A vã feitiçaria
* Por Ledo Ivo
Invento a flor e, mais que a
flor, o orvalho
que a torna testemunha desta
aurora.
Invento o espelho e, mais que
o espelho, o amor,
onde eu me vejo, vivo, num
sarcófago.
E a vida, este galpão de
sacrilégios,
deixa que eu a invente com
palavras
que são dragões vencidos
pela mágica.
E não me espanta que eu,
sendo mortal,
sujeito à injúria de
tornar-se em pó,
crie uma rosa eterna como as
rosas
inexistente nesta flora
efêmera.
Sonho de um sonho, a vida, ao
vento, escoa-se
em vãs lembranças. Minha
rosa morre
por ser eterna e o mundo vão.
* Poeta,
romancista, contista, cronista, ensaísta e jornalista. Membro
da Academia Brasileira de Letras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário