conduto para suas opiniões e, assim, poderem dizer o que pensavam, sem os riscos potenciais inerentes à “sinceridade”. Não eram levados a sério e, por isso, ficavam imunes às perseguições.
Houve, até, os que terminaram a vida de forma ainda mais melancólica, internados em hospícios, considerados lunáticos, malucos, insanos mentalmente e, portanto, perigosos para o convívio em sociedade. E isso muitos anos antes dos soviéticos consolidarem essa prática, a de mandar para manicômios seus intelectuais dissidentes.
Nosso personagem de hoje, cujo centenário de nascimento transcorreu em 1985, sem festas, comemorações e com raríssimos registros na mídia, foi uma dessas personalidades obcecadas pela verdade, pela justiça e, sobretudo, pela beleza. E, principalmente, pelo irrestrito respeito aos direitos individuais. Essa obsessão, todavia, fez com que perdesse o senso de objetividade, em seus julgamentos e ações políticas. Deixou-se levar pela paixão, em detrimento da razão. E foi essa cegueira que o levou a cometer imensos equívocos, que lhe trouxeram conseqüências sumamente danosas.
Na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, apoiou, convictamente, as potências do Eixo, contra seu próprio país, os Estados Unidos. Por essa razão, foi considerado, pela justiça norte-americana, como traidor da pátria. Escapou de um humilhante e desonroso julgamento público, mas foi considerado “insano” mentalmente. Se escapou da prisão, no entanto, foi punido com uma pena tão ou mais severa: acabou confinado, por doze intermináveis anos, em um hospital psiquiátrico de Washington, desacreditado por completo como artista e intelectual. Seu confinamento foi, sem dúvida, a “morte social” desse nosso personagem.
Essas contingências políticas influenciaram, também, e decisivamente, no julgamento de toda a sua densa e original obra poética – revolucionária, posto que nihilista – por parte dos críticos literários, tanto os do seu país, quanto os de outras partes do mundo. Muito intelectual, ainda hoje, torce o nariz, contrariado, à simples menção do seu nome. Seus noventa e tantos livros foram ignorados e simplesmente banidos das livrarias e bibliotecas e seu nome tornou-se sinônimo de anátema. Outros tantos não o conhecem nem de ouvir dizer, já que os meios de comunicação o ignoraram por completo, como se sequer houvesse existido, e os editores não ousaram publicar nenhuma das suas obras.
O personagem, sobre o qual peço licença para traçar ligeiras considerações, é o poeta norte-americano Ezra Pound, “maldito entre os malditos” na maioria dos círculos literários (que não agem com a desejável isenção para desvincular o pensamento e a criação desse polêmico, mas genial, poeta e intelectual, das convicções ideológicas que nutriu). O crítico Alan Tate, por exemplo, não o absolve do que considera seu “maior pecado”, que foi o de apoiar, ativa e incondicionalmente, o nazi-fascismo.
Todavia, ainda assim, reconhece seu talento (e nem poderia deixar de reconhecer), ao declarar: “Ao votar para que os Cantos de Pound recebessem o Prêmio Bollingen (em 1949), eu reconhecia por um lado que ele tinha feito mais do que qualquer ser humano para regenerar a linguagem, senão a fantasia criativa, do verso inglês. Mas por outro, tinha que reconhecer o fato desagradável de que ele conseguiria isso em passagens versificadas que refletiam opiniões capazes de cobrir toda a gama que vai do pueril ao detestável. Não aceito a defesa da irresponsabilidade (política) de Pound, que não chegou a contaminar a sua poesia. As opiniões desagradáveis (anti-semitas, fascistas) estão bem no cerne de sua poesia. E temos que reconhecê-las como sendo o que realmente são: pontos de vista de uma pessoa cuja filosofia de vida é imatura e incoerente”.
Como foi esse Ezra Pound, mais detestado do que admirado ou sequer conhecido? O que fez de tão grave, a ponto de despertar tamanha ira de tantos, de ser desterrado, literariamente, até por muitos que lhe deveram tanto, face aos inúmeros favores que prestou e ser tido como mentalmente insano? E, principalmente, o que o levou a agir como agiu?
Ezra Pound Loomis nasceu na cidadezinha de Hailey, no Estado de Idaho, nos Estados Unidos, em 30 de outubro de 1885, originário de família tida e havida como “excêntrica” pelos moradores locais. Há muitas histórias divertidas, no mínimo curiosas, envolvendo vários membros desse clã. Conta-se, por exemplo, que seu avô materno mantinha correspondência sui generis com o presidente do banco local. As cartas, de parte a parte, eram escritas, todas, em versos.
A avó e os irmãos não ficavam muito atrás no quesito excentricidade. Trocavam mensagens entre si, igualmente em versos, contudo com métricas pré-estabelecidas. Numa semana as cartas eram escritas, por exemplo, em hexâmetros, em outra, em decassílabos, e assim por diante. Mas sempre adotando metrificações não-convencionais, muitas delas em desuso.
A família de Ezra, por causa desse costume e de outras tantas demonstrações de refinada cultura, entrou para o folclore de Hailey, lugarejo dos mais inexpressivos e atrasados dos Estados Unidos, de algumas poucas dezenas de residências e casas de comércio. E o poeta não degenerou aos seus.
Aos quinze anos, por exemplo, dominava o latim, com tal maestria, que lia e falava essa língua morta com fluência, com maior naturalidade, até, que o inglês. Foi aceito, em tão tenra idade, na Universidade da Pennsylvania, em virtude do brilhante currículo escolar que tinha no Hamilton College. Isso entre 1901 e 1905.
Já nessa época, Ezra demonstrava uma preocupação que o iria acompanhar pelo resto da vida. Ou seja, com os graves desníveis econômicos e, por conseqüência, sociais dos Estados Unidos. Trinta e quatro anos depois, em 1939, quando já residia na Itália, receberia uma das raras homenagens prestadas por seus compatriotas. Foi agraciado, numa das raras visitas que fez aos Estados Unidos, o título de Doutor Honoris Causa do Hamilton College. Se, então, tivesse a capacidade de prever o futuro, veria que, apenas um ano depois de receber essa honraria, se tornaria “persona non grata” na própria pátria.
Para entender a opção de Ezra Pound pelo fascismo, é preciso conhecer alguns antecedentes. E, principalmente analisar certas convicções que nutria desde menino, influenciado pelos pais. Ainda adolescente, o poeta visitou, certa ocasião, a Casa da Moeda. Esse local deixou-lhe uma só, e forte impressão. A de homens desnudos até a cintura, lançando quantidades enormes de moedas de prata em uma fornalha, que estavam sendo derretidas para evitar que houvesse excesso de dinheiro em circulação, o que provocaria inflação no país. Pelo menos foi esta a explicação que lhe deram na ocasião.
Isso chocou profundamente o garoto. Ainda mais quando via inúmeras pessoas, morrendo à míngua, ao seu redor, sem recursos para comprar sequer o essencial, ou seja, alimentos para prover sua subsistência. Recorde-se que Ezra ainda era menino, não entendia nada de economia, mas entendia muito de humanidade, mais do que se poderia esperar para sua idade.
Espírito sensível, sentia-se agredido pela miséria de dezenas de famílias na comunidade que vivia. Revoltava-se com tanta pobreza de alguns, que moravam em casas precárias, sem condições de habitabilidade, autênticas pocilgas, vitimadas por doenças decorrentes de carências materiais, da ignorância e da falta de higiene.
Foi nessa remota visita à Casa da Moeda que nasceu o rancor patológico, o ódio profundo de Ezra Pound pelo capitalismo. A partir de então, passou a denunciar, sempre que podia, a usura, que classificava como “instituição anti-natural e anti-Deus”. O mundo financeiro seria visto pelo poeta, desde então, como fonte de todos os males da humanidade. E, por conseqüência, o sistema capitalista passaria a ser considerado por ele como a “castração do homem, massificação do gado humano e o sufocamento da cultura”.
O equívoco do escritor foi, evidentemente, o de vislumbrar no fascismo de Benito Mussolini a solução para esses males sociais. Apenas no final da vida Ezra reconheceu que esteve enganado o tempo todo a esse respeito. Mas, em 1940, ficou empolgadíssimo com a marcha promovida pelo ditador italiano sobre Roma.
Deixou-se levar, ingenuamente, pela pregação do “Ducce”, que prometia a “restauração da cultura de Dante Aligheri e de um povo de santos, navegadores e poetas”. Acreditou que Mussolini preservaria, e até ampliaria, os direitos fundamentais dos cidadãos. Apoiou, sobretudo, com entusiasmo, a alegada intenção do líder fascista de “abater o capitalismo anacrônico”.
Falando dos seus motivos para a adesão ao discurso do ditador italiano, Ezra Pound explicou, anos mais tarde: “Eu estava certo de defender os direitos do indivíduo. Se, quando o Poder Executivo ou qualquer outro ramo do governo se excede em seus legítimos poderes, e ninguém protesta, todos perdem, gradualmente, suas liberdades. Contra a propaganda do terror e a propaganda do luxo, quem tem pronta uma bela e simples resposta?”.
Boa leitura.
O Editor.
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Eu não tenho, mas fico admirada com convicções além dos riscos.
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