Ambição
das ambições
* Por Pedro J.
Bondaczuk
O acúmulo de conhecimentos (e quanto
mais profundos e ecléticos melhor) é, sempre foi e sempre será uma fonte de
poder. Talvez não aquele político, que nasce da arte de fazer alianças, que
você talvez ambicione. E muito menos o militar, fruto de disciplina, respeito à
hierarquia e treinamento específico. O sábio, todavia, é poderoso, mais do que
as duas categorias citadas e, quiçá, que todas as outras.
Nenhum conhecimento é inútil, embora
determinadas informações sejam melhor aproveitadas, em sentido prático, do que
outras, ou sejam de uso imediato. Isso não quer dizer que as outras não servem
para nada. É bem como o povo diz: saber não ocupa lugar. E não ocupa mesmo.
Não importa se você seja um escritor,
mas decida aprender, por exemplo, princípios da matemática. Claro que nessa
atividade, você não irá usar esses conhecimentos. Se fossem noções de
gramática, aí sim a utilidade seria imediata. Mas nunca sabemos o dia de
amanhã. Aquilo que muitas vezes nos parece completamente inútil hoje, dias
depois pode ter uma utilidade imensa e
até assegurar o nosso sustento, quando não nosso sucesso como pessoas.
Aprender, contudo, exige método,
autodisciplina e, sobretudo, vontade e persistência, provavelmente igual (ou
mesmo até mais) do que ensinar. Muitos têm dificuldades de aprendizado por não
saberem se organizar. Querem estudar as lições do fim para o começo, ou do meio
para o final ou para o princípio, e findam por se embaralhar. Falta-lhes o
método.
Há também os que são metódicos, mas não
conseguem se concentrar num texto, num teorema, numa fórmula ou num postulado
da física. São dispersivos e, no momento do estudo, pensam em tudo, menos no
objeto do seu aprendizado. Não têm autodisciplina. E, sem ela...
Há, ainda, os que embora tendo método e
sendo autodisciplinados, encaram o aprendizado como uma chatice, como algo
penoso e sem graça, e não como deveriam encarar: ou seja, como uma aventura do
espírito, como uma descoberta, como um passeio prazeroso pelo mundo do conhecimento.
A muitos não falta nenhuma das
características citadas. São organizados mentalmente, têm autodisciplina,
sentem prazer de estudar, mas não são persistentes. Desistem do estudo ao
primeiro obstáculo que encontram, à primeira coisa que não entendam, em vez de
persistirem até obter o desejável entendimento.
Não há fórmulas exatas e infalíveis,
que funcionem em todos os casos e circunstâncias, e para todas as pessoas, que
as levem a adquirir conhecimentos de todas as áreas e disciplinas. Cada indivíduo
tem um caminho que para ele pode funcionar e já para outros pode não dar certo.
Há, por exemplo, os que utilizam o método mnemônico para decorar fórmulas de
matemática, física ou química e que se dão muito bem com isso. Outros, todavia,
não têm o mesmo sucesso com esse procedimento.
No meu caso, preciso entender o que
esteja estudando para que o conceito se fixe na memória. Não gosto de sair por
aí, como papagaio, repetindo coisas que não entendo o que sejam e para o que
sirvam. Em matemática (e em física também), por exemplo, prefiro deduzir as
fórmulas a utilizar, mediante o auxílio da lógica, ao invés de decorá-las. Para
mim, isso sempre funcionou. Não garanto, todavia, que se trate de regra geral e
infalível.
Quanto a textos, memorizo-os
escrevendo-os cinco, dez, cem vezes se necessário. Não faz muito, esse método
tinha o inconveniente de gastar muito papel. Hoje não. Escrevo o que quero
memorizar na tela do computador. E quando me dou conta... já estou repetindo
extensos poemas inteiros, sem errar uma só palavra.
Aprender, portanto, é uma arte. E que
arte! Tenho, desde menininho, insaciável sede de saber. Leio, leio e leio,
incansável e avidamente, todo o texto que me caia em mãos. Os livros que já li
passam da casa da dezena de milhar, sem nenhum exagero.
Não me contento com especializações,
embora, profissionalmente, tenha sido obrigado a me especializar. Contudo,
procuro ser eclético e aprender tanto as regras de qualquer esporte, por mais
exótico que pareça (ou, de fato, seja) quanto as leis da física e da biologia.
Tanto os dogmas das várias religiões, mesmo que não creia em nenhum deles,
quanto os valores eternos da moral e da ética. E vai por aí afora.
O escritor português, Casimiro Brito,
resumiu tudo isso que escrevi numa curta sentença, em seu livro “Arte da
Respiração”. Escreveu “Ambição suprema:
aprender a aprender”. Não há quem não a tenha, embora às vezes sequer se dê
conta. A minha, pelo menos, é, de fato, esta. E a sua, paciente leitor?
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Quero aprender tudo, pois tudo me interessa. Pena que a gente não retém tudo que precisa. É então o caso de aprender a aprender e principalmente não perder o aprendido.
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