terça-feira, 22 de maio de 2018

Para manter um grande amor - Evelyne Furtado


Para manter um grande amor

Por Evelyne Furtado


Para manter um grande amor não deixe que ele se vá, mas não o amordace; abrace-o. Não o acomode; acolha-o. Não o desafie; conquiste-o. Não o ponha num pedestal; mantenha-o bem ao seu alcance. Não acumule mágoas, discuta respeitosamente sobre o que lhe desagrada. Reconheça quando pisar na bola, mas não se deixe humilhar pelo outro.

Viva esse amor com zelo, cumplicidade e uma boa dose de clemência. Nunca, mas nunca mesmo, deixe o ser amado encurralado, pois a mais dócil das criaturas vira fera quando sem saída, ou pior, amofina, morre e quem ama não mata, não é? Não confunda orgulho com amor-próprio. Essa confusão costuma ser fatal para o amor.

Não se deixe escravizar, nem escravize quem você ama. Agradem-se mutuamente, sem que precisem concordar com tudo que o outro quer, diz ou pensa. Afaguem-se sempre. Vale cheiro na nuca, bilhetinhos apaixonados, mãos unidas no cinema, cafuné, abraços, beijos e amassos.

Não estimule o ciúme, se quiser evitar uma briga feia, e tente não se tornar um ciumento patológico. Não castigue o seu amor, essa função educativa é dos pais, dos professores e da própria vida. Demonstre seu desconforto, permita que o outro se explique e deixe a raiva passar. Não entre em competição por nada nesse mundo, pois se há um lugar no qual competir não tem a menor importância esse lugar é a relação amorosa. Aqui o amor é o único campeão. Quem ama aplaude a vitória do outro e por seu lado avança também.

Não duvide da força do amor, mas não o deixe ao Deus dará. Ele precisa de dois para vingar. E ame por inteiro o seu amor, não adianta amar apenas as qualidades; nem amar só nos bons momentos. É aconselhável enfrentar os maus momentos para conservar esse amor, assim como convém valorizar cada encontro, cada gozo, cada olhar. Para manter um grande amor vale uma prece. E nos casos dos amores adormecidos, como se refere às crises amorosas, um querido trovador, me vem à memória o poema Prece de Fernando Pessoa, que fala de saudade e de esperança nos versos a seguir:

"Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
o mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda".

Se ainda assim o amor não resistir, pode ter sido amor, pode ter sido verdadeiro, só não foi possível conservar. Então, cai bem o respeito ao amor vivido. Trate-o com carinho e consideração. Mantenha as boas lembranças levando o melhor que viveram em algum lugar no coração.

Mas, como romântica incurável, fico aqui torcendo e rezando. Que vença o amor e que sejam abençoados os leitos de todos os amantes.

* Poetisa, cronista e psicóloga em Natal/RN.


Um comentário:

  1. Você fala como alguém que já amou muito, e, ao que parece, continua amando. As rupturas amorosas me deixam triste, até mesmo a dos outros.Gosto quando o amor vence.

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