“Apois,
viu?”
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Por José Calvino
-
Os homens recusam-se a trabalhar e a estudar ao verem que a sociedade
cumula de privilégios os ociosos e os
ignorantes. E é por falta de justiça
que os Estados se convertem em confabulações de
favoritos e de charlatães, sempre dispostos a lucrar da
pátria, mas incapazes de a honrarem com
obras dignas.(José Ingenieros)
- Apois,
viu? – disse o advogado semianalfabeto de Azambujanra.
- Pois,
pois, pois, viu? – disse corrigindo o “Apois” do dito cujo.
Na
periferia do grande Recife a moda do “Apois, viu?”, pegou em
cheio. Nas grandes cidades já vem há muito tempo o “Não
existe” com o existindo, o “Cheio de direito” com o todo
errado, “Caralho” por qualquer coisa, e por aí vai... Até o
imbecil do advogado, quando se referiu à multa de dez mil reais que
o governo - desde 2005 - deve ao meu amigo Azambujanra, disse:
- Quem é o
advogado, eu ou você? Eu sei o que estou fazendo. Apois, você vai
ter o privilégio de saber um dos segredos de justiça, caralho, um
prisioneiro é condenado a dez anos de prisão, o advogado
recorrendo pode aumentar, diminuir ou ficar no mesmo.
- Quer
comparar prisioneiro com dinheiro? – rindo com ironia – até
rimou, não foi?, então eu peguei dez anos de cadeia e foram feitos
os cálculos reduzindo a pena pra quatro anos?
- Apois, é!
Permitam-me
meus leitores, simples estilo, com observações e reminiscências,
os condenados no processo do mensalão, por exemplo, têm direito, a
cada três dias trabalhados, à pena reduzida em um dia. O condenado
que quiser estudar também consegue redução da pena. Neste caso,
para cada 18 horas de curso um dia é reduzido. Será que o preso
comum tem esse direito? Aproveitando o ensejo, vamos para a
contabilidade do ex-presidente Lula sobre o julgamento do
mensalão que, segundo ele, teve 80% de decisão política e 20% de
decisão jurídica. Ora, esses governos com conivência da justiça,
falam mais alto que a lei. Todos nós sabemos que o governo nunca
investiu na educação, saúde e emprego digno. De um país que só
vive de miséria, prostituição, jogos de azar..., as autoridades
sendo subornadas pelos poderosos, nada mais se pode esperar!
Conversando com colegas da justiça, me disseram que tem advogado que
chega a colocar na petição “data venha”, ao invés de
data vênia, isso não é uma vergonha?
- Arranjei
uma namorada advogada, fora de série! – disse Azambujanra.
- Apois,
viu?
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Escritor e dramaturgo.
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