Questão de crença
A
sabedoria é, também, questão de crença. Claro que não só dela.
Mas sem ela... Como você poderá saber em profundidade algo em que
não acredita liminarmente? Pois se não crê, automaticamente não
se esforçará para aprender a respeito. E sem o aprendizado (e não
me refiro ao formal, o das escolas e universidades, mas ao ditado
pela vida), você passará a anos-luz de distância da almejada (e
desejada) sabedoria.
Sobre
o papel que a consciência desempenha em nossos atos e posturas,
Machado de Assis tem uma citação no mínimo curiosa. Creio que seja
verdadeira. Pelo menos o tantinho de experiência que tenho me diz
que é. O lúcido e preclaro fundador da Academia Brasileira de
Letras escreveu, em uma de suas crônicas: “Assim é que um
pobretão, crendo ser rico, não padece miséria alguma, e um
opulento crendo ser pobre, dá cabo da vida para fugir à
mendicidade. Tudo é reflexo da consciência”.
Exagero
à parte, esse mesmo tipo de crença pode, em determinadas
circunstâncias, ser transposto para o caso da sabedoria. Se você,
em seu íntimo, não se sentir sábio, ou a caminho de se tornar um,
estará predisposto a de fato nunca ser. Não a buscará e, não a
buscando, lógico, jamais a encontrará. Johann Wolfgang Von Goethe
escreveu algo mais ou menos com esse mesmo sentido: “Assim que você
confiar em si próprio, saberá como se deve viver”. Nunca
saberemos se isso é verdadeiro se jamais tentarmos.
E
qual é o superlativo de sábio? No meu entender, é gênio. Claro
que é uma condição incomum, anormal e, para Fernando Pessoa é,
até mesmo, uma “insanidade”. O poeta português entende que se
trata de um desarranjo mental similar, guardadas as proporções, ao
da loucura, posto que com pequena diferença, que ao fim e ao cabo se
torna essencial. Afirma que a genialidade “ é a insanidade
tornada sã pela diluição no abstrato, como um veneno convertido em
remédio mediante mistura”.
Curiosa
essa comparação que, no meu entender, esclarece a questão.
Fernando Pessoa diz mais a propósito: “Seu produto próprio (o da
genialidade) é a novidade abstrata – isto é, uma novidade que, no
fundo, se conforma com as leis gerais da inteligência humana e não
com as leis particulares da doença mental. A essência do gênio é
a inadaptação ao ambiente; é por isso que o gênio (a menos que
seja acompanhado de talento do espírito) é em geral incompreendido
pelo seu ambiente, e eu digo 'em geral' e não 'universalmente'
porque muito depende do ambiente. Não é a mesma coisa ser um gênio
na antiga Grécia e na moderna Europa ou no mundo moderno”.
Aliás,
não é a mesma coisa não só ser gênio em ambientes e eras tão
díspares, como ser apenas sábio. E esse “apenas” meu é mera
força de expressão para enfatizar o valor do gênio. Não diminui,
pois, a importância da sabedoria, mas exalta a da genialidade. Tanto
uma, quanto a outra, parecem escassear face certa lassidão mental
que caracteriza nossa era.
“Mas
como?!”, dirá o leitor, achando que o cronista está dizendo o
maior dos disparates. “Vivemos em plena era da comunicação total
e de um máximo de conhecimento!”, certamente lembrará. É
verdade! Mas apenas em parte. Tanto um, quanto outro, não estão
universalizados. Aliás, como sempre ocorreu ao longo da História.
Ademais, as pessoas fazem enorme confusão semântica em relação
aos conceitos.
Concordo
plenamente com o escritor francês André Malraux quando acentua:
"Estamos vivendo a civilização do conhecimento, mas não da
sabedoria. A sabedoria é o conhecimento temperado pelo juízo".
E está havendo (excluam as exceções) esse tempero? É isso o que
vemos no dia a dia? Não, não e não! Pode até sobrar conhecimento.
Mas o juízo... é tão difícil de achar como localizar uma agulha
em um palheiro.
Agora
sou eu que questiono: de que me vale, por exemplo, conhecer nomes de
borboletas, de flores ou de pássaros, a classificação de seus
grupos e famílias, saber de seus hábitos e distinguir sua
morfologia, se eu for incapaz de os identificar quando vir um desses
espécimes? E mais, que valia me trará esse conhecimento se, em
contrapartida, eu não souber sequer como chegar ao coração do meu
próprio filho, for incapaz de lhe dar os conselhos de que ele
precisar e desconhecer a forma de conquistar sua amizade? Com as
informações, serei considerado culto, sem dúvida. Mas estarei
longe, muito longe de ser sequer esclarecido, quanto mais sábio. Com
a aptidão humana da empatia, porém, poderei não estar revelando
cultura alguma, é verdade. Mas exercitarei um pouco de sabedoria.
Não
raro procuramos nos outros o que nós mesmos deveríamos conhecer de
sobejo, mas não conhecemos: a “arte” de viver. Consultamos
grandes mestres, buscamos inspiração na vida dos notórios
vencedores, recorremos, até, a manuais de auto-ajuda, no afã de
encontrar essa lição essencial. Tudo isso pode ser útil, sem
dúvida, mas desde que contemos com um fator imprescindível: a
autoconfiança.
Se
não confiarmos em nós mesmos, se temermos nos expor para não
errar, toda tentativa de aprendizado será vã. Seremos eternos
fracassados, lamurientos e covardes, desperdiçando o maior bem que
temos: a vida. A principal chave do sucesso, qualquer que seja nosso
objetivo, é uma só: confiarmos, sem dúvidas ou vacilações, em
nossas forças e em nossa capacidade.
Reitero
a observação de Johann Wolfgang von Göethe que transcrevi acima:
“Assim que você confiar em si próprio, saberá como se deve
viver”. E saberá mesmo! Simples assim! E “talvez”, então,
você (e eu, claro, que sou um tremendo trapalhão) comece a dar os
primeiros passos que o conduzam à sabedoria.
Boa
leitura!
O
Editor.
A inteligência emocional é tudo que a sabedoria quer ser.
ResponderExcluir