quinta-feira, 31 de maio de 2018

Ansiedade - Reivaldo Vinas


Ansiedade


* Por Reivaldo Vinas


Beijo as espadas
rezo aos fuzis,
tarde exausta.
Há um calor de estopim
queimando na ponta errada,
um vapor de sal, de gorduras,
que vaza em todas as portas.

A morte não desola os ombros,
o que destrói é a espera,
esse aguardar ansioso
que mina as forças e as almas,
que é o gozo de mil abutres
que espreitam nossa batalha.
Em círculo, no céu, voam
em busca de nossa carne,
tais aves desajeitadas.

O vento bate à porta,
range os dentes, pede entrada.
Mas todos estão fechados
em seus sustos, suas derrotas.
O exército inimigo enfim,
mostra de vez sua cara,
desce as encostas em nuvem
de pérfida cavalgada.

Os morteiros estão prontos,
cospem de vez sua raiva
abrem o inferno das dores,
para o inverno das almas.


* Poeta e jornalista paraense.

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