terça-feira, 19 de julho de 2016

Concepção de Platão sobre a criação


As idéias de Platão (algumas delas, óbvio) tiveram muito mais influência sobre o pensamento ocidental do que hoje se admite. E não apenas no âmbito filosófico, mas também no científico (afinal, Filosofia é “a mãe” de todas as ciências), político e até religioso. Num de seus tantos diálogos, talvez o mais famoso, o “Timeu”, por exemplo, ele apresenta sua visão sobre a criação do mundo (que nada tinha a ver com a concepção moderna do “big bang”).

O astrônomo Johannes Kepler, no livro “Harmonices Mundi”, publicado no século XVI, que revolucionou a astronomia, chama a atenção para a similaridade entre a teoria platônica da criação do mundo com a descrição de Moisés, a esse propósito, no Gênesis, o primeiro livro da Bíblia. Escreveu: `` (...) O Timeu ...é ...um pequeno texto sobre o primeiro capítulo do Gênesis, ou do livro I de Moisés, transformando-o em filosofia Pitagórica, como é manifesto a quem o ler com atenção e o comparar constantemente com as próprias palavras de Moisés...''

Pergunto: quem influenciou quem nesse caso? Da minha parte, creio que nenhum dos dois. Houvesse, todavia, influência de alguém, até por questão cronológica, Platão teria sido influenciado por Moisés e jamais o contrário. Afinal, o filósofo grego viveu, aproximadamente, entre 428 e 348 a.C (ou em torno desse período, já que datas de épocas tão remotas não podem ser tomadas ao pé da letra, em virtude dos vários calendários que existiram), enquanto o líder judeu viveu na época do reinado do faraó Aquenatom (cerca de 1352-1338 a.C). Todavia, não acredito que, por mais bem informado que Platão tenha sido, chegou a ler o Pentateuco de Moisés. Mas... nunca se sabe. Essa é apenas uma convicção pessoal, exclusivamente minha. Todavia  não se pode deixar de dar razão à arguta observação de Johannes Kepler, ou seja, de que há admirável similaridade entre as concepções de Moisés e de Platão sobre a criação do mundo.

O filósofo grego afirmou, no “Timeu”, que “o mundo foi criado por uma divindade que, isenta de inveja... quis que, na medida do possível, todas as coisas lhe fossem semelhantes”. Inclusive (ou principalmente) o homem, destaco. E como Moisés se refere à criação do único animal inteligente da natureza? Afirma que ele foi criado “à imagem e semelhança de Deus”. Não há, é verdade, só similaridades nas concepções   “mosaicas” e “platônicas”, da criação. Há, também, diferenças, algumas sutis e outras ostensivas. Para Platão, por exemplo, o universo teria sido criado como “um animal dotado de alma e razão”. Já Moisés não faz qualquer referência a propósito. Kepler, todavia, escreveu, no livro que citei, restringindo sua opinião ao nosso Planeta: “o globo da Terra seria um corpo, como o de um animal”. Inspirado no Timeu, o astrônomo afirmou que nosso planetazinho azul teria, até mesmo, uma alma. E que, como todo ser vivo, respira. A respiração, no caso, seriam as marés, associadas aos movimentos da Lua e do Sol.

Platão justifica uma inteligência superior por trás da criação citando a esfericidade de planetas, satélites e estrelas como prova. Ou seja, com a “forma perfeita” que o criador utilizou, o que não poderia, no seu entender, ser obra do acaso. Escreveu, em determinado trecho do “Timeu”: “(...) Quanto à forma, concedeu-lhe a mais conveniente e natural. Ora, a forma mais conveniente ao animal que deveria conter em si mesmo todos os seres vivos, só poderia ser a que abrangesse todas as formas existentes. Por isso ele torneou o mundo em forma de esfera ...” E justificou porque a forma esférica seria dotada de virtudes tão especiais: “ (...) por estarem todas suas extremidades a igual distância do centro, é a mais perfeita das formas e mais semelhante a si mesma ...”

Para Platão, a criação da alma (imaterial) precedeu à do corpo (material). O filósofo concebeu seu Deus como sendo, antes e acima de tudo, um geômetra e complementou afirmando que os números e a matemática regem todas as coisas. Essa concepção, aliás, era a de Pitágoras, o mestre de Sócrates que, por sua vez, era seu mentor.  Platão escreveu, no diálogo “Timeu”: “(...) Concluída a composição da alma, de acordo com a mente de seu autor, organizou dentro dela o universo corpóreo e uniu ambos pelos respectivos centros. Então a alma entretecida em todo céu, do centro à extremidade, e envolvendo-o em círculo por fora, sempre a girar em torno de si mesma, inaugurou para sempre o começo de uma vida perpétua e inteligente. Assim formou-se, de uma parte, o corpo visível do céu, e da outra, a alma invisível, porém participante de razão e de harmonia, a melhor das coisas criadas pela natureza mais inteligente e eterna”. Voltarei, certamente, a esse fascinante tema.

Boa leitura.


O Editor.

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