Consciência coletiva
O
papel do escritor na sociedade é pouco compreendido, inclusive pela
imensa maioria (se não a totalidade) dos que se dedicam a essa nobre
tarefa. Dado seu incomparável talento para descrever ideias, fatos,
sensações e emoções, quando não gerá-los, ele é uma espécie
de consciência coletiva do bicho homem.
É,
pois, como aquele personagem do italiano Carlo Colodi, o Grilo
Falante. É isso mesmo. A comparação procede. O tal bichinho, na
famosa história infantil, fazia as vezes de consciência do boneco
de madeira Pinocchio, que tinha como grande aspiração se tornar
humano (coitado, se soubesse!).
Por
isso que o escritor, ao mesmo tempo em que fascina, incomoda os
poderosos de plantão. Através dos seus livros, detecta e revela as
esperanças, sonhos e ilusões da humanidade. Mas também traz a lume
seus medos, perigos, dores (físicas e emocionais) etc.
Ninguém,
pois, é mais habilitado a ser o arauto das reivindicações sociais
dos povos. Todavia, num aspecto, nós, escritores estamos falhando, e
feio: no papel de conclamar as populações a pressionarem os
líderes políticos, as pessoas que detêm poder de mando, para
salvarem o Planeta. Mesmo que os “idiotas da objetividade” e os
profundamente alienados não percebam, ele está agonizando.
Em
um espaço de apenas 46 dias, o mundo presenciou, horrorizado, dois
terremotos de grandes proporções e muita intensidade, e em áreas
diferentes, banhadas pelos dois principais oceanos da Terra. Em 12 de
janeiro de 2010, o Haiti, país mais pobre das Américas, viu sua
miséria se multiplicar exponencialmente, além de lamentar a perda
de 300 mil vidas. Em 27 de fevereiro do mesmo ano, foi a vez do Chile
conhecer o horror da rebelião da natureza.
Os
especialistas na matéria asseguram que os dois eventos não têm
relação entre si. Que são catástrofes isoladas, bla-bla-blá,
bla-bla-blá. Mas será que não têm? Eles têm a mínima condição
de provar isso? A probabilidade é de quase 100% deles estarem
errados.
Raciocinemos.
É nítido, notório e, sobretudo sensível, que o Planeta está
esquentando. A cada dia que passa Os que acham que não (sempre há
algum idiota que aposta contra as evidências), argumentam com o
rigoroso inverno do Hemisfério Setentrional. Todavia, o Polo Norte
vem, literalmente, derretendo. Já está reduzido a uns 40% da
quantidade de gelo original.
A
situação do Polo Sul, não é nada melhor. Não faz muito, uma
enorme geleira, com as dimensões do nosso Distrito Federal (Brasília
e suas cidades-satélites), rompeu-se e se transformou num
monstruosamente grande iceberg, que chegou a ameaçar, inclusive, a
navegação.
Com
o passar dos dias, essa geleira monumental se derreteu. E para onde
foi todo esse volume de água? Para o mesmo lugar que está indo o
resultante do derretimento do Polo Norte. Ou seja, para os oceanos.
Todos
sabem que a água tem peso. Esse volume sobressalente, quer no
Atlântico, quer no Pacífico, certamente está pressionando as
respectivas placas tectônicas sobre as quais ambos estão
assentados. E estas, com certeza, fazem, por sua vez, pressão sobre
as placas dos continentes. Uma hora, essa tensão acaba por ser
liberada. Como? Através de terremotos, cuja intensidade, momento e
lugar são absolutamente impossíveis de se prever.
Esse
peso sobressalente de água tende, também, a despertar uma
quantidade imprevisível de vulcões adormecidos, principalmente no
chamado Cinturão de Fogo do Pacífico, que conta com 456 dessas
“chaminés” das fornalhas infernais do centro da Terra, 10% dos
quais em plena atividade. Tudo é questão de causa e consequência.
É
isso mesmo o que está acontecendo? Não sei! Sou jornalista e
escritor, e não geólogo, sismólogo ou vulcanólogo. Porém, como
dizem os italianos, “se non é vero, é bene trovato”. As
evidências da proximidade de uma catástrofe sem precedentes (pelo
menos no período de existência do homem), são visíveis,
palpáveis, sensíveis, diria até que “cheiráveis”. E o que
fazem os detentores do poder, os que detêm o comando dos povos, para
evitar a hecatombe e começar a cuidar convenientemente do Planeta?
Nada! Absolutamente nada!
Em
2010, se não me falha a memória, na conferência mundial sobre o
clima, em Copenhague, não foi adotada uma única, reles e mísera
providência prática para deter a perniciosa poluição que vem
aquecendo a Terra. Esses políticos, que teoricamente contam com
procurações tácitas de cada um de nós para agirem em nosso nome
(no caso, os votos que obtiveram nas urnas), agem como se tudo
estivesse às mil maravilhas. E, reitero, em nosso nome. Diz um
axioma político, alçado à condição de dogma, que “todo poder
emana do povo e em seu nome será exercido”. Na prática, isso
funciona?
Esse
princípio precisa ser devidamente testado. Nunca foi de fato. É
indispensável que os povos do mundo todo se mobilizem, e já, com a
máxima urgência, no sentido de cobrarem providências urgentíssimas
das autoridades. Vocês veem alguém fazendo isso? Eu não vejo.
Os
7,6 bilhões de habitantes do Planeta, em sua imensa maioria (as
exceções são pouquíssimas), não têm a menor noção dos riscos
que correm. Quem poderia (e deveria) alertá-los? Os tais dos “Grilos
Falantes”. Ou seja, nós, os comunicadores (jornalistas e
escritores) que contamos com o talento de comunicar qualquer coisa,
boa ou horrenda. E estamos fazendo isso? Não, não e não!
Está
mais do que provado (e isso até os mais medíocres antropólogos
amadores sabem), que catástrofes naturais (ou provocadas pelo
homem), como as que se abateram sobre o Haiti e sobre o Chile,
significam retrocessos em termos de civilização.
Dependendo
do povo atingido e da intensidade do desastre, este pode retroagir,
inclusive, à barbárie. Foi, inclusive, o que começou a ocorrer com
os haitianos, processo contido pelos militares que lá estiveram com
a tarefa de manter um mínimo de ordem. Houve uma sucessão de saques
e brigas ferozes por comida e água, com os mais fortes subjugando os
mais fracos, sem nenhum pudor.
Mesmo
no Chile, país melhor preparado para enfrentar esse tipo de
tragédia, houve relativo retrocesso civilizatório, principalmente
social. Afinal, cerca de um terço das pessoas (mais de dois milhões)
perderam suas casas e outros tantos bens que tinham. Muitos tiveram
que recomeçar as vidas do zero. E por maior que seja a ajuda interna
e, principalmente, externa, vários, e vários, e vários, que
ostentavam condição social estável (ou até invejável), de classe
média ou até abastada, retroagiram à pobreza. Foi inevitável.
Nós,
escritores, temos a obrigação de “sacudir” as populações
adormecidas, ou entorpecidas, ou anestesiadas, para que acordem, e se
não quisermos fazer isso por nobreza, o façamos por egoísmo.
Afinal,
de que valerão nosso talento, nossa cultura, nossa facilidade de
comunicação, enfim, nossa escrita, se a humanidade retroagir à
barbárie? Se isso acontecer, não haverá indústria de tipo algum,
muito menos a gráfica.
Não
haverá editoras para publicar nossos livros. E pior, não haverá
leitores, pois cada qual estará empenhado em conquistar sua porção
diária de comida (que será escassíssima, quase nenhuma) e de água
potável (muito mais escassa ainda) para sobreviver.
Ler,
nessas circunstâncias, será, certamente, a última coisa que as
pessoas irão pensar em fazer. E escrever, convenhamos, não será
nenhuma prioridade para nós. Sem leitores... a existência da nossa
função será rigorosamente supérflua.
Boa
leitura!
O
Editor.
Um alerta lúcido de uma catástrofe a cada dia mais próxima.
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