Chamem
o Lula e a greve dos caminhoneiros
*
Por Urariano Mota
É
claro que na justa greve dos caminhoneiros a direita se infiltrou e
tenta dirigir o movimento.
Aí
se incluem os representantes da categoria sem categoria.
Isso
quer dizer, patrões com ares de representantes de trabalhadores como
novos pelegos, nunca jamais vistos tão despudorados diante das
câmeras de tevê, entre nuvens de fumaça.
“Fim
da greve”, anunciaram governo e mídia do capital.
Já
antes, no Vermelho se
alertava: “Repúdio
à intervenção militar e ataque a Petrobras”.
O
Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de Santa
Catarina (Sintaema-SC) reitera o apoio à reivindicação dos
caminhoneiros mas condena ataques à Petrobras e também
manifestações que pedem intervenção militar. ‘Todas as
manifestações populares que reivindicam melhores condições de
trabalho e remuneração merecem nossa compreensão e apoio; porém,
não podemos aceitar nem legitimar os ataques deliberados a
PETROBRAS, empresas, sindicatos e instituições democráticas
legitimamente constituídas, assim como repudiamos grupos
deliberadamente infiltrados com práticas fascistas que fazem
apologia a intervenção militar como alternativa de solucionar os
problemas políticos e conjunturais da nação’”.
Na Folha
de São Paulo se
noticiou: “Mensagens
de apoio à greve dos caminhoneiros circularam nesta quinta-feira
(24) em grupos de WhatsApp que reúnem apoiadores do pré-candidato à
Presidência Jair Bolsonaro (PSL)”.
Os
oportunistas e abutres do sofrimento do povo agora aumentam o botijão
de gás 100% (de 60 subiu para 120 reais), e a gasolina chega acima
de 123% (de 4,48 atingiu até 10 reais).
O
curioso é que em meio à selva, há esperança. Os mais exagerados
falam A esperança. Ou seja, em um tumultuoso silêncio vem crescendo
o grito: — Chamem
o Lula!
Notem
que à beira do desespero a expressão popular vai além da bandeira
“Lula Livre”, ou #LulaLivre.
Chamam
o cara preso para resolver a parada, aqui em mais de um sentido:
parada de caminhões, e parada federal (problema difícil de
resolver), superior a qualquer parada militar, desfile de tropas em
armas.
— Chamem
o Lula!
De
Norte a Sul, passando pelo Nordeste, onde o grito se transforma
assim:
— Chamem
Lula!
O
caos instalado no Brasil mostrou e mostra que todas as soluções à
direita, pela direita, falharam. Isso quer dizer: as soluções do
mercado, pelo mercado, para o mercado, falharam.
A
começar entre os prováveis beneficiários, aquela classe média sem
classe, que se julga de muita classe. Já não há mais dinheiro que
compre um lugar na fila. O caos chegou para todos.
— Chamem
o Lula!
Da
ocupação militar no Rio, que falhou, à luta contra uma certa
corrução no Judiciário vendida como a ordem e a lei, que falhou,
que desestruturou os capitalistas nacionais, sussurra-se lá entre
eles envergonhados.
— Chamem
o Lula!
O
desastre na saúde para todos os brasileiros, o recuo na Educação
para o povo, a volta à miséria de populações que antes haviam
ascendido até a pobreza, a destruição do Estado do Bem-Estar
Social, até o corte de Bolsa Família, deu neste grito:
— Chamem
o Lula!
As
reformas trabalhistas na medida dos empregadores, que agora choram
porque suas empresas já não faturam como nos tempos do barbudo,
ainda que precarizem o trabalho, que já se aproxima do escravo.
A
reforma substituiu o mundo do quase pleno emprego pelo maior
desemprego. O mercado, ou certo mercado alheio ao destino popular,
destruiu a indústria náutica.
— Chamem
o Lula!
Já
antes da greve dos caminhoneiros os mais pobres haviam substituído o
gás por carvão, ou álcool, que em muitos casos explodiu e matou
pessoas.
Pessoas!,
quem diria? No Brasil há pobres que morrem e de repente, numa luz e
explosão de carnes, se tornam pessoas.
— Chamem
o Lula!
Em
meio a tudo, há todas indicações de que Lula mesmo preso já ouviu
o grito das ruas.
Ontem,
uma reportagem do Brasil 247 estampou:
“Após
visita a Lula na Polícia Federal em Curitiba, os deputados Paulo
Pimenta (PT-RS) e José Guimarães (PT-CE) trouxeram uma mensagem do
ex-presidente: ‘ele diz que está bem, a saúde está bem. Pode
dizer a todos que eu estou voltando’”
— Chamem
o Lula!
Ele
ouviu. Lula está voltando.
(Publicado
no Portal Vermelho, em 25 de maio de 2018).
*
Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa,
membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance
“Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici,
“Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus”, “Dicionário
amoroso de Recife” e “A mais longa juventude”. Tem inédito “O
Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros
.
O síndico sabe tudo.
ResponderExcluir