Livros
em série
Há
escritores que se especializaram (e se consagraram) em escrever
livros em série, com histórias diferentes, mas envolvendo sempre um
mesmo personagem central. Claro que essa “figura” tem que ser,
digamos, “carismática” e, principalmente, cair no gosto do
leitor. Parece fácil, não é verdade? Contudo não é. Houvesse a
facilidade que alguns supõem que haja, muitos romancistas, presumo
que a maioria, optaria por esse procedimento.
É
verdade que não são poucos os escritores que adotaram (e ainda
adotam) essa linha temática, esse fio condutor. Posso citar, por
exemplo, o caso de Sir Conan Doyle, com sua dupla tão conhecida (há
quem ache, inclusive, que se tratem de personagens de carne e osso e
não inventados pelo autor), Sherlock Holmes e Doutor Watson. Querem
mais um, ou melhor, no caso mais uma? A grande dama dos contos
policiais e de mistério, Agatha Christie, é exemplo característico
disso, com o enigmático, baixinho, feioso, careca, mas eficiente
detetive Hercule Poirot. Aliás, ela escreveu diversas séries e
criou, portanto, vários personagens que “estrelaram” mais de uma
aventura.
Seriam
só esses dois a se valerem desse recurso. Longe disso. Citaria,
nesse caso, um outro britânico, como os dois mencionados, que foi
Ian Fleming, com seu dinâmico, elétrico e que muitas vezes descamba
para o mágico (e até inverossímil) Agente 007. Limito-me a estes
três, por serem, disparado, os mais conhecidos dos escritores que
recorreram, com sucesso, a esse expediente, criando personagens que
se tornaram “cults” e que engordaram, logicamente, suas
respectivas contas bancárias.
Claro,
se forçarmos a memória, lembraremos centenas de outros autores
(provavelmente muito mais) que optaram por esse exercício e se deram
bem. Para que o sucesso que alcançaram fosse viável, era
indispensável que seus livros anteriores esgotassem várias edições.
Se fossem fiascos, evidentemente, inviabilizariam a sequência. Sem o
sucesso comercial, seria impossível não só transformar a história
inicial em série, mas, provavelmente, publicar qualquer outra obra.
Afinal, para o desgosto dos puristas, editar livros é um negócio
(do ponto de vista de vendas) como outro qualquer. Requer
rentabilidade e retorno do investimento. Ou não?!
No
Brasil, o caso mais característico de enredos seriados foi o de
Monteiro Lobato. E ele não criou apenas um personagem forte para
viver “n” aventuras, mas vários, como Dona Benta, Tia Anastácia,
Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa, Marquês de Rabicó e,
principalmente, sua grande estrela, a bonequinha de pano, falante (e
põe falante nisso!) e cheia de artimanhas, que foi a Emília.
Escreveu para crianças, mas conquistou todos os tipos de público.
Pudera! Era um gênio literário.
Esse
procedimento, ou seja, o de utilizar um (ou vários) personagens
“fortes” em diversas histórias, implica em inúmeros riscos e
requer, por consequência,
toda a sorte de cautelas. O autor, por exemplo, tem que cuidar para
não se contradizer. Ou seja, para não descrever, num livro, o tal
personagem como sendo alto e em outro, como baixo. Ou loiro em um
volume e mulato no outro. E vai por aí afora. E não só isso. Tem
que cuidar para não se repetir.
Os
livros em série mais em evidência, atualmente, são os da hiper,
super, mega bem sucedida escritora britânica J. R. Rowling, com seu
incrível e notável Harry Potter. Há já bom tempo essa coletânea
de histórias se tornou obsessão, mania, febre , loucura
virtualmente mundial, quer nas livrarias, quer nas telas do cinema.
A
série da também inglesa, Stephenie Mayer, com seu séquito de
vampiros, lobisomens e quetais, igualmente conquistou multidões, e
também nos cinemas. O que acho desse tipo de literatura? Como
entretenimento, aprovo-o plenamente. Divirto-me com livros com essas
características. Já como fonte de ideias
que me suscitem reflexões.... Bem, deixa pra lá!
Uma
das estrelas em evidência dessa forma de ficção é uma
norte-americana. Trata-se de Sara Shepard, que a exemplo dos outros
escritores que mencionei, vem esgotando edições após edições com
sua série “Pretty Little Liars” , vagamente centrada em sua
experiência de vida, notadamente da sua juventude na Filadélfia. Os
enredos centram-se nas aventuras de quatro adolescentes, que têm que
driblar misteriosa perseguidora, conhecida como “A”. De fato, ela
não ameaça a vida dos quatro jovens. Sua ameaça é a de revelar
seus segredos mais sombrios que, se revelados, arruinariam suas
reputações.
Dos
dez livros da série, apenas os quatro primeiros já chegaram ao
Brasil, ou seja “Maldosas”, “Impecáveis”, “Perfeitas” e
“Inacreditáveis”. Curiosamente, como vocês certamente notaram,
é que todos os títulos, de cada um dos quatro volumes, são
constituídos por uma única palavra. E não somente os desses que
foram traduzidos para o português, mas também os dos outros seis,
que ainda não foram: “Wicked”, “”Killer”, Hearthless”,
“Wanted”, “Twisted” e “Ruthless”.
Sara
Shepard prepara-se para capitalizar, ainda mais, seu sucesso
editorial, mas agora na televisão. No entanto, para isso, não irá
adaptar sua tão bem sucedida série “Pretty Little Liars” para a
telinha. Ela já prepara uma nova, intitulada “The lying game”.
Seu plano é que esse seriado seja composto por apenas quatro
volumes, mas todos a serem adaptados para a TV.
O
enredo vai centrar-se em duas irmãs gêmeas, separadas na
maternidade logo após o nascimento. O primeiro desses livros já
está pronto e a história completa, em capítulos, será exibida
pela Rede ABC. A estréia ocorreu em 15 de
agosto de 2011. Foi um sucesso. Isso é que é saber promover
livros, o resto é conversa pra boi dormir.
A
TV, certamente, divulgará ainda mais não apenas a série já mostrada
na telinha, mas também a anterior, “Pretty Little Liars”. E Sara
está errada em proceder assim e fazer tamanho estardalhaço? Não,
não e não! Claro que não! Afinal, quem foi que determinou que é
proibido um escritor ganhar dinheiro (e, no caso, muito dinheiro) com
o fruto do seu talento, do seu trabalho e da sua imaginação?!
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
A lista é grande, mas ainda assim, é coisa para bem poucos.
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