quarta-feira, 17 de agosto de 2011



A voz do mangue

* Por Clóvis Campêlo

Para Chico Science

A voz do mangue vem da periferia do Recife, escoando pela planície aluvional até alcançar as antenas da Embratel e expandir-se: Pernambuco novamente falando para o mundo?
A voz do mangue retoma a linha evolutiva da música popular pernambucana, reativando os crus acordes eletrônicos dos Silver Jets, Bambinos e Aratanha Azul para uni-los ao baque virado do pessoal de Dona Santa: maracatu atômico?
A voz do mangue traça a crônica da cidade prostituída com seus signos modernos que antecipam o amanhã (automóveis, motos, metrôs) e suas cicatrizes profundas que nos remetem ao passado ( mendigos, miséria e camelôs): que país é esse?
A voz do mangue nega, com o seu baticum, a apropriação indébita da estilização burguesa ao mesmo tempo em que pinta o trágico com as cores quentes do mercado: o produssumo queima a bagagem?
A voz do mangue reflete uma realidade poética e musical que é posterior à prosperidade açucareira dos casarões e sobrados, alimentando a literatura dos enjeitados: música de protesto?
A voz do mangue cresce com a força de pedreiros suicidas, oferece saídas e prega sem a convicção dos ignorantes: pedra evoluída?

• Poeta, jornalista e radialista de Olinda/PE

Um comentário:

  1. Chico Science um poeta visceral
    que apontou o dedo e escancarou
    através da música a voz do mangue.
    Ótimo texto.
    Abraços

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