quarta-feira, 16 de maio de 2018

Família canina reunida - Mara Narciso


Família canina reunida

* Por Mara Narciso
 
Toca a campainha e Geny, a cozinheira, pergunta quem é pelo interfone e em seguida abre o portão. Uma ruidosa família canina adentra a sala da casa em algazarra, após correr pelo jardim e varanda, riscando o chão com suas unhas e escorregando suas patas pelo assoalho. Tia Áurea trouxe Minie, uma chihuahua de 18 anos, e Nikita e Ana Flor, duas poodles que são avó e mãe da minha cachorrinha Frida. Meu xodó é de cor preta e sua mãe Ana Flor é branca e foram separadas há três semanas, após o desmame. Este é o terceiro reencontro. O estardalhaço da chegada reverberou pela casa, devido à excitação de todas elas, aos latidos e ao ganido de Frida, que foi atropelada pela mãe estabanada. Ana Flor é uma boa mãe, dedicada, bonita, bem cuidada, alegre, carinhosa, cheia de predicados.
 
A visita feliz atordoou Frida, que nos outros reencontros não conseguiu fazer nada e desta vez quer aproveitar o que acontece, tudo em ritmo acelerado. São latidos, ganidos, chamegos, afagos, lambidas, mordiscadas, barriga para cima e carinhos. Vê-se logo que mãe e filha se reconhecem de longe, antes da visualização. Numa alegria palpitante, agitação e correria, Nikita e Ana Flor sobem no sofá, enquanto Frida, nos seus dois meses e uma semana, devido à forte emoção treme o corpinho, não sabendo o que fazer primeiro. Corre atrás das visitas, para e observa elas buscarem uma bola, jogada por Tia Áurea. Por momentos, fica acuada com medo da confusão e dos atropelos. Fernando traz água e ela bebe junto com Ana Flor.
 
Nikita está no meu colo e Frida, olhando lá do chão, fica enciumada, e quer subir para disputar espaço e atenção. Cheira Minie, a cachorrinha idosa, de passinhos lentos e duros, quase cega e sem dentes, e devido ao pequeno tamanho, é insistentemente seguida por Frida, talvez pensando que se trate de um neném.
 
Tia Áurea, expert em cuidar de cães, toma conta de todas, e atenta, quando vê alguma delas cheirar o tapete, dá um grito para evitar que suje o local. Dá tempo para um recuo, quando já se prepara para lançar a terra o material.
 
Pela interação de mãe e filha é possível ver que Ana Flor ensina Frida a ser uma boa cachorrinha, dando-lhe várias lições ao mesmo tempo. É um contentamento que empolga a todos, cães e gente. Então, Nikita, a avó, levanta-se do meu colo, sinalizando que já é hora de ir embora. Tia Áurea entende e fica de pé, eu abro o portão pelo interfone e elas vão saindo com a mesma algazarra feliz da chegada, como numa reconstituição do encerramento do infantil TV Colosso. Já tinham deslizado e brincado no gramado, e refazem a cena, num jogo de chamar para brincar, colocando a cara na grama entre as patas dianteiras, estimulando a outra para vir, e quando esta chega, foge correndo, sendo perseguida por ela. Ambas fazem barulho, correm, escondem, provocam, num jogo gracioso de mãe e filha, misturadas com as outras duas que brincam também.
 
Mas é preciso deixar a casa. O carro Ford Ka vermelho cheio de florezinhas está estacionado na porta. Agarro Frida antes que ela escapula. Tia Áurea abre a porta do veículo e as três visitantes caninas entram num pulo. Antes mesmo de ser fechada a porta, Frida gane, se sacudindo toda. Ela nunca tinha visto alguém e muito menos um cachorro entrar num carro e partir pelas ruas afora. Antes de saírem, ela chora alto, desespera-se esfregando as patinhas num gesto de descer e correr para acompanhá-las. Então, o carro parte, eu digo tchau, acenando com a mão, enquanto elas se distanciam.
 
Não espero muito e entro, fechando o portão. Frida treme toda e seu coraçãozinho aflito parece querer explodir. Doentinha do ouvido e infecção urinária, ela precisa de apoio. Após um afago, eu a coloco no chão, sentindo-me regozijar com o efeito daquela visita absolutamente energizante. Precisamos manter esses contatos educativos.
 
OBS: Quando eu finalizava o texto, Frida começou a vomitar e fez isso 14 vezes em 2 horas. Demos remédio oral contra vômito e ela vomitou o remédio. Prostrou e achei que morreria. Encontramos uma clínica veterinária de plantão e ela foi medicada de forma injetável. O diagnóstico foi gastrite medicamentosa. Pararam os vômitos. Em duas horas começaremos a hidratação oral.

* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”


2 comentários:

  1. Não existe cachorro que não seja boa gente... Abraços, Mara.

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  2. Problemas a vista: rosnando, avançando e tirando sangue nos donos. O que fazer? Estamos desapontados.

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