A descida do anjo
* Por Talis Andrade
A Mauro Ferreira Lima
Desceu um Anjo
e cingiu-lhe a fronte
de rosas e beijos.
Coa madrugada,
quando ele partiu
nem sequer sentiu
a ferida que sangrava,
desde que era jovem
e imensamente belo.
No segredo do quarto,
quando retornou a noite,
começou a sofrer
uma excessiva sensibilidade
que não lhe deixava dormir.
O corpo era todo olfato:
as narinas aguçadas
por estranhos cheiros
trazidos de longe
pelo vadio vento.
Os ouvidos sondavam sons
vindos das florestas:
os gritos dos animais em luta,
os gritos dos animais no cio.
Os ouvidos sondavam sons
dos mais profundos abismos.
Os ouvidos detectavam estranhas falas
de longínquos países:
as vozes das casas vivas,
os lareiros, os fogões acesos.
A visão acordada.
Os olhos - que se deslumbraram
com o colorido das flores, o encanto das mulheres -
aguardavam, no distante horizonte,
uma aparição alada.
Contraído e indefeso
no canto da noite,
sofria o frio
de quem está nu,
sofria o calor
de quem arde
desejoso de amor.
Chegado o sétimo dia,
ansioso pela espera,
profanou-se com os homens
pela desconcertante semelhança
com o Anjo.
E passados mais sete
longos parados dias
foi encontrado boiando
no lodo resvaladiço.
Escorria da boca
podre sangue azul.
A linda boca, vermelha
de papoulas e beijos,
ainda hoje permanece
umedecida de pus.
* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
* Por Talis Andrade
A Mauro Ferreira Lima
Desceu um Anjo
e cingiu-lhe a fronte
de rosas e beijos.
Coa madrugada,
quando ele partiu
nem sequer sentiu
a ferida que sangrava,
desde que era jovem
e imensamente belo.
No segredo do quarto,
quando retornou a noite,
começou a sofrer
uma excessiva sensibilidade
que não lhe deixava dormir.
O corpo era todo olfato:
as narinas aguçadas
por estranhos cheiros
trazidos de longe
pelo vadio vento.
Os ouvidos sondavam sons
vindos das florestas:
os gritos dos animais em luta,
os gritos dos animais no cio.
Os ouvidos sondavam sons
dos mais profundos abismos.
Os ouvidos detectavam estranhas falas
de longínquos países:
as vozes das casas vivas,
os lareiros, os fogões acesos.
A visão acordada.
Os olhos - que se deslumbraram
com o colorido das flores, o encanto das mulheres -
aguardavam, no distante horizonte,
uma aparição alada.
Contraído e indefeso
no canto da noite,
sofria o frio
de quem está nu,
sofria o calor
de quem arde
desejoso de amor.
Chegado o sétimo dia,
ansioso pela espera,
profanou-se com os homens
pela desconcertante semelhança
com o Anjo.
E passados mais sete
longos parados dias
foi encontrado boiando
no lodo resvaladiço.
Escorria da boca
podre sangue azul.
A linda boca, vermelha
de papoulas e beijos,
ainda hoje permanece
umedecida de pus.
* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
Que ainda nos reste algum encanto
ResponderExcluirsó para sentir os lábios de um anjo.
Abraços
Prefiro não receber essa visita. Se a de um anjo é assim, faço ideia de como seria a de um anjo decaído.
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