Suor do Tempo
De Luiz Martins Rodrigues Filho, praticamente não tenho qualquer referência. Só sei que se trata de um professor da região de Campinas, embora desconheça qual a sua especialidade, onde leciona, em que cidade nasceu, onde vive e o que faz atualmente. E não se tratou de falta de empenho minha. Por mais que tenha pesquisado, não encontrei absolutamente nada a seu respeito.
Baseio, portanto, minha análise (compreensivelmente superficial) da sua poética no único livro dele, que me foi presenteado por um amigo, intitulado “Suor do Tempo” (editado pela Canton, Comércio e Indústria Gráfica Ltda). Pelo menos nesta obra, fica patente que a sua preocupação e a matéria-prima dos seus versos é o tempo. Os poemas abrangem um período de 33 anos de produção, que vai de 1946 a 1979.
Um dos que mais me impressionaram foi o que dá título ao livro, “Suor do Tempo”, que diz:
“O tempo imprime sua marca a tudo o que toca com a mão,
tisna o que é alvo e puro,
desarticula as estruturas pesadas.
Água poluída, de salsugem e vasa
vai lentamente roendo as margens
porque arrasta o seu tardo
caminhar de boi pesado e sujo.
O tempo inventa as folhinhas,
os horóscopos e as rugas,
reparte os anos, os séculos, em dias;
retalha-se a si mesmo, aguçada faca.
Povoa de relógios múltiplos
salas, igrejas e hospitais;
nada é eterno e sagrado
para o instrumento que marca tudo com o sinete
do perecível e transitório.
O tempo sua nas festas de aniversário,
nas bodas todas faz escorrer o seu suor.
Suor do tempo que goteja sobre os homens,
empapando-se com sua tinta pegajosa,
mas humana, porque os homens estão jungidos ao tempo,
que os aprisiona e os insere no próprio tempo”.
Este poema, traz-me à memória uma citação que li há algum tempo, do sociólogo norte-americano Melvin Konner, que afirmou: “Um, bom poema de um adulto é uma comunicação de uma pessoa que, como o resto de nós, foi atacada de emboscada pela vida, mas que escapou milagrosamente da perda da graça que veio facilmente da infância – ou talvez, encontrou um meio de habilmente recuperá-la”. Creio que é bem este o caso.
Outro poema de Luiz Martins Rodrigues Filho, que trago à apreciação do leitor de bom-gosto, é este “As pedras”:
“Atrás da muralha do silêncio
as vozes se extenuam quedam mudas como
pedras reduzidas para sempre
à condição de pedras.
Mas como haverá
palavras pássaro como haveria
palavras bênção se as pedras resolvessem
um dia sair de sua postura
e criassem asas,
crispando o silêncio com sua
mensagem nunca ouvida
pelos homens atônicos?”.
Convenhamos, um poeta que escreve como Luiz Martins Rodrigues Filho, mereceria mais, muito mais visibilidade e, por que não, a reverência dos amantes da poesia.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
De Luiz Martins Rodrigues Filho, praticamente não tenho qualquer referência. Só sei que se trata de um professor da região de Campinas, embora desconheça qual a sua especialidade, onde leciona, em que cidade nasceu, onde vive e o que faz atualmente. E não se tratou de falta de empenho minha. Por mais que tenha pesquisado, não encontrei absolutamente nada a seu respeito.
Baseio, portanto, minha análise (compreensivelmente superficial) da sua poética no único livro dele, que me foi presenteado por um amigo, intitulado “Suor do Tempo” (editado pela Canton, Comércio e Indústria Gráfica Ltda). Pelo menos nesta obra, fica patente que a sua preocupação e a matéria-prima dos seus versos é o tempo. Os poemas abrangem um período de 33 anos de produção, que vai de 1946 a 1979.
Um dos que mais me impressionaram foi o que dá título ao livro, “Suor do Tempo”, que diz:
“O tempo imprime sua marca a tudo o que toca com a mão,
tisna o que é alvo e puro,
desarticula as estruturas pesadas.
Água poluída, de salsugem e vasa
vai lentamente roendo as margens
porque arrasta o seu tardo
caminhar de boi pesado e sujo.
O tempo inventa as folhinhas,
os horóscopos e as rugas,
reparte os anos, os séculos, em dias;
retalha-se a si mesmo, aguçada faca.
Povoa de relógios múltiplos
salas, igrejas e hospitais;
nada é eterno e sagrado
para o instrumento que marca tudo com o sinete
do perecível e transitório.
O tempo sua nas festas de aniversário,
nas bodas todas faz escorrer o seu suor.
Suor do tempo que goteja sobre os homens,
empapando-se com sua tinta pegajosa,
mas humana, porque os homens estão jungidos ao tempo,
que os aprisiona e os insere no próprio tempo”.
Este poema, traz-me à memória uma citação que li há algum tempo, do sociólogo norte-americano Melvin Konner, que afirmou: “Um, bom poema de um adulto é uma comunicação de uma pessoa que, como o resto de nós, foi atacada de emboscada pela vida, mas que escapou milagrosamente da perda da graça que veio facilmente da infância – ou talvez, encontrou um meio de habilmente recuperá-la”. Creio que é bem este o caso.
Outro poema de Luiz Martins Rodrigues Filho, que trago à apreciação do leitor de bom-gosto, é este “As pedras”:
“Atrás da muralha do silêncio
as vozes se extenuam quedam mudas como
pedras reduzidas para sempre
à condição de pedras.
Mas como haverá
palavras pássaro como haveria
palavras bênção se as pedras resolvessem
um dia sair de sua postura
e criassem asas,
crispando o silêncio com sua
mensagem nunca ouvida
pelos homens atônicos?”.
Convenhamos, um poeta que escreve como Luiz Martins Rodrigues Filho, mereceria mais, muito mais visibilidade e, por que não, a reverência dos amantes da poesia.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
O tempo é cortante como os versos de Luiz Martins. Muda quem os lê, assim como o tempo.
ResponderExcluir