Lições
de vida
*
Por Elaine Tavares
Estávamos
na mesa do restaurante, almoçando, durante as Jornadas Bolivarianas.
E, por sorte a compartilhávamos com o grande Orlando Caputo, um dos
criadores da Teoria Marxista da Dependência. Para lá dos seus 70
anos, ele comia devagar, olhado ao redor com olhos curiosos. Conversa
vai, conversa vem, o compa argentino, Facundo Cardella, comenta o
quanto deve ter sido difícil para ele amargar um exílio de tantos
anos longe do Chile depois do golpe militar.
Caputo,
que viveu a utopia da Unidade Popular no Chile, a que levou Allende a
presidência, foi viver no México depois do golpe dado por Pinochet,
que resultou no assassinato de Allende e no de milhares de outros
chilenos.
Caputo
demorou a responder, mastigando a comida lentamente, os olhos meio
que perdidos em lembranças. Então, passados alguns minutos, quando
até já tínhamos pulado para outro assunto ele falou, como se fora
um oráculo: “Não foi fácil, mas tratei de fazer que fosse
feliz”.
A
frase, lapidar, e o olhar sereno nos tocaram profundamente. E ficamos
ali, quietos. Ele continuou. “Tinha dois filhos pequenos na época
e o que pude fazer foi dizer a eles: estudem, viajem, conheçam e
respeitem a cultura local. Foi o que eles fizeram, o que nós
fizemos. E foi bom. Foi feliz”.
Eis
aí a beleza de saber viver. Ser de onde se está, e buscar viver
feliz, apesar de tanta dor.
O
que nos restou foi abraçar bem forte aquele homem gigante, que nos
dias que passou aqui, absorveu tudo de maneira muito intensa. Seus
olhos, vivaces, estavam sempre brilhando, como se tivessem
presenciando maravilhas.
Caputo
é estelar.
*
Jornalista em Florianópolis/SC.
Nenhum comentário:
Postar um comentário