quinta-feira, 25 de agosto de 2011







Segregando e andando

* Por Fernando Yanmar Narciso

Sou diferente, viva a diversidade!
Muitos já devem ter visto essa propaganda na TV por assinatura. Mas a ironia da coisa é que, só de chamar alguém de “diferente”, você já está propagando o preconceito. Atualmente uma das palavras mais enraizadas em nosso vocabulário, e ao mesmo tempo a mais difícil de dar um significado objetivo, é o orgulho. Aparentemente ela virou um substituto mais light e socialmente aceito para o ódio. O comediante Chris Rock alertava para o perigo do patriotismo exagerado há alguns anos. Se você ama sua nacionalidade a ponto de colocá-la acima de todas as outras, é melhor procurar um psiquiatra. Hitler e o fundador da Ku Klux Klan estão na ponta do banco na sala de espera.
Tudo virou motivo para usar a palavra orgulho. Se você é pobre no Brasil, há o conceito um tanto estranho que devemos ter orgulho de não ter nada, que devemos ser felizes na pobreza. É claro que essa mentalidade levou à criação do socialismo e ao surgimento da luta de classes em séculos passados, que continuam de certo modo vivos hoje em dia. “Quem bate cartão não vota em patrão.” Ocorrem até passeatas em louvor ao “orgulho”, que, apesar de supostamente pregarem a diversidade e a união, paradoxalmente separam as pessoas ainda mais umas das outras. Se você faz parte de uma “minoria”, deve sentir muito “orgulho” disso e defender sua condição com todas as forças.
Todos os dias aparecem novidades do tipo Parada do Orgulho Gay, ou o ridículo Dia da Consciência Negra, que subliminarmente disseminam o ódio a todos que os reprimiram por tantas gerações. Isso sem falar no Dia Internacional da Mulher, no Dia do Índio ou na tentativa frustrada de Aldo Rebello de implantar o Dia do Saci Pererê- Talvez uma mensagem subliminar para homenagear os amputados de nascença- para substituir o irlandesíssimo Halloween.
Enfim, todos querem viver em harmonia, mas sem exagerar. Há sempre uma desculpa para separar a humanidade em grupinhos.
Por que não radicalizar de vez? Já que o Dia da Consciência Negra prega o orgulho da “afro-descendência”, que façamos feriados de orgulho da euro-descendência, da nipo-descendência, da mestiço-descendência e, talvez, até da albino-descendência. E separando ainda mais, faremos os Dias da Consciência Maneta, da Consciência Perneta, da Consciência Anã e, se sobrar calendário, da Consciência Gêmea Siamesa.
Aproveito para convocar uma Passeata do Orgulho Ateu, afinal, todos têm o direito de não acreditar em nada, se assim o quiserem. Não aceitamos mais que tentem nos forçar a crer nesse amiguinho imaginário que, supostamente, criou a todos nós. E, se vocês, religiosos, continuarem a torrar nossa paciência, iremos ao Congresso estabelecer o Dia Internacional do Ateu.”
Que ocorra de fato a Passeata do Orgulho Hétero todos os anos, pois não precisamos engolir a correção política desses tempos modernos. Que tal uma Passeata do Orgulho Obeso Mórbido? Seriam toneladas de indignação! E, para rebater, poderiam fazer uma Passeata do Orgulho Barriga de Tanquinho. Mas, acima de tudo, que coloquem no calendário o Dia da Consciência Burra, Preconceituosa e Retrógrada. Sim, pois até aqueles que não respeitam ninguém têm direito a algum respeito…

• Designer e colunista do Literário, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

Um comentário:

  1. Como mãe coruja, sou obrigada a me levantar, aplaudir e dar vivas. Excelente texto!

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