quinta-feira, 7 de julho de 2016

É possível humanizar o capitalismo?


* Por Dinovaldo Gilioli


É lógico que as grandes empresas e corporações têm seus mecanismos de compensação e através especialmente da área de RH, notadamente no campo da saúde e segurança, implementam ações que visam a valorização do empregado, a melhoria da qualidade de vida e das relações de trabalho. No entanto, a prevenção de doenças e de acidentes objetivam, sobretudo, reduzir o absenteísmo e diminuir custos com tratamento de saúde.

Por traz dessa preocupação com o “lado humano” está a tentativa de abstrair, ou até de esconder a exploração; condição necessária e fundamental para o êxito e reprodução do sistema vigente. Todos esses “ingênuos” e “bem intencionados” instrumentos têm a finalidade primeira de aumentar a produção e o lucro da empresa. De amortecer conflitos, de minimizar as contradições oriundas de uma sociedade capitalista e de disciplinar a força de trabalho para aceitação do sistema instituído.

Veja bem, não estamos aqui desmerecendo os cuidados atinentes à saúde e segurança do trabalhador. Alertamos que, até isso, por mais absurdo que possa parecer, faz parte da estratégia para reduzir custos e auferir mais lucro. Portanto, é infundado o discurso de que é possível humanizar o capitalismo.

Essa retórica só serve para confundir, iludir e ludibriar. Só serve para fragilizar a luta por um novo modo de vida, cujo centro seja o ser humano; e não a mercadoria, o dinheiro e a apropriação desmedida e inconsequente dos recursos naturais. Atitude esta, que compromete a efetiva qualidade de vida da maioria da população e coloca em risco as futuras gerações.

É nesta complexidade que se insere a ação de um sindicato, agora mais desafiadora em função da crise mundial em curso. Queiramos ou não, aceitando ou não, estando preparados ou não, as consequências negativas recairão sobre os trabalhadores; especialmente dos menos organizados e sem força de representação e de ação concreta. A atual crise é utilizada como mais um argumento para justificar e conseguir um maior envolvimento dos empregados no alcance das metas estabelecidas pelas organizações.

E mais do que isto, as empresas se utilizarão do momento para aumentar a sua produtividade (acelerando ainda mais o ritmo do trabalho), e disseminar a ideia de que tudo isto está sendo feito para evitar maiores prejuízos aos próprios trabalhadores. Leia-se demissão, congelamento de salário e redução de direitos. Sendo assim, os sindicatos, os trabalhadores devem continuar atentos e dispostos a enfrentar juntos o que aí está e o que virá!

* Poeta, tem 6 livros publicados, entre eles,“Cem Poemas” (Editora da UFSC).


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