segunda-feira, 29 de agosto de 2011



O golpe do disque seqüestro

* Por Giovani Roehrs Gelati

Estamos com o seu filho. Não desligue o telefone, senão apagamos ele. Se avisar a polícia, ele morre. Você quer o seu filho vivo? Então deverá fazer exatamente o que estou dizendo. Deposite cinco mil reais nesta conta, anota aí.... E nada de avisar a polícia, certo?”
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Foi mais ou menos esse o diálogo inicial de um conhecido meu com o suposto sequestrador do seu filho. Este fato ocorreu meses atrás, mas sua incidência é quotidiana. Não havia sequestrador, muito menos sequestrado. É um golpe ao qual muitas pessoas já sucumbiram.
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Não é novidade aos bandidos essa maneira de ganhar dinheiro "fácil". Infelizmente, a mente humana tem o seu brilhantismo também à disposição do mal.
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A história acima ocorreu ao amanhecer de uma quinta-feira, com dois idosos. Eles tomavam seu chimarrão costumeiro quando receberam a ligação pelo celular. Ao ouvir que o filho fora sequestrado, o pai mal conseguiu raciocinar e continuou acreditando na mentira maldosa. Era cedo e o banco não havia aberto ainda. Saiu o casal, desesperado pela rua, gritando que o filho iria morrer, a caminho do banco.
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"É caso de vida ou morte", respondeu a mãe ao segurança do banco. Este chamou o gerente, que os mandou entrar. Enquanto a polícia dirigia-se ao banco, acionada pela gerência, o pai continuava ao telefone, sendo ameaçado pelos sequestradores.
O desespero era tanto que a mãe não recordava o número do filho, até lembrar-se que estava anotado na sua agenda. A ligação foi realizada e o primogênito, que estava são e salvo em casa, tranquilizou todos.
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Ficou evidente que se tratava de um falso sequestro pelo telefone.
Realmente, não passava de uma ligação feita por bandidos que tentavam subtrair dinheiro de duas pessoas que não conheciam, mas sabiam dos efeitos devastadores das suas palavras.

"Eu escutei a voz do meu filho. Era ele mesmo". O desespero em que a pessoa entra após ouvir que alguma pessoa muito próxima foi sequestrada acaba por diminuir o discernimento entre realidade e ficção. É o que afirmou o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, na edição de 12 de fevereiro de 2007, da Revista Veja: "O estado de desorganização mental que se segue a uma notícia de acidente ou sequestro do filho ou cônjuge faz com que a vítima entre em um estado de quase-hipnose".
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A reportagem antiga faz perceber que o golpe é velho. Ainda assim, muita gente continua sendo vítima de pilantragens como esta.
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Outra modalidade semelhante ao "disque-sequestro" é a "ligação-premiada", onde um suposto funcionário de uma empresa conhecida informa que a pessoa ganhou boa quantia em dinheiro e para que seja depositado na sua conta, deve comprar cartões telefônicos e informar o número do código, ou então depositar 500 reais para ganhar os dois mil da premiação.
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Ligações como essas podem ocorrer tanto em São Paulo como em qualquer outro canto do país. Ainda mais com a facilidade que existe, atualmente, em acessar as informações de qualquer pessoa. As lojas detêm um cadastro com incontáveis informações pessoais, que vão de nome completo a filiação, CPF e endereço.
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As redes de relacionamento na internet dispõem de álbuns de foto, onde o internauta divulga imagens da sua casa, dos pais, filhos, irmãos, amigos de maior convivência, local de trabalho, isso se não escancarar o endereço e o número do celular. Basta um acesso rápido aos álbuns, nem sempre disponíveis apenas a amigos, mas a amigos dos amigos ou àqueles que são adicionados sem realmente sabermos quem são e, pronto, tem-se uma ficha completa.
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Também são encontradas informações que você quer que apareçam e também o que não quer se digitar o seu nome no site do Google: concursos realizados, aprovações, promoções em empresa pública ou caso seja citado num site; tudo isto/está disponível na web.É muita informação solta, livre e fácil de ser encontrada e fica difícil manter em segredo, na internet, a própria atividade profissional, rede de amigos e demais dados pessoais.
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Ajuda se controlar o impulso de postar na internet tudo o que ocorre consigo. A foto está tão bonita, dá tanta vontade de deixá-la pública para que os meus amigos vejam. E para que os inimigos invejem. É um enorme campo para contraventores aproveitarem-se e usarem contra nós.
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Não se desesperar ao ouvir o anúncio do sequestro, quando ele pode ser verdadeiro, é uma tarefa difícil. Mas é possível bloquear imagens, selecioná-las melhor para que nossa vida fique menos exposta e tentar permanecer sempre atento a qualquer chamada fora do usual.

• Contista, cronista e escritor gaúcho, graduado em Língua Portuguesa pela PUCRS Campus Uruguaiana

Um comentário:

  1. Já passei por essa algumas vezes, na primeira vez
    cheguei a ficar um pouco nervosa, mas quando ele falou que precisaria do dinheiro ou sua vida corria risco, deixei que esgotasse todo o seu discurso enquanto olhava para o meu filho dormindo tranquilamente no quarto.
    Já na segunda vez, a menina chorava muito e se identificou como minha filha, zoei com o trote e eles desligaram me xingando.
    O alerta é super válido.
    Abraços

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