Nem
tudo que reluz é ouro e nem todo muro é faculdade
*
Por Tião Martins
O
cenário pode até estar diferente devido a outras razões, mas tenho
ouvido relatos inquietantes de alguns antigos colegas em duas
faculdades respeitáveis: a velhinha Casa de Afonso Pena, em Belo
Horizonte, e a Nacional de Direito, no Rio.
Ambas
recebiam, naquele tempo, muitos alunos que jamais pretenderam exercer
a profissão. Esses “estudantes” escolhiam a escola só para usar
o título de “adevogados”, como diziam alguns deles, vindos do
interior.
Em
ambas havia também muitas moças que, na época, só escolheram o
Direito por desconfiarem que ainda estavam aprendendo o beabá
universitário.
Como
o Direito só perdia para a Medicina, em matéria de prestígio, os
cadáveres daquele tempo geravam tremores no meigo coração das
meninas, muitas delas interessadas só em casamentos luxuosos.
Esta
conversa toda é para registrar o que acontece hoje na cabeça dos
futuros advogados cariocas e mineiros, diante do espetáculo quase
diário que acompanhamos no Supremo Tribunal Federal – o tão
falado STF.
Comparecer
a uma sessão do Supremo, antigamente, era coisa de velhinhos: os
intocáveis mestres nacionais do Direito, tão ou mais respeitados
que os times do Vasco da Gama, Botafogo ou Fluminense.
Decisões
tomadas pelo STF eram tão importantes e indiscutíveis quanto um gol
de Garrincha, um drible do Didi ou um lance belíssimo do Newton
Santos.
E
o Senado Federal, vizinho do Supremo, também recebia algumas das
cabeças políticas mais respeitadas do País, nenhuma delas tão
pipoqueira quanto as de hoje.
Com
a permissão e boa vontade dos atuais alunos, pode-se dizer que ir ao
Supremo exigia a audácia de um Arcebispo e jamais a tolice trêmula
de um padreco recém-nascido no fundo da Serra da Mantiqueira ou
criado em escolinhas no fundão de Pernambuco ou Ceará.
Tudo
isso era motivo para que os jovens estudantes cariocas e mineiros
pensassem uma, dez, quinze ou mil vezes se valia a pena enfrentar as
feras, tanto nas faculdades quanto em futuros embates no Supremo,
onde dormem hoje cidadãos que não conseguem agradar até os
desagradáveis.
Comenta-se,
no mundo que produz hoje os futuros juízes, a necessidade de
profunda revisão de métodos e conteúdos. E tudo leva a crer que
essa inquietude só dará resultados daqui a alguns anos.
Escapei
dessa comédia há muitos anos, para mergulhar na imprensa, até que
os militares plantassem aqui sua cópia de Franco (o destruidor da
Espanha e não a moeda dos europeus).
Espera-se
que as atuais garotas e seus garotos, assim como os mestres deles,
cuidem do futuro melhor do que nós. Faculdades nós temos, até
demais. Direitas, elegantezinhas e, algumas, bem tortas.
Resta
saber quem vai derrubar a cerca.
*
Jornalista. Assina coluna diária no jornal “Hoje em Dia” de Belo
Horizonte
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