quinta-feira, 11 de agosto de 2011







O poder feminino mostra a cara

* Por Pedro J. Bondaczuk


As investigações realizadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso PC Farias celebrizaram, da noite para o dia, algumas mulheres, cujos nomes e funções são repetidos com facilidade pelas pessoas bem-informadas.

Antes, tão logo o irmão do presidente Fernando Collor, Pedro Collor, fez as denúncias que originaram a histórica CPI, uma beldade ganhou as primeiras páginas de jornais e revistas do País, com foto, inclusive, em matéria interna da revista norte-americana “Time”: Maria Thereza Collor.

Mas quem conseguiu projeção mesmo foram as secretárias Ana Maria Acioli Gomes, Rosinete Melanias, Marta Vasconcelos, Sandra Fernandez, Elizabeth Luporini e Izabel Teixeira. Algumas projetaram-se como vilãs, outras como vítimas ou até heroínas.

A celebridade não escolhe, e nunca escolheu, sexo. Até porque, caráter, inteligência e competência independem das pessoas serem homens ou mulheres. Personagens femininas pontilham a história como santas ou pecadoras, heroínas ou vilãs, seres humanos dotados de raro altruísmo e frias e cruéis assassinas.

Guerras sangrentas tiveram por pivôs mulheres. Foi o caso de Tróia, cujo conflito, narrado com rara maestria pelo poeta Homero na sua “Ilíada”, teve como origem o rapto de Helena por parte de Paris.

Em Roma, Messalina destacou-se pelo insaciável apetite sexual. A egípcia Cleópatra virou a cabeça do romano Marco Antonio. Salomão apaixonou-se pela Rainha de Sabá, afrontando a ira dos sacerdotes judeus. Estas são algumas mulheres encaradas como vilãs, mas há o outro lado da moeda.

O famoso Museu de Cera de Madame Trussaud de Paris realizou uma pesquisa em 1974 para apurar quais foram as pessoas mais amadas e odiadas da História. Na primeira relação foi incluída, em quarto lugar, Joana D’Arc, guerreira francesa, que em 1429 comandou o exército do seu país que rompeu o cerco à cidade de Orleans feito pelos ingleses, salvando, virtualmente, a França. Seu ato de heroísmo custou-lhe a vida, já que foi queimada como feiticeira numa fogueira em 1431.

Essa personalidade feminina, hoje beatificada, ficou atrás apenas de Jesus Cristo, Winston Churchill e John Kennedy na pesquisa do museu de cera. Entre as pessoas mais odiadas da História, não há uma única mulher. E nem poderia haver. Mas os compêndios perpetuam outras figuras femininas fortes.

Uma é Lucrécia Bórgia, que viveu entre 1480 e 1519 na região central da Itália, célebre pela sua perfídia e por matar os rivais de seu irmão, César, com veneno que trazia no engaste de seu anel e que derramava no vinho dos desafetos.

A francesa Catarina de Médicis, por sua vez, foi a responsável pelo massacre de quase meio milhão de huguenotes, na tristemente célebre Noite de São Bartolomeu, em 24 de agosto de 1572, durante a chamada Guerra das Religiões.

Já Catarina II, a Grande, da Rússia, que viveu entre 1762 e 1796, destacou-se pelas reformas que implantou, modernizando o seu país e tornando a corte russa, em São Petersburgo, uma das mais sofisticadas da Europa. A Grã-Bretanha teve, no longo reinado da rainha Vitória, que foi de 1837 a 1901, o seu apogeu, criando um império tão vasto que os ingleses diziam com orgulho que nas suas fronteiras “o sol jamais se punha”.

Nos tempos mais atuais tivemos personalidades femininas fascinantes, como Hellen Keller, a enfermeira Florence Nightingale, Anne Frank, Madame Curie e a espiã Mata Hari, holandesa, que trabalhou para a Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial e Mathilde Carré, francesa, conhecida como “A Gata” pela sua enorme beleza, que atuou como agente dupla espionando para os alemães e para a Resistência, durante a Segunda Guerra Mundial.

Mas não se pode esquecer de uma figura sublime como a de Madre Teresa de Calcutá. Ou de Irmã Dulce, no Brasil. Isto para não entrar no terreno das artes, do cinema, do teatro, da literatura, da pintura, da escultura e tantas outras áreas.

Fato curioso é que as mulheres que ascenderam ao poder, pelo menos nos últimos 30 anos, se revelaram, em geral, bastante belicosas. Golda Meir, por exemplo, lançou Israel na Guerra dos Seis Dias; Indira Gandhi guerreou contra o Paquistão, em 1971. e a dama-de-ferro britânica, Margareth Thatcher, comandou a expulsão argentina das Ilhas Malvinas em 1982.

Apesar da discriminação contra o sexo feminino, que ainda persiste através do mundo, embora em escala bem menor do que há somente duas décadas, milhares e milhares de mulheres se destacaram e continuam se destacando não somente pela sua beleza ou dotes do coração, mas pela inteligência, pela energia, pela liderança e sobretudo pela competência.


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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