Declarações
moribundas
*
Por Lisa Alves
Éramos
filhos de gerações – que não geravam ações, apenas a
experiência de erros que não deveriam ser repetidos.
Éramos
muitos: fardados, naturalistas, modistas e contra tudo que fosse dito
proibido.
Éramos
luz e trevas ao mesmo tempo – e ainda assim ajoelhávamos nas
catedrais espirituais em busca de alguma salvação.
Éramos
príncipes, plebeus e as vezes democratas que sacudiam as ruas com
placas e faixas reivindicando alguma mudança na consciência
coletiva.
Éramos
trabalhadores e acreditávamos que a carga horária do dia nos
tornaria a futura elite do país.
Éramos
bárbaros – matávamos por comida e por um pouco de fogo e sexo
Éramos
pré-colombianos, pré-greco-romanos, pré qualquer coisa escrita
pela história oficial. – e ainda tiveram a ousadia de nos
catequizar, estuprar e classificar nosso chão de Brasil Colônia.
Éramos
revolução industrial: fábricas, camponeses em áreas urbanas,
favelas crescendo, densidade demográfica, fome, miséria e falta de
saneamento básico.
Éramos
anarquistas, comunistas, populistas e fazíamos reuniões
politico-intelectuais sem ao menos sentirmos no paladar o gosto do
feijão requentado. (ou até a falta do mesmo)
Éramos
padres e madres – rezávamos antes mesmo do sucumbir do sol e em
noites enluaradas éramos insistentemente perseguidos pela voz do
Demônio da Luxúria.
Éramos
Ladys e gentlemans – frequentávamos as melhores festas, fumávamos
charutos contrabandeados e no final do mês nossos cheques especiais
estavam estourados.
Éramos
artistas marginais – escultores, pintores, escritores e
compositores. Até o dia em que a Industria Cultural levantou uma
cerca e transformou as grandes obras em linhas de produção.
Éramos
leais militares – direita, esquerda, volver! Nossa marcha era
conduzida pelo patriotismo, idiotismo e porquê não dizer:
fascismo!?
Éramos
a pequena burguesia – cidadãos médios, assalariados, diplomados,
comungados e porquê não dizer: conformados!?
Éramos
tudo isso – um bando de ações que mataram as gerações.
*
Poetisa e jornalista.
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