quarta-feira, 17 de agosto de 2011









Os meninos do Largo da Paz

* Por Marco Albertim



Mesmo transferido para Natal, o 21º Batalhão de Caçadores subleva-se. Comunistas e dirigentes da ALN, reunidos – tenentes Roberto Alberto Bomilcar Besouchet e Silo Soares Furtado de Meireles, capitão Lamartine Coutinho Correia de Oliveira; Pascácio Fonseca e José Caetano Machado, civis – decidem pela sublevação. Caetano Machado convence-os de que o momento é favorável, devido à ausência do governador Carlos de Lima Cavalcanti e do comandante da 7ª Região Militar, general Manoel Rabelo. Ambos na Europa integrando a comitiva do dirigível Hindemburg. Ausente também o comandante da Brigada Militar, coronel Jurandir Bizarria Mamede. A revolução em Recife, conforme os planos dos comunistas, deveria ocorrer em dezembro de 35 ou no primeiro trimestre do ano seguinte. Cristiano Cordeiro afirma em suas memórias que a revolução fora decretada por Caetano Machado, padeiro e do Comitê Revolucionário do Nordeste.
A sede da ALN, na rua do Imperador, centro do Recife, acolhe uma caravana de correligionários vinda de navio, do Rio de Janeiro. Há uma concentração na Praça 17, dispersada por cavalarianos da Força Pública. Ainda assim, se fazem ouvir pelo PCB, João Cabanas, Hercolino Cascardo, Ivan Pedro Martins, Lígia Besouchet e o operário eletricista José Lins Cavalcanti. A Folha do Povo, jornal dos comunistas, é dirigida por Rubem Braga. Cristiano Cordeiro não fora ouvido, porquanto fora afastado pela política de “proletarização” do Partido.
O coronel reformado Muniz de Farias, de volta da viagem que fizera ao Rio de Janeiro, chega às pressas na véspera do dia do levante. O propósito é adiar a empreitada para a madrugada de 24 de novembro. O Comitê Revolucionário, no entanto, está disperso no cumprimento de tarefas. O 20º BC, na Vila Militar do Socorro, subleva-se num domingo. À frente, Lamartine de Oliveira, com a ajuda de Otacílio Lima e Lígia Besouchet. Gregório Bezerra, sargento do Exército, tenta sublevar o CPOR e o quartel general da 7ª Região Militar. Asseguraram-no de que trezentos estivadores o ajudariam; não houve a ajuda. Ferido no braço num tiroteio, é levado para o Pronto Socorro e é preso lá.
Em Jaboatão, há resistência de militares legalistas que dificultam o avanço dos rebeldes para o Recife. Lamartine de Oliveira enfrenta as tropas chefiadas por Higino Belarmino da Silva, da Brigada Militar. A maior parte dos quartéis permanece fiel ao governo. A população fica em suas casas.
Episódio pouco comentado remete à participação dos meninos do bairro de Afogados. O confronto se arrasta horas seguidas. Crianças de onze a quinze anos remuniciam os rebeldes, rastejando pelo chão, conduzindo pentes de metralhadoras. Algumas morrem crivadas de balas. Josué de Castro, em Documentários do Nordeste, defende a construção de monumento público homenageando os meninos do Largo da Paz.
Informa Paulo Cavalcanti em O caso eu conto o caso foi, que a força rebelde em Jaboatão tem mais de três mil homens em armas. Já Paulo Sérgio Pinheiro, em Estratégias da ilusão: A Revolução Mundial e o Brasil, dá conta de quatrocentos homens, incluindo dezenas de civis armados. Tem-se como certa a participação de ferroviários da Great Western e de operários da Companhia de Força e Luz.
O levante é derrotado por tropas do 22º BC e do 20º BC da Paraíba, afora militares da Polícia Militar, no retorno à capital depois das refregas com cangaceiros. A reação tão violenta, inclusive com fuzilamentos e uso de canhões, é comandada pelo major Higino Belarmino da Silva e por Malvino Reis Neto, da Ação Integralista Brasileira, capitão e secretário de Segurança. Três secretários de estado são presos. O general Manoel Rabelo é substituído na 7ª RM por Azambuja Vilanova, apelidado general Haja Abuso Vilanova. O governador Carlos de Lima Cavalcanti, tido como simpático ao movimento, responde no Tribunal de Segurança Nacional. Por ter uma postura equilibrada, Vicente de Paula Teixeira de Vasconcelos é afastado da presidência do Inquérito Policial Militar; em seu lugar, o coronel Artur Sílio Portela.


A Casa de Detenção, com trezentos presos, excede para mais de três mil.



*Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.

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