quarta-feira, 17 de agosto de 2011







É transa e tanto faz?

* Por Marleuza Machado

"Quando se quer mais, a gente diz bye, bye..."


A frase acima é parte da canção "Transas", uma balada romântica dos anos oitenta, interpretada pelo inglês radicado no Brasil, Ritchie. A letra fala das relações modernas, onde o que se busca são relacionamentos casuais e quando há envolvimento emocional, fatalmente uma das partes provoca o rompimento em vista de assumir compromissos. Esse comportamento foi detectado há mais de trinta anos e até hoje persiste. Corrijo, hoje, na maioria dos casos, nenhuma das partes arrisca um envolvimento mais complexo, principalmente em se tratando de pessoas maduras.
Quem já viveu uma relação duradoura e está à procura de novo amor, muitas vezes se apresenta como uma sinopse de obra fechada: Já tem estória definida; não abre espaço para novos personagens, novos enredos. Seu dia-a-dia baseia-se na dedicação ao trabalho, filhos e amarga certa solidão que permeia sua vida meio insossa. Porém, se envolve. E quase sempre rompe, não sem antes ter mantido um contato íntimo. É comum recorrer à tratamentos psiquiátricos e psicoterápicos, como se ambos fossem capazes de preencher a lacuna aberta na alma. Na contramão, vem aquele que por motivos vários ainda não conseguiu manter união estável e sempre que essa possibilidade surge, por medo do desconhecido, de perder sua individualidade, acaba pondo fim à todo relacionamento que poderia ser muito prazeroso. Nos dois casos, fica a frustração de que tudo não passou de uma transa. Apenas.
Pergunte a um solteiro maduro próximo a você qual sua opinião a respeito do sexo oposto quanto à seriedade das relações amorosas. Ele responderá com certeza: "Não querem nada com nada; só ficar!" É isso mesmo! Homens e mulheres nessa idade conjugam largamente o verbo "ficar", acreditando ser uma conquista da vida moderna. Querem recuperar a adolescência que acena ao longe, diante das indisfarçáveis rugas e fios brancos nos cabelos. E estão cada dia mais sós. Relacionam-se pelo internet, via torpedos; perdem o contato físico-afetivo tão necessário a uma boa saúde emocional. Lotam consultórios médicos; fomentam a indústria farmacêutica! Em muitos casos, buscam refúgio nas bebidas e drogas. Por medo de perder espaço em seus confortáveis mundinhos egoístas, renunciam à possibilidade de viver uma estória de amor. Assim seguem numa busca contínua de afetos pelos quais não aceitam correr riscos.
Confusão não? A quem atribuir culpa? Como reencontrar caminhos que levam a uma relação duradoura e feliz, sem querer escapar na primeira encruzilhada?
Bom seria seguir à risca a receita de Paulo de Tarso em Coríntios I, cap. 13: 4 , 5 e 7: "O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece; não se porta inconvenientemente, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."
Acha que precisa acrescentar mais algum ingrediente? A dose exata de qualquer deles, cada um de nós decide como e quando usar, na medida em que se sentir capaz. Não vale alegar imaturidade por toda uma vida! Além de todos os ingredientes citados por Paulo de Tarso, eu sugeriria uma dose grande de coragem. Assim, com certeza, agiremos com sabedoria e trocaremos a inconstância do verbo "ficar" pela estabilidade do verbo "amar".

• Poetisa e jornalista

3 comentários:

  1. Argumentação irrefutável, numa bela análise dos relacionamentos superficiais de hoje. A parte mais profunda é o sexo e nada mais. A profundidade real fica por conta dos furos na alma. Excelente texto, Marleuza, de quem entende a pessoa humana.

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  2. Talvez sejam conclusões de quem está buscando entender a si própria, meus queridos e gentis amigos!
    Grata pelos comentários.
    Abraços!

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