sexta-feira, 19 de agosto de 2011



Poeta das gerais


Tenho a satisfação – porquanto fico feliz quando posso resgatar a memória de algum escritor que esteja esquecido – de apresentar, para quem não conhece e de recordar, para quem já teve contato com sua obra, um grande poeta de Minas Gerais. Trata-se de um veterano, com anos e anos de produção, que privou, inclusive, da amizade de um ilustre (diria, ilustríssimo) seresteiro de alma pura, da cidade mineira de Diamantina, que viria a se transformar num dos mais liberais, progressistas, democráticos e fascinantes presidentes da República brasileiros: Juscelino Kubitschek.
Refiro-me a Nilo Aparecido Pinto, que se destacou, notadamente, como trovador. Há poucas referências a seu respeito, fora de Minas Gerais, e sua obra consta de raras antologias, mas sempre com escassos dados biográficos, que não permitem que tracemos seu perfil com relativa precisão.
Ao ler seus maravilhosos sonetos e, sobretudo, suas especialíssimas trovas, que revelam um poeta da maior sensibilidade e grandeza, fica patente a injustiça com esse magnífico poeta das gerais. Fiquei sabendo, entre as poucas referências que consultei, que Nilo Aparecido Pinto integrou a chamada “Geração de 1945”, cujo expoente maior foi, sem dúvida, Ledo Ivo, vertente esta responsável direta pela renovação do Modernismo no Brasil.
Alguns outros nomes ilustres desta fase são: João Cabral de Mello e Neto, Afonso Félix de Sousa, Darcy Damasceno, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Marly de Oliveira, e vai por aí afora.
A primeira referência que tive de Nilo Aparecido Pinto (até então nunca havia ouvido falar dele), foi no discurso de posse de Juscelino Kubitschek na Academia Mineira de Letras, proferido em 1975, cuja cópia recebi de um amigo. Em determinado trecho de seu pronunciamento, JK cita estes versos do inspirado amigo e conterrâneo;

“Sou lírico, nasci de ignotas dores,
e a lua, suave mãe dos trovadores,
amamentou minha ventura escassa...”

Mais adiante, o ex-presidente da República cita esta pérola de Nilo Aparecido Pinto:

“Sinto que vais chegar: abro-te a porta.
Ouço, agoras, teu passo cristalino
No lajedo dos astros, e imagino
A tua lenda azul na noite morta...”

Como se nota, trata-se de poesia pura, fruto de genuína emoção! É o reflexo daquela inquietação, daquela melancolia, daquele nó na garganta que o poeta experimenta quando está “grávido” de uma criação. Quem escreve assim, convenhamos, mereceria maior visibilidade, para nos encantar com o seu talento e inspirar as novas gerações a seguirem seus passos. Sinta, paciente leitor, a beleza desta trova, cujo título desconheço:

“Amor é um diamante raro,
Namoro é um velho garimpo...
O enlace, se bem comparo,
É o amor passado a limpo”.

Ou desta, não menos expressiva:

“Eu, se de amor ando louco,
Culpados somos iguais:
Tu – me querendo tão pouco,
Eu – te querendo demais!”

Ou destes “Versos líricos”:


Sonhei com a Virgem Maria
--- no céu, num trono de flores –,
Nossa Senhora aplaudia
o canto dos trovadores.

Sinto que vais chegar: abro-te a porta,
ouço, agora, teu passo cristalino
no lajedo dos astros, e imagino
a tua lenda azul na noite morta.

Sou lírico, nasci de ignotas dores,
e a lua, suave mãe dos trovadores,
amamentou minha ventura escassa.


A leitura desta pequena, porém preciosa amostra do talento de Nilo Aparecido Pinto leva-me a dar razão ao nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, quando constata que “a obra de arte é o resultado feliz de uma angústia contínua”. Pode haver remota dúvida a respeito?!

Boa leitura.

O Editor.




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Um comentário:

  1. O poeta é mesmo grande. Nem todos os que você, Pedro, elogia e enumera os versos, eu gosto. Deve ser porque eu não os compreendo. De Nilo Pinto eu entendi tudo, e gostei bastante, especialmente dos primeiros versos colocados.As duas últimas trovas ficaram repetidas, e acho que você não reparou.

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