quinta-feira, 24 de maio de 2018

Maio, 1968 - Emanuel Medeiros Vieira


Maio, 1968


* Por Emanuel Medeiros Vieira


O que devemos é apressar o fim do inverno de nossa infelicidade, parafraseando a famosa frase de Shakespeare no “Ricardo 3”, e fazer surgir uma nova primavera”.(Renato Janine Ribeiro)
(Em 10 de maio de 1968, estudantes ocupavam a Sorbonne).


Desejávamos soprar a poeira da eternidade.

Seja realista: exija o impossível, passeatas, cassetetes, éramos eternos.

Comíamos o pão de cada dia com a flor da utopia na lapela.

A imaginação no poder”, mas nossos amigos não estão no poder.

Destinos rabiscados, entes descartáveis,grãos de areia na imensa praia global.

E o passado não passou.

Fragmentados, ilhados: o barco fez água, comitês de sonhos viraram praças de vorazes burocratas, o povo servindo aos donos da pátria, crendo que a servem.

Che Guevara saiu saiu da guerrilha para triunfar nas camisetas.

Num muro, li: Acorda, Lênin: eles enlouqueceram”.

50 anos, sim – meio século.

A barricada fecha a rua, mas abre a via.

Cerração dissipada, pipa no céu, regata assistida aos sete anos: outrora/agora.

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros. Foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura de 2018.

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