Família
canina reunida
*
Por Mara Narciso
Toca
a campainha e Geny, a cozinheira, pergunta quem é pelo interfone e
em seguida abre o portão. Uma ruidosa família canina adentra a sala
da casa em algazarra, após correr pelo jardim e varanda, riscando o
chão com suas unhas e escorregando suas patas pelo assoalho. Tia
Áurea trouxe Minie, uma chihuahua de 18 anos, e Nikita e Ana Flor,
duas poodles que são avó e mãe da minha cachorrinha Frida. Meu
xodó é de cor preta e sua mãe Ana Flor é branca e foram separadas
há três semanas, após o desmame. Este é o terceiro reencontro. O
estardalhaço da chegada reverberou pela casa, devido à excitação
de todas elas, aos latidos e ao ganido de Frida, que foi atropelada
pela mãe estabanada. Ana Flor é uma boa mãe, dedicada, bonita, bem
cuidada, alegre, carinhosa, cheia de predicados.
A
visita feliz atordoou Frida, que nos outros reencontros não
conseguiu fazer nada e desta vez quer aproveitar o que acontece, tudo
em ritmo acelerado. São latidos, ganidos, chamegos, afagos,
lambidas, mordiscadas, barriga para cima e carinhos. Vê-se logo que
mãe e filha se reconhecem de longe, antes da visualização. Numa
alegria palpitante, agitação e correria, Nikita e Ana Flor sobem no
sofá, enquanto Frida, nos seus dois meses e uma semana, devido à
forte emoção treme o corpinho, não sabendo o que fazer primeiro.
Corre atrás das visitas, para e observa elas buscarem uma bola,
jogada por Tia Áurea. Por momentos, fica acuada com medo da confusão
e dos atropelos. Fernando traz água e ela bebe junto com Ana Flor.
Nikita
está no meu colo e Frida, olhando lá do chão, fica enciumada, e
quer subir para disputar espaço e atenção. Cheira Minie, a
cachorrinha idosa, de passinhos lentos e duros, quase cega e sem
dentes, e devido ao pequeno tamanho, é insistentemente seguida por
Frida, talvez pensando que se trate de um neném.
Tia
Áurea, expert em cuidar de cães, toma conta de todas, e atenta,
quando vê alguma delas cheirar o tapete, dá um grito para evitar
que suje o local. Dá tempo para um recuo, quando já se prepara para
lançar a terra o material.
Pela
interação de mãe e filha é possível ver que Ana Flor ensina
Frida a ser uma boa cachorrinha, dando-lhe várias lições ao mesmo
tempo. É um contentamento que empolga a todos, cães e gente. Então,
Nikita, a avó, levanta-se do meu colo, sinalizando que já é hora
de ir embora. Tia Áurea entende e fica de pé, eu abro o portão
pelo interfone e elas vão saindo com a mesma algazarra feliz da
chegada, como numa reconstituição do encerramento do infantil TV
Colosso. Já tinham deslizado e brincado no gramado, e refazem a
cena, num jogo de chamar para brincar, colocando a cara na grama
entre as patas dianteiras, estimulando a outra para vir, e quando
esta chega, foge correndo, sendo perseguida por ela. Ambas fazem
barulho, correm, escondem, provocam, num jogo gracioso de mãe e
filha, misturadas com as outras duas que brincam também.
Mas
é preciso deixar a casa. O carro Ford Ka vermelho cheio de
florezinhas está estacionado na porta. Agarro Frida antes que ela
escapula. Tia Áurea abre a porta do veículo e as três visitantes
caninas entram num pulo. Antes mesmo de ser fechada a porta, Frida
gane, se sacudindo toda. Ela nunca tinha visto alguém e muito menos
um cachorro entrar num carro e partir pelas ruas afora. Antes de
saírem, ela chora alto, desespera-se esfregando as patinhas num
gesto de descer e correr para acompanhá-las. Então, o carro parte,
eu digo tchau, acenando com a mão, enquanto elas se distanciam.
Não
espero muito e entro, fechando o portão. Frida treme toda e seu
coraçãozinho aflito parece querer explodir. Doentinha do ouvido e
infecção urinária, ela precisa de apoio. Após um afago, eu a
coloco no chão, sentindo-me regozijar com o efeito daquela visita
absolutamente energizante. Precisamos manter esses contatos
educativos.
OBS:
Quando eu finalizava o texto, Frida começou a vomitar e fez isso 14
vezes em 2 horas. Demos remédio oral contra vômito e ela vomitou o
remédio. Prostrou e achei que morreria. Encontramos uma clínica
veterinária de plantão e ela foi medicada de forma injetável. O
diagnóstico foi gastrite medicamentosa. Pararam os vômitos. Em duas
horas começaremos a hidratação oral.
*
Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia
Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de
Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
Não existe cachorro que não seja boa gente... Abraços, Mara.
ResponderExcluirProblemas a vista: rosnando, avançando e tirando sangue nos donos. O que fazer? Estamos desapontados.
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