sexta-feira, 19 de agosto de 2011







Arranhões

* Por Rodrigo Ramazzini

- Amor! Vem cá, rápido! Rápido!
- O que é, Gérson?
- Coça as minhas costas, por favor!
- Era só o que me faltava!
- Por favor, amor! A coceira está grande e eu não estou alcançando...
- Em qual lugar?
- Bem no meio!
- Aqui?
- Não! Mais para o lado...
- Tira essa camisa para facilitar...
- Tá!
- Aqui?
- Mais um pouco...
- Aqui?
- Mais para baixo um pouquinho... Isso aí! Coça... Coisa boa! Que coceira xarope!
- Mais?
- Mais um pouquinho... Isso... Por isso que eu te amo!
- Sei.
- O que foi? Por que essa cara?
- Gérson! Tu podes me explicar o que são essas marcas de unhas no meio das tuas costas?
- Marcas de quê?
- Unhas, Gérson! Unhas!
- Hã... Hã... Deve ser tuas mesmo!
- Minhas?
- Claro! Na hora “h” tu sempre perdes a cabeça e me arranha!
- Não mesmo! As minhas unhas estão até curtinhas...
- Sei lá! Essas marcas podem... Podem ser da semana passada...
- Não mesmo!
- Não?
- Não...
- Ah! Sei lá! Pode ser que eu tenha me arranhado no jogo de futebol... É! Foi lá...
- Gérson! Eu não sou boba, Gérson! Isso são marcas de unhas de mulher!
- Não!
- É sim!
- Não!
- É sim! Mulher com unhas bem compridas!
- Não! Estou dizendo que não!
- Quem é a vagabunda?
- Não tem outra mulher! Tu estás louca? Sei lá como essas marcas foram parar nas minhas costas... Deixa eu ir até lá no banheiro e ver isso direito no espelho!
- Não mesmo! Fica parado aí e confessa!
- Confessar o que se eu não fiz nada, hein?
- Confessa...
- Confessar o quê?
- Quem fez essas marcas, Gérson? Quem é a vagabunda?
- Eu não fiz nada! Pára de encher o saco!
- Fala de uma vez, Gérson! Se não eu...
- Tu o quê?
- Tu sabes bem...
- Sei o quê?
- Não distorce o assunto! Quem é a vagabunda?
- Não vou dizer!
- Não vai dizer?
- Não!
- Se não vai dizer é porque tem uma vagabunda, né? Faz quanto tempo?
- Não viaja! Não tem mulher nenhuma!
- Tu mesmo acabaste de dizer que tem?
- Eu?
- Fala, Gérson! Quem é a mulher?
- Não tem mulher nenhuma já disse!
- Como esses arranhões foram parar nas tuas costas, então? Fala...
- Agora me irritei! Tu queres saber, mesmo? Queres?
- Quero?
- Esses dias eu fui lá na Boate da Lucinda, que fica na beira da rodovia! Pronto! Falei! Pára de encher, agora! Vou sair...
- Não mesmo! Volta aqui agora! Nojento! Sem-vergonha!

Em uma mesa de bar, no dia seguinte à discussão, depois do expediente, Gérson conversa com um amigo sobre o assunto.

- Foi mais ou menos assim a discussão...
- Tu devias ter negado até o final! Não podias ter confessado, Gérson!
- Eu sei! Eu sei! Errei...
- Tem que se negar até o fim! Com mulher é assim... Daí, logo depois elas param de encher o saco...
- Eu sei! Mas é que eu me irritei na hora e explodi!
- Pois é... Ela nem fala contigo?
- Não! Desde ontem. Dormi no sofá...
- Sei... Mas, ela se acalma... É só não provocar mais a fera!
- Tomara...
- Se acalma, sim!
- Mas a pior parte dessa história tu ainda não sabes...
- Tem pior?
- Tem! Depois dessa discussão toda, eu saí de casa, certo?
- Certo!
- Fui na casa da minha mãe e corri no banheiro para ver as tais marcas de arranhões... Que até então eu não tinha visto...
- E?
- Parei em frente ao espelho... E...
- E?
- Cadê as marcas de arranhões?
- A tua mulher tinha inventado!
- Bingo!
- E tu caíste direitinho!
- Fazer o que agora...



* Jornalista

3 comentários:

  1. O que não faz uma consciência pesada heim...
    Esse truque eu já conheço rsrsr.
    Texto leve, divertido e dinâmico.
    Abração e bom fim de semana.

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  2. Foram tantas as traições que já mistura alhos com bugalhos. Mas não deveria ter baixado a guarda. É preciso morrer mentindo.

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  3. Mara e Núbia,

    Obrigado pelos comentários!

    Aquele abraço!

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