domingo, 21 de agosto de 2011







Os lutadores e os omissos


* Por Pedro J. Bondaczuk


As dificuldades da vida, como a instabilidade econômica, a violência urbana, a disseminação da miséria e problemas familiares e existenciais, levam muitas pessoas a se tornarem "catastrofistas". A maioria assume um renitente e amargo pessimismo e chega a perder contato com a realidade, desconfiando de tudo e de todos.
Certos indivíduos perdem seus referenciais, isolam-se, ficam agressivos e cultivam a solidão. Arraigam-se a um individualismo exacerbado, que descamba para o egoísmo. Agem como se apenas eles tivessem problemas e culpam o mundo por suas dificuldades e vulnerabilidades. Não se dão conta, mas estão fechando todas as portas para a felicidade.
O que tais indivíduos não entendem é que são estes obstáculos e desafios que tornam a vida tão fascinante. O mal existe em toda a parte e sempre existiu. Mas este fato não libera ninguém de fazer a sua parte para tornar o mundo melhor. Quando não mediante obras concretas, pelo menos através do exemplo, da autodisciplina, da visão construtiva e da busca do autoconhecimento, para corrigir, e se possível eliminar, as tendências negativas.
Sir Bertrand Russell, filósofo, matemático e ativista de direitos humanos e das teses pacifistas até sua morte, aos 96 anos, constatou: "Talvez eu tenha acreditado que o caminho para um mundo de homens livres e felizes fosse mais curto do que está demonstrando ser, mas não errei ao pensar que tal mundo é possível e que vale a pena viver, enquanto isso, com a intenção de torná-lo mais próximo".
A realidade atual, tal como se nos apresenta, chega, de fato, a ser assustadora. Guerras civis, ou de outra natureza, sucedem-se, com todo o desfile de horrores que trazem no seu caudal. O Haiti está se decompondo desde o terremoto que o arrasou, a despeito da missão das Nações Unidas, liderada por tropas brasileiras, tentar restabelecer a ordem neste que é o país mais miserável das Américas.
A miséria afeta a dois terços da humanidade, enquanto o um terço restante vive inútil e perdulariamente, aferrado egoisticamente na acumulação e consumo de muito mais bens e recursos do que suas necessidades.
Milhares, milhões de jovens se deixam levar pelo consumo de drogas, pela licenciosidade sexual e pela violência (ostensiva ou disfarçada), como se não tivessem perspectivas de um amanhã. Ainda assim, com tanta coisa negativa que nos cerca, se atentarmos bem, perceberemos que o mundo, em alguns aspectos, evoluiu para melhor.
A Guerra Fria, por exemplo, que por cinco décadas manteve a humanidade na perspectiva de destruição, acabou. A medicina desenvolveu técnicas e medicamentos para aliviar o sofrimento de milhões.
Mesmo o Brasil, assolado pelo aumento da insegurança pessoal face ao crescimento da criminalidade e por uma interminável crise social, teve progressos notáveis. A economia voltou a crescer. A inflação está sob relativo controle, embora às custas de juros exorbitantes, que inibem investimentos.
Perspectivas mais alentadoras abrem-se diante dos brasileiros. Portanto, ainda que o caminho para o "mundo de homens livres e felizes" com que sonhamos seja mais árduo do que pensamos, essa obra é factível e vale a pena viver para enfrentar esse desafio. Ora se vale...


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

Um comentário:

  1. Um roldão de pensamentos otimistas para reduzir nosso escasso elenco de boas notícias. Mas voltando ao livro "Seus Pontos Fracos", do Dr. Wayne W. Dyer: sentimos o que pensamos e pensamos o que queremos.Com treinamento é possível e funciona.

    ResponderExcluir