quinta-feira, 21 de julho de 2016

Avalanche de questões



A vida é tão complexa e misteriosa, que quanto mais perguntas fizermos (e respondermos) a propósito, mais e mais questões surgem, a desafiarem a nossa inteligência e a nossa perspicácia. Qual, por exemplo, a sua verdadeira origem? Teorias a respeito existem inúmeras. E, se há tantas, é porque não se encontrou, ainda, uma resposta convincente.

Qual a finalidade da vida? Nascemos, apenas, para existir por existir? Ou seja, só para desenvolvermo-nos, amadurecer, reproduzirmo-nos e morrer, e assim sucessivamente, geração após geração? Mesmo não aceitando esse medíocre objetivo, ninguém, jamais, apontou, com certeza, sem a mínima possibilidade de contestação, um que fosse melhor e mais nobre.

E, afinal, estamos sós neste imenso universo, cujas reais dimensões são tão grandiosas que sequer cabem em nossa mente? Caso a resposta seja positiva, surge outra pergunta lógica a propósito: por que a vida surgiu aqui, e não alhures? Quais as condições mínimas, porém indispensáveis, para que ela surja em qualquer lugar que seja propício ao seu surgimento? Com esta infinidade de mundos, não há um, pelo menos um, que se assemelhe, ou pelo menos se aproxime muito, deste nosso, em suas características básicas (de temperatura, pressão, composição da atmosfera, gravidade etc.etc.etc.)?

São questões e mais questões, das mais variadas naturezas: científicas, filosóficas e até espirituais, a desafiarem nossa inteligência. Esse conjunto, praticamente infinito, de perguntas requer respostas que pelo menos se aproximem da verdade. Apesar das inúmeras tentativas de homens sábios e observadores através de milênios, tudo permanece nebuloso e obscuro, exatamente da forma que era quando este animal estranho e contraditório surgiu sobre a face da Terra (e quando isso ocorreu? Como? Por que?).

Um dos métodos mais eficazes, práticos e funcionais para aprendermos qualquer coisa, não importa sua complexidade, é, exatamente, o da elaboração de perguntas. Mas que sejam claras, objetivas e diretas e sobre o assunto específico que se quer aprender. Sócrates já utilizava, com sucesso, esse procedimento na Grécia Antiga, conforme nos relata seu mais ilustre discípulo, Platão.

Nos meus tempos de adolescente, os professores usavam bastante esse recurso como arma pedagógica na escola que estudei. Benditos mestres! Após o estudo das matérias, tínhamos, invariavelmente, que responder a um bem-elaborado questionário a respeito do que havia sido estudado nas aulas.

Caso empacássemos em alguma questão, o jeito era voltar à leitura do texto em que o assunto havia sido exposto, mas com redobrada atenção. E... Eureka! Invariavelmente, lá estava a resposta, não raro escondida em alguma oração a que não havíamos dado a devida importância ao ler a matéria pela primeira vez. Quanto mais nos enroscávamos em alguma pergunta, melhor fixávamos na mente a respectiva resposta quando a encontrávamos.   

Confesso que devo a maior parte do meu aprendizado a esse método que, até por razões profissionais, adotei como norma no correr da minha vida profissional. Sou jornalista e, portanto, estou consciente que, numa entrevista, quanto mais inteligentes e profundas forem as questões que levantar, mais informações irei extrair do meu entrevistado e valorizar, dessa forma, a matéria que estiver escrevendo.

Muitos entrevistadores são relapsos e não se preparam devidamente para a tarefa. Conhecem pouco (ou nada) do assunto que foram encarregados de abordar com algum especialista da área e findam por descontentar a todo o mundo (principalmente ao seu editor, que fica, com toda razão, furioso com o repórter relaxado). Entre outras gafes, fazem perguntas fora do contexto, ou sobre questões já respondidas pelo entrevistado, ou aquelas óbvias, que até uma criança do Jardim da Infância não faria.

Muitos colegas de trabalho reclamam de determinados entrevistados, acusando-os de serem ou muito mal-humorados (no caso, o ex-treinador do São Paulo Futebol Clube, Muricy Ramalho), ou enfáticos e agressivos além da conta (como Wanderley Luxemburgo), ou sumamente vagos (como o técnico, Caio Junior). Todavia, será que já atentaram para as perguntas que fazem a essas personalidades? São de doer!

Fico imaginando esses repórteres tendo que cobrir a área de Ciências. Vou mais longe, imagino-os entrevistando Albert Einstein (quando este ainda estava vivo, óbvio). Suas matérias seriam, no mínimo, hilariantes. Provavelmente, seriam mais confusas do que a letra do célebre “Samba do Crioulo Doido”, com a qual o saudoso Sérgio Porto, que assinava suas colunas com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, tanto se divertia. 

O escritor Robert Louis Stevenson compara o método de questionamento a uma incontrolável avalanche, dessas que descem uma íngreme montanha, levando tudo de roldão.. Escreveu, em um de seus tantos romances: “Fazemos uma pergunta, e é como se empurrássemos uma pedra do alto do morro: lá vai a pedra empurrando outra”. É a esse espírito de insaciável curiosidade, de sábia e pertinente inquisição, que denomino de “inteligência”. Ou não é?!

  
Boa leitura!


O Editor.



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Um comentário:

  1. Nem todos têm paciência de seguir a norma de "para uma pergunta cretina, uma resposta cretina" e acabam sendo ríspidos. O repórter fica tão preocupado com a próxima pergunta que não ouve o que foi falado e dá vexame,fazendo papel de bobo, além de irritar o entrevistado.

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