O livro é caro e a verba...
curta
Gosto
de colaborar com meus amigos escritores naquilo que está ao meu
alcance. Nunca me recusei a fazê-lo, mesmo quando tal colaboração
me exige grandes sacrifícios. Sou, a todo o momento, solicitado, por
exemplo, a escrever prefácios para livros prestes a serem lançados
e jamais deixei ninguém na mão. E olhem que não são poucos. São
em torno de dez, em média, por ano. Claro que me sinto lisonjeado e
encaro esses pedidos como manifestação de respeito intelectual e de
apreço pessoal.
Fosse
eu lançar tantos livros quantos os que prefacio, seria hoje dos
escritores mais prolíficos com uma das mais extensas bibliografias
do País. Sem exagero, já fiz mais de cem prefácios, nos últimos
dez anos. O que me aborrece, porém, é o fato de, depois da
publicação dessas obras, o autor não se dignar, sequer, de me
presentear com um exemplar. Não são todos os que agem assim, claro.
Mas a maioria...
O
Talis Andrade, por exemplo, quando lançou seu livro de poesias,
imediatamente me enviou um exemplar, novinho em folha, cheirando a
tinta. Aliás, era o que eu esperava desse extraordinário poeta e
incrível figura humana. É uma honra, para mim, participar de alguma
maneira de um livro deste magnífico escritor. Por que os outros não
agem da mesma maneira?
Outra
reclamação que tenho a fazer (hoje estou um tanto ranzinza, não é
verdade?) é que, muitos, quando me solicitam prefácio, não me
encaminham sequer cópia do exemplar a ser prefaciado. Tenho me
virado sem isso, na base da pura imaginação e da criatividade,
mas... O risco de escrever alguma bobagem ou, no mínimo,
inconveniências, é muito grande. Doravante, portanto, por favor:
sempre que me fizerem este tipo de pedido, me enviem “o que” devo
prefaciar, combinado?
Minhas
queixas, porém, não se esgotaram. E esta, tem motivação, digamos,
pecuniária. Explico. Mais do que solicitações de prefácio, recebo
inúmeros pedidos para analisar livros recém-lançados, numa
quantidade muito grande, acreditem, vindas de todo o Brasil. Claro
que isso me deixa ainda mais lisonjeado. Chego a ficar impossível!
Só que os que me fazem tal pedido cometem um pecado mortal: não me
enviam o exemplar que querem que eu comente.
Quando
se trata de escritor conhecido, tenho, invariavelmente, adquirido
essas obras, lido para, posteriormente, comentá-las. Mas,
convenhamos, é uma baita sacanagem. Fico perguntando aos meus botões
se estes colegas de letras querem meus préstimos de comentarista ou
meramente de cliente, de comprador dos seus livros. As duas coisas,
ao mesmo tempo, são incompatíveis.
Sou
consumidor compulsivo de livros. Compro, em média, dez por mês e
este é meu limite. Afinal, jornalista não é nenhum nababo e, salvo
honrosas exceções, não ganha lá tanto assim. A maioria (e este é
o meu caso) precisa de dois ou mais empregos para se garantir. Em
suma, cabe aqui, como uma luva, o título deste texto: “o livro é
caro e a verba... curta”. E olhem que gasto R$ 500,00 em média por
mês nas livrarias, para desespero da esposa.
Custava
essa gente me enviar um exemplar? Afinal, o autor tem direito a dez
deles (algumas editoras destinam vinte) para divulgação. Ah, vocês
não têm meu endereço? (e esta é a argumentação de muitos). Pois
bem, através desse mesmo e-mail, pelo qual vocês me fazem o pedido
(e que é publicado diariamente neste espaço, no pé do índice),
solicitem-no que lhes informarei. O que não posso é expô-lo
publicamente na internet, e vocês, inteligentes como são, sabem,
certamente, por qual razão.
Volto,
pois, ao que escrevi no início destas considerações: “gosto de
colaborar com meus colegas escritores”. Mas aduzo uma condição
básica para isso: desde que estes colaborem, também, comigo. Os que
me solicitam comentários sabem que estes serão postados não
somente aqui (ou em forma de editorial, ou de crônica na minha
coluna bissemanal), mas nos vários outros sites que publicam
semanalmente meus textos. Será, pois, uma baita propaganda dos seus
lançamentos.
E
aqui cabe outra ressalva. Não faço resenhas. Estas são tarefa dos
responsáveis pelo marketing das editoras. Também não faço crítica
literária. Escrevo, isso sim, crônicas em que revelo a emoção que
o livro me causou (se causou, claro) e as razões. Algumas editoras
me encaminham (gratuitamente, por sinal) seus principais lançamentos.
Jamais deixei de abordar qualquer um deles.
Outra
observação cabível, e que muitos se esquecem, é que “crítica
literária” é um gênero de Literatura (e dos mais complexos).
Apesar do nome, não se destina apenas a deitar falação contrária
sobre os livros avaliados. Tem toda uma técnica que a fundamenta
(que felizmente domino, mas não considero a minha “praia”).
Minhas avaliações, porém, dispensam tanto “tecnicismo”. São
todas mais emocionais do que cerebrais. Daí não considerá-las
(pois não são) crítica literária.
Continuo,
pois, firme e forte, à disposição dos meus colegas escritores,
disposto a colaborar com eles naquilo que estiver ao meu alcance. Mas
com a ressalva, que faço questão de reiterar: desde que também
colaborem comigo. E lembro, de novo, para deixar bastante claro: “o
livro é caro e a verba... curta”.
Boa
leitura!
O
Editor.
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