Que canseira!
* Por Lêda Selma
Que tal discutirmos o sexo dos anjos? Talvez, quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Quem sabe, o culpado pelo pecado original: a Serpente, Adão ou Eva?! Ou o motivo por que o Saci Pererê era portador de necessidades especiais? Hã... um jeito de se encarar algo/alguém de costas?! E, ainda, por que não temos um olho na parte de trás da cabeça?!
Qualquer assunto é menos desgastante e enfadonho do que as controvérsias sobre o tal emprego do vocábulo presidenta. Meu Deus, Jesus Cristo, Santa Maria, Todos os Santos, “Padim Pade Ciço”, anjos, arcanjos, querubins, serafins, orixás, socorro! Livrem meus ouvidos e meus olhos dessa chatice, dessa besteirice! Não aguento mais tamanha lenga-lenga, essa ladainha com cara de discussão fastidiosa. O próximo a enviar-me e-mail citando os descabidos e ridículos exemplos, porquanto inexistentes, “adolescenta, doenta, estudanta...” e demais excrescências aparentadas, processarei! Por danos visuais. Se o acinte for verbal, danos auditivos!
Repito: a palavra é legítima, seu uso, correto. É substantivo feminino, conforme dicionários de incontestável importância: Houaiss, Aurélio, VOLP (da Academia Brasileira de Letras), Caldas Aulete, Michaelis, Cândido Figueiredo, Cegalla, Luft, Pasquale, Enciclopédia Delta Larousse, Dicionário Escolar da Língua Portuguesa (aqueeeele de capa dura, grossa, preta (melhor, afro-descendente), organizado por Francisco da Silveira Bueno, em 1956, destinado aos estudantes). Presidenta? Ih!... não é de agora...!
Em 1943, com aprovação unânime da Academia Brasileira de Letras, surgiu o Vocabulário Ortográfico Brasileiro da Língua Portuguesa, de Aurélio B. de Holanda Ferreira, cuja base foi o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa (edição, 1940), após acordo entre as academias Brasileira e Portuguesa. Em ambos, “presidenta – s.f.”.
Tudo bem que os inconformados prefiram presidente à presidenta. Qual o problema? Devem estar escorados no “Vocabulário Portuguez & Latino”, do padre inglês Rafhael Bluteau, que, residente em Lisboa, publicou-o, em 8 volumes, no período de 1712 a 1728, tido como a primeira bem-sucedida edição do gênero. Por certo, alegraram-se, os desafetos de presidenta, ao verem o vocábulo, sem classe e gênero gramaticais definidos, de cueca, terno e gravata. Sim, porque, de forma taxativa, ele concede exclusividade ao homem para o ato de presidir: ”Presidente: deve ser homem, douto, versado nos negócios concernentes ao seu officio (...), & mais q todos dará conta a Deos das injustiças que se commetterem, como causa principal dellas” (sic).
Que se regozijem, pois, mesmo com séculos de atraso, os/as machistas de plantão (ai, ai, ai!!! Nem pensem em “machistos”, por piedade!)
Um brasileiro, do Rio de Janeiro, residente em Lisboa, Antônio Moraes Silva, em 1789, ampliou e enriqueceu o trabalho do padre Rafhael, com seu “Dicionário da Língua Portuguesa”, trabalho considerado o mais completo da categoria. Sua 2ª edição, a definitiva do autor, data de 1813. E pasmem: é de um goiano, Luiz Maria da Silva Pinto, natural da Província de Goyaz, o primeiro dicionário de língua portuguesa, escrito e publicado no Brasil, em 1832 (foi impresso em Ouro Preto/MG), intitulado Dicionário - Língua Brasileira. Sobre presidente, é lacônico: “part. a de presidir” (sic). De enorme significância lexicográfica e histórica, trata-se de uma preciosidade rara e quase desconhecida.
Felizmente, a língua, o tempo, a história são dinâmicos e não, estáticos, e alimentam-se de evolução. Dilma que o diga! E, também, os vocábulos!
Anedota ou verdade, contam que, um homem do povo, ao ouvir discursar Rui Barbosa, empolgou-se, e, todo cheio de si, disse ao orador: "Eu tenho um livro lá em casa que tem tudo o que o senhor falou". Surpreso, Rui perguntou-lhe: "Que livro é esse?!". E o homem simples: "Dicionário". Incito os detratores de “presidenta” a uma passadinha pelos dicionários (mais novos que o do padre Raphael, por favor!), assim, quem sabe, deixarão em paz a palavra!? Respeitá-la é também legítimo!
Crônica publicada no jornal “Diário da Manhã”, em 24 de julho de 2011
• Poetisa e cronista, licenciada em Letras Vernáculas, imortal da Academia Goiana de Letras, baiana de Urandi, autora de “Das sendas travessia”, “Erro Médico”, “A dor da gente”, “Pois é filho”, “Fuligens do sonho”, “Migrações das Horas”, “Nem te conto”, “À deriva” e “Hum sei não!”, entre outros.
* Por Lêda Selma
Que tal discutirmos o sexo dos anjos? Talvez, quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Quem sabe, o culpado pelo pecado original: a Serpente, Adão ou Eva?! Ou o motivo por que o Saci Pererê era portador de necessidades especiais? Hã... um jeito de se encarar algo/alguém de costas?! E, ainda, por que não temos um olho na parte de trás da cabeça?!
Qualquer assunto é menos desgastante e enfadonho do que as controvérsias sobre o tal emprego do vocábulo presidenta. Meu Deus, Jesus Cristo, Santa Maria, Todos os Santos, “Padim Pade Ciço”, anjos, arcanjos, querubins, serafins, orixás, socorro! Livrem meus ouvidos e meus olhos dessa chatice, dessa besteirice! Não aguento mais tamanha lenga-lenga, essa ladainha com cara de discussão fastidiosa. O próximo a enviar-me e-mail citando os descabidos e ridículos exemplos, porquanto inexistentes, “adolescenta, doenta, estudanta...” e demais excrescências aparentadas, processarei! Por danos visuais. Se o acinte for verbal, danos auditivos!
Repito: a palavra é legítima, seu uso, correto. É substantivo feminino, conforme dicionários de incontestável importância: Houaiss, Aurélio, VOLP (da Academia Brasileira de Letras), Caldas Aulete, Michaelis, Cândido Figueiredo, Cegalla, Luft, Pasquale, Enciclopédia Delta Larousse, Dicionário Escolar da Língua Portuguesa (aqueeeele de capa dura, grossa, preta (melhor, afro-descendente), organizado por Francisco da Silveira Bueno, em 1956, destinado aos estudantes). Presidenta? Ih!... não é de agora...!
Em 1943, com aprovação unânime da Academia Brasileira de Letras, surgiu o Vocabulário Ortográfico Brasileiro da Língua Portuguesa, de Aurélio B. de Holanda Ferreira, cuja base foi o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa (edição, 1940), após acordo entre as academias Brasileira e Portuguesa. Em ambos, “presidenta – s.f.”.
Tudo bem que os inconformados prefiram presidente à presidenta. Qual o problema? Devem estar escorados no “Vocabulário Portuguez & Latino”, do padre inglês Rafhael Bluteau, que, residente em Lisboa, publicou-o, em 8 volumes, no período de 1712 a 1728, tido como a primeira bem-sucedida edição do gênero. Por certo, alegraram-se, os desafetos de presidenta, ao verem o vocábulo, sem classe e gênero gramaticais definidos, de cueca, terno e gravata. Sim, porque, de forma taxativa, ele concede exclusividade ao homem para o ato de presidir: ”Presidente: deve ser homem, douto, versado nos negócios concernentes ao seu officio (...), & mais q todos dará conta a Deos das injustiças que se commetterem, como causa principal dellas” (sic).
Que se regozijem, pois, mesmo com séculos de atraso, os/as machistas de plantão (ai, ai, ai!!! Nem pensem em “machistos”, por piedade!)
Um brasileiro, do Rio de Janeiro, residente em Lisboa, Antônio Moraes Silva, em 1789, ampliou e enriqueceu o trabalho do padre Rafhael, com seu “Dicionário da Língua Portuguesa”, trabalho considerado o mais completo da categoria. Sua 2ª edição, a definitiva do autor, data de 1813. E pasmem: é de um goiano, Luiz Maria da Silva Pinto, natural da Província de Goyaz, o primeiro dicionário de língua portuguesa, escrito e publicado no Brasil, em 1832 (foi impresso em Ouro Preto/MG), intitulado Dicionário - Língua Brasileira. Sobre presidente, é lacônico: “part. a de presidir” (sic). De enorme significância lexicográfica e histórica, trata-se de uma preciosidade rara e quase desconhecida.
Felizmente, a língua, o tempo, a história são dinâmicos e não, estáticos, e alimentam-se de evolução. Dilma que o diga! E, também, os vocábulos!
Anedota ou verdade, contam que, um homem do povo, ao ouvir discursar Rui Barbosa, empolgou-se, e, todo cheio de si, disse ao orador: "Eu tenho um livro lá em casa que tem tudo o que o senhor falou". Surpreso, Rui perguntou-lhe: "Que livro é esse?!". E o homem simples: "Dicionário". Incito os detratores de “presidenta” a uma passadinha pelos dicionários (mais novos que o do padre Raphael, por favor!), assim, quem sabe, deixarão em paz a palavra!? Respeitá-la é também legítimo!
Crônica publicada no jornal “Diário da Manhã”, em 24 de julho de 2011
• Poetisa e cronista, licenciada em Letras Vernáculas, imortal da Academia Goiana de Letras, baiana de Urandi, autora de “Das sendas travessia”, “Erro Médico”, “A dor da gente”, “Pois é filho”, “Fuligens do sonho”, “Migrações das Horas”, “Nem te conto”, “À deriva” e “Hum sei não!”, entre outros.
Lêda Selma escreveu outro texto defendendo a correção do termo presidenta.
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